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1784-F DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sido ainda submettidos á approvação do governo os estudos da ultima secção da linha. Do kilometro ... á fronteira, 29 de outubro de 1877. = H. de Macedo.»

Não será necessario lembrar á camara que ainda mais uma vez o praso dos quinze dias foi ultrapassado sem a conclusão de trabalhos, e que ainda mais uma vez appareceu novo officio do mesmo sr. Pinheiro Chagas, datado de 14 de novembro do mesmo anno, pedindo agora, já não os quinze dias que aliás não seriam todos precisos, mas tres mezes mais!

Tambem escuso do affirmar que ainda o mesmo complacente ministro o sr. Henrique de Macedo não só mais uma vez se conformou com a nova exigencia do ex-ministro da corôa mas até lembrou a conveniencia da companhia pedir praso maior e isto consignado no mesmo officio, datado de 8 de novembro, em que reconhece oficialmente que na parte construída pela companhia, note-se bem, não estava ainda assente a via em oito kilometros; que a linha não estava balastrada; que varias pontes e outras obras indispensáveis para que ella podesse ser aberta á circulação estavam ainda por concluir!...

Porque a companhia se contentou só com os tres mezes, foi-lhe logo de novo concedida pelo partido progressista mais esta prorogação, que ainda mais uma vez continuou a ser ludibriada pelos agentes inglezes até ao ponto da procuradoria geral da coroa, da sua consulta de 20 de dezembro, confessar, o que aliás era evidente, que o governo tinha sido demasiadamente benevolo e tolerante, sem proveito da causa publica, nas suas relações com a companhia!!

O que se passou de então para cá é do dominio de todos! Os abusos da companhia, o seu manifesto plano de complicar as nossas relações com o estrangeiro, e dar-lhe azo a conflictos futuros como esse que já motivou a arbitragem, forçaram o governo progressista, durante a gerencia do sr. Ressano Garcia, a rescindir definitivamente o maldito contrato por decreto de 25 de junho de 1889.

Foi este acto, já tardio, o único aliás de tantos outros anteriores, que manteve o prestigio de uma nação independente, pois quer a camara saber quem foi o primeiro a levantar-se contra elle?!

O ex-ministro da corôa o sr. Pinheiro Chagas, então presidente da direcção portugueza, que fazendo-se órgão e defensor de interesses já então desmascaradamente inglezes, e esquecendo a sua posição official anterior, de sociedade com os srs. Oliveira Martins e Antonio Candido, assignou o requerimento de 27 de janeiro de 1889, protestando contra o decreto da rescisão e pedindo a sua invalidação!...

Porque o governo progressista fosse então firme em manter a sua deliberação, única digna e patriotica de todas estas emaranhadas e illicitas transacções com os agentes inglezes, e porque caíssem sobre nós toda a casta de insultos e atrevimentos, parte dos quaes foi denunciada n'esta camara pelos oradores que me precederam, a direcção portugueza em vez de defender os nossos direitos e a nossa honra, deu a sua demissão e deixou só em campo a direcção ingleza que contratára com a companhia Delagoa Bay!...

Estava consummado o escandalo!

Nem o nome portuguez de caminho de ferro de Lourenço Marques já se mantinha.

Delagoa Bay é a companhia que hoje figura nas actuaes transacções e cuja rapacidade foi já em parte acceita pelo governo portuguez com o deposito nas mãos do governo britânico, o que motivou esta interpellação!...

Delagoa Bay é nome inglez para substituir a secular e historica denominação de bahia de Lourenço Marques!...

É a logica da exploração levada ás ultimas conclusões!...

Para defender os interesses de Portugal contra as machinações e roubos de agentes inglezes, o governo portuguez só se achou em frente de negociadores inglezes!...

Os grandes homens d'este paiz, que o serviram a contento da corôa, e que representavam a direcção e a companhia portugueza esses desappareceram como sombras exactamente quando o nosso direito e os nossos interesses estavão ameaçados e o sr. Hintze Ribeiro levanta-se hoje n'esta casa a escudar-se n'estas sombras que fogem, para justificar mais este seu acto de complacencia e submissão aos planos de Inglaterra em nos deprimir e espoliar!!

Não digo mais nada porque, alem de não ser preciso, o que já deixo dito é o bastante para significar perante o parlamento o meu modo de pensar e sentir sobre os funestos acontecimentos que derivaram do contrato com Mac-Murdo e que são a causa poderosa d'este incidente levantado pelo sr. Navarro, e tambem porque o meu silencio sobre muitos outros actos de que tenho conhecimento, é, nesta conjectura bem mais eloquente para os meus adversarios do que as minhas próprias palavras!...

Terminarei, srs. deputados, estas minhas já longas considerações fazendo votos para que, e quanto antes, seja trazido ao parlamento e convertido em lei um projecto sobre incompatibilidades dos nossos homens publicos que evite para este glorioso e infeliz Portugal vergonhas como estas que rapidamente esbocei e que estamos tão amargamente expiando!...

Tenho dito.