O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 10 DE JUNHO DE 1885 2203

que foi patrocinada por dois governos poderosos, o da Allemanha e o da França.
Discute-se, pergunta-se, se a iniciativa da conferencia partiu de nós como uma suggestão, ou com o caracter for mal de uma proposta; e se é verdade que para tomar tal iniciativa não consultámos a Inglaterra, quebrando assim um pacto que haviamos contraindo com essa nação.
Pergunta-se tudo isto e não se pensa que fosse ou não fosse a ideia seggerida por nós, era fatal desde que não davam resultado as negociações separadas com cada um dos estados que eram ou se diziam interessados.
Desde que se respondia a esses estados, que estávamos promptos para dar garantias a todos, e a cada um d'elles, qual era o meio de resolver este pleito internacional?
Dissemos a 28 de junho que nós queriamos como base do accordo com as potencias, o reconhecimento da justiça das nossas pretensões.
Não podiamos dizer do nosso direito, porque nos era contestado; queriamos que se reconhecesse a justiça da nossa causa, e que depois sobre essa base se discutissem os interesses d'aquelles que allegavam tel-os.
E como foi feita a conferencia?
Foi, como a Allemanha parecia indical-o, partindo da negação dos nossos direitos, prohibindo a extensão do nosso dominio, ou foi como nós pretendiamos?
Nem uma nem outra cousa. Houve uma nação que marcou o termo medio, a justa rasão, e que nos salvou nos transes mais difficeis. Foi a França, que manteve sempre para comnosco a mesma posição; se nunca nos deu o reconhecimento explicito que desejavamos, tambem nunca nos negou o nosso direito.
A França, mesmo quando, dava o celebre desmentido do sr. Duclére ao sr. visconde de Azevedo, não disse que negava o nosso direito; disse que o não confirmava.
Collocada n'este ponto de vista, que é o do governo francez, a politica da republica é sempre logica, legitima e natural, é sempre amiga nossa, mostra-se leal, nobre e desinteressada, como é ainda a politica da França. (Apoiados.)
O que fez ella? Viu que uma conferencia em que iam debater-se todos os direitos, era um perigo grave para aquelles que, embora tivessem por si a justiça, encontravam na sua frente a ambição insaciavel junta com a força, querendo abrir em proveito proprio os continentes desconhecidos.
O que fez pois? Affirmou que na conferencia não deviam discutir-se soberanias nem pôr-se limites a torritorios. N'essas condições discutiam-se apenas na conferencia interesses commerciaes, não se partindo nem do nosso direito como base, como nós queriamos, nem da negação d'esse direito, como a Allemanha parecia desejal-o. Se nós cedemos, cedeu tambem o chancelar.
Por este tempo o que fazia a nossa pobre diplomacia, que tão mal tratada tem sido? O que ella fazia dizem-n'o as notas do sr. Andrade Corvo, que negociava com o sr. Ferry; dizem-n'o os officios do sr. conde de S. Miguel, mostrando sempre a reciproca lealdade que existiu entre o nosso nosso paiz e a Hollanda: dil-o ainda depois a nossa correspondencia com a legação de Berlim.
A attitude dos governos em relação a Portugal era profundamente diversa da que se manifestava nos diversos paizes da Europa pela imprensa de todos elles. Estes governos, por intermedio dos seus diplomatas, e por declarações feitas aos nossoa representantes, conservavam-se hostis á nossa iccupação, com prejuizo dos seus direitos adquiridos e do seu commercio; mas, negação e completa para com os nossos direitos, só tivemos da Allemanha, e d'essa mesma não houve para comnosco, como para com a Gran-Bretanha, documento escripto.
Ao mesmo tempo que isto se dava, o que viamos nós na imprensa por toda a parte?! A calumnia constante, as accusações mais loucas, as mais immerecidas; quem as lesse não via em Portugal senão uma horda de selvagens, e nas nossas colonias um bando de malfeitores que se lançavam sobre o commercio de todo o mundo procurando roubal-o e arrancar-lhe violentamente tudo quanto podia; a mais profunda inepcia na nossa administração, um systema barbaro e impossivel de alfandegas; os nossos descobridores nada haviam feito; a nossa influencia em Africa, desconhecida; eis o que elles diziam, eis o que dizia Stanley, fazendo-o ao mesmo tempo espalhar em todos os jornaes do mundo. E porque?! Porque havia quem se interessasse n'isto, porque havia milhões compromettidos n'uma obra contraria ao dominio portuguez, e sabia-se sacrificar uma parte d'esses milhões para ganhar o triumpho appetecido da causa em que elles se empenhavam.
Esta campanha para nós era insustentavel, não tinhamos força para luctar com quem dispunha de tantos cabedaes, e confiavamos apenas em que a verdade havia de ter sempre rasão.
Ao mesmo tempo que a imprensa politica de toda a parte nos atacava, nós defendiam'a-nos junto dos gabinetes e pediamos constantemente que não desem inteira crença ao que os jornaes propalavam por toda a parte, Foi isto o que fez a nossa diplomacia. Se foi muito, se foi pouco, se foi o seu dever, não o digo eu, deve dizel-o a camara.
E depois, precisamnete n'este momento, e é esta uma nota triste que não posso deixar de referir, porque é preciso dizer a verdade toda, confessar mesmo todos os erros, para não voltarmos a pratical-os; muitos dos jornaes que nos calumniavam, muitas das accusações que nos faziam fundavam se n'outras accusações que tinham sido feitas aqui, repetiam-se trechos de jornaes que em Portugal se occupam de interesses coloniaes, para se affirmar que a nossa adminsitração ultramarina era detestavel e que eramos incapazes e indignos de possuir os territorios que pretendiamos occupar. (Apoiados.)
Para mais completo fundamento acharem nas suas calumnias recorriam a plrases menos pensadas que se haviam proferido n'esta casa ou fóra d'ella. Eu creio que as intenções com que essas plrases se proferiram eram patrioticas.
O sr. Ferreira de Almeida: - Não esqueça s. exa. os escriptos, tanto de um membro do governo como de outro da conferencia que fundamentaram as asserções feitas sobre os factos gravissimos que aqui se apreciaram.
O orador: - Não me compete averiguar quaes são as culpas de cada um.
A consciencia lhes dirá quem as tem. Quem as não tiver lamentará que outras fizessem o mal, e quem as tiver pensará que mais vale não dizer tudo, do que dizel-o, quando d'isso resulta inconveniente para os interesses legitimos do paiz. (Apoiados.)
Eu não podia deixar de vir narrarto da a verdade. Era preciso que eu dissesse, e é justo que se diga, que havia um certo fundamento nas accusações que se nos faziam, fundamento que embora não fosse verdadeiro, nascêra todavia no paiz, e d'ahi provinha a força que elle tinha; porque se dizia que o proprio paiz não se interessa: a tanto n'esta questão do Zaire, quanto o allegava o nosso governo.
Suppunha-se e affirmava-se que havia em Portugal uma corrente contraria á acquisção d'aquelle territorio, e dizia-se que era esta uma campanha mais politica do que nacional em que os nossos brios, a nossa honra e o nosso decoro nada tinham que ver com a acquisição de mais aquelles palmos de terreno.
Esta situação falsa em que a opinião publica estava, era mais uma difficuldade com que nós luctavamos ao abrir-se a conferencia de Berlim.
Tendo de narrar todas as difficuldades que encontrámos, não podia esquecer aquella a que me referi ha pouco; mas não o fiz com o desejo de lançar sobre qualquer pessoa a mais pequena accusação, fil-o para commemorar o facto.
Não adduzirei provas, nem traducções dos nossos periodicos, não direi mesmo o nome de um só jornal que

105 *