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2210 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

o imperador negava-se a acceital-a, e o principe de Bismarck teimava em pedir ao reichstag um credito para adquirir a primeira colónia que pensou fundar para a grande patria germanica.
Abramos o volume de 1880 do sr. André Daniel, a pagina 181, e passemos a ler o commentario destes factos:
«Sabe-se o desejo que o sr. de Bismarck teve sempre de assegurar á Allemanha um império colonial, para desviar para uma terra allemã a corrente da emigração que actualmente vae para os Estados Unidos. Para este fim, o chanceller pensou em constituir uma sociedade para retomar os estabelecimentos fundados nas ilhas Samoa (Polynesia) por uma casa de Hamburgo que tinha fallido; pedia para este effeito ao reichstag a garantia de 300,000 marcos de juros. O principe de Hohenlohe fez a sua estreia como vice-chanceller na discussão deste projecto; o melhor argumento por elle encontrado foi o seguinte: «É necessario evitar o fazer opposição ao chanceller no terreno da politica estrangeira; em similhante materia, é o chanceller quem sempre tem tido as vistas mais sagazes; espantou o inundo pela grandeza dos resultados obtidos. Uma opposição ao principe de Bismarck, em similhante assumpto, não teria nenhum successo. A nação não comprehenderia que se podesse destruir um plano como este de que se trata, por mesquinhas considerações financeiras.»
Aqui está o que o vice-chanceller, o principe de Hohenlohe, em abril de 1880, dizia ao reichstag!
Em junho, pois, de ha cinco annos, já a Allemanha official pensava em colonias. Demonstram-o, claramente, os trechos que li n'estes livros, ao alcance de todos, que póde alguem desconhecer, mas cujos factos são vedados ignorar aos homens que têem o encargo de dirigir as relações internacionaes de um paiz.
E, homenagens de grande respeito e admiração é necessario tributar, mais uma vez, ao chanceller, que depois de factos e declarações publicas doesta ordem, consegue illudir os representantes das nações, acreditados junto do velho imperador da Allemanha! Ah! como julgar aquelle sagaz diplomata, coberto de louros na sua longa e provada carreira, Lord Amphtil, intimo do principe de Bismarck, com quem se tratava por tu, que ha pouco nos descreveu o meu amigo o sr. Carlos du Bocage, quando informava o seu governo, que havia de facto uma corrente em favor do estabelecimento de colónias allemãs, mas que o chanceller a não apoiava?!
A verdade, sr. presidente, é que essa corrente era, ha tempos, habilmente explorada e instigada occultamente pelo chanceller, e que elle esperava o momento de intervir, fingindo-se impulsionado por ella, em vez de incitador d'esse movimento. A verdade é que, desde 1880, se sabia não só que o principe de Bismarck, pensava em conseguir colónias para a Allemanha, mas sabia-se tambem qual a rasão que a isso o determinava. Essa rasão era o desejo de desviar para um terra allemã acorrente de emigração que aunualmente se dirigia para paizes estrangeiros.
Eu vou ainda servir-me doutro livro que lança inteira luz n'esta questão. E um livro escripto em allemão, publicado em Gotha em 1879 pelo dr. Fabri, um missionario allemão, e mais do que isso, um distincto homem de sciencia, ao par da moderna orientação das sciencias sociaes no seu paiz. Intitula-se este livro: Precisa a Allemanha ter colonias? Uma observação politico-economica.
No prefacio diz o seu illustre auctor que é enthusiasta das idéas de Roscher, que em 1856 escreveu um livro sobre colonias tratando da politica colonial e da emigração; que pretende fazer reviver a opinião d'esse escriptor, por uma fórma ao alcance do vulgo, estudando a questão em face do estado economico e social do imperio allemão; que ha dez annos pensava em fazer esta publicação, mas que entendeu que devia viajar primeiro, observar e esperar a opportunidade de espalhar na Allemanha as suas idéas; que, emfim, vem juntar o seu trabalho aos trabalhos de Moldenhauer e Hubbe-Schleiden.
Eu sou forçado, ainda que contra a minha vontade, a fatigar a camara com longas leituras. Espero que a camara terá a indulgencia de me perdoar.
É justo, porém, que supra a falta dos meus meritos com a auctoridade dos outros.
Alem de que, a camara comprehenderá facilmente pela simples leitura da indicação dos assumptos, que o dr. Fabri trata nos seis capitulos do seu methodico livro, todo o valor d'esta obra:
«Capitulo I Como a questão das colónias é propria do nosso tempo em relação á nossa situação agricola, á crise aduaneira e á nossa politica commercial.
«Capitulo II O desenvolvimento da nossa marinha de guerra e as nossas associações geographicas. Todo o estado poderoso tem necessidade de ter colonias. A significação agricola e nacional da emigração allemã. O augmento rapido da população na Allemanha. Necessidade de uma organisação e direcção da emigração.
«Capitulo 3.° As colonias commerciaes. Seu caracter fundamental. O methodo de as preparar e de as administrar. O seu valor agrícola e nacional. Applicação á Allemanha.
«Capitulo 4.° Objecções contra a política colonial allemã. Necessidade de uma influencia energica da opinião publica.
«Capitulo 5.° Aonde se encontrarão hoje colónias para a Allemanha? Colonias penaes? Colonias agricolas? O sul e o meio dia da America meridional. O sul do Brazil. Convenções com differentes estados da America relativas á emigração ai lema. Estado embaraçoso em que se acha a Allemanha em virtude do augmento da população (note a camara) para encontrar e adquirir colonias. Escolas, militarismo, e socialismo democratico.»
Finalmente:
«Capitulo 6.° Procura de territórios para as colonias commerciaes. As ilhas de Samôa. Abertura da Africa central ao commercio e a sua importancia. Antecedentes e vistas da Inglaterra. Importancia das missões. Emprehendimentos commerciaes allemães na Africa central. Convenção das potencias para a neutralisação do interior da Africa (!!!) Occasiões futuras., etc., etc.»
Eis aqui compendiada toda a questão social e colonial da Allemanha dos nossos dias. Eis aqui, o estudo do problema colonial de um povo que aspira, quasi desde o meado do corrente seculo, a crear colonias para si, obrigado pelo império das necessidades sociaes. Eis aqui factos que provam como a agitação colonial na Allemanha era intensa e devia attrahir a attenção de todos os estudiosos e de todos aquelles que têem responsabilidades politicas!
É impossivel ainda furtar-me a ler a traducção de uns trechos de dois capitulos d'este livro que dizem respeito aos pontoa que frisei na leitura do indice.
No capitulo 2.°, capitulo que tem dados estatísticos de um grande valor e que encerra considerações importantes sobre a emigração, sobre o pauperismo e sobre augmento da população, lê-se a pag. 15 o seguinte:
«É extraordinario que um paiz que actualmente na Europa tem a maior força de expansão, isto é, que teve o mais rapido augmento de população e como resultado disso a maior emigração, que tanto pelas qualidades do seu caracter nacional tem, talvez, a importante faculdade colonisadora mais desenvolvida, esteja sem possuir colonias. Se exceptuarmos a emigração irlandeza para os Estados Unidos que tem origem em causas especiaes, alguma das quaes já desapparecidas; a Allemanha apresenta n'este seculo o maior numero de emigrantes.
«Calcula-se que o seu numero n'estes ultimos cincoenta annos se elevou a 4.000:000 de almas. Moldenhaeur no seu livro sobre o systhema de colonias e de emigrações