1892-D DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ficos lhes não fornecem, em trabalhos topographicos. Por exemplo, os alferes graduados, cuja critica situação mais uma vez reconheço, seriam adequadamente empregados n'essa commissão, auferindo por isso mais alguns lucros do que os que hoje auferem, e com proveito do serviço publico. (Apoiados.)
Mas precisamente porque este projecto não pôde ser, em boa rasão, impugnado, dorme e continuará dormindo no seio da commissão de guerra, de onde ninguem logrará resgatal-o este anno, pelo menos. Tem a sorte dos outros e ha de como elles experimentar os effeitos do narcotico que a preclara commissão incute a tudo e a todos que se lhe approximam, a começar por ella propria (Apoiados.)
E concluidas as reflexões que eu entendi dever fazer com relação aos projectos que tive a honra de assignar, de novo vou respigar no discurso da corôa, em que se lê este precioso periodo:
«A organisação das reservas e a diffusão do ensino no exercito mereceu tambem ao governo attenção especial.»
Pelo que respeita ás reservas ninguem pôde pintar melhor o quadro da tristissima situação em que ellas se encontram do que fez o sr. Avellar Machado. (Apoiados.)
Cada reservista tem uma caderneta, (Riso.) e nada mais! Para fazer a guerra, para que os reservistas se adestrem no uso das armas, afigura-se-me muito pouco o emprego d'este novo instrumento bellico. (Riso.) Não ha inimigo possivel para ser vencido a golpes de caderneta, (Riso) E todavia é esta a situação em que estão as reservas, sem proveito para ninguem, e apenas com bastantes incommodos e sacrificios para os cidadãos que d'ellas fazem parte. (Apoiados.)
Pois o ensino e a instrucção das praças em effectivo serviço, estão no mesmo nivel, como vou mostrar.
Esta questão da carencia de instrucção na força armada está de tal modo arreigada no espirito publico, as causas que a determinam são tão conhecidas, que ainda ha poucos dias um jornal d'esta cidade, e dos mais imparciaes, assegurava com bons fundamentos que a falta da instrucção provinha em grande parte do abuso que se faz da papelada. As questões mais simples demandam uma accumulação tal de papeis e de documentos, que aos sargentos pouco tempo sobra para se empregarem em se instruirem, e em instruirem os seus subordinados, o que seria mais util, essencialmente mais proveitoso.
E longe de se procurar remediar este mal, timbra-se em aggraval-o de dia para dia. É verdade que em presença de os reservistas estarem exclusivamente armados com as suas cadernetas, o coherente seria armar com os mesmos ou quaesquer outros papeis mavorticos as forças em activo serviço. (Riso.) A uniformidade então seria completa. (Apoiados.)
A difficuldade, a havel-a, residiria apenas na escolha a fazer, entre a papelada, tanta ella é, com os seus duplica dos, e até com triplicados. (Apoiados.) Estes, os documentos triplicados, devem ser os mais mortiferos, principalmente para quem os escreve. (Riso.) Como soporifero, pelo menos, não devem receiar competencias. (Apoiados)
O que é, porem certo, é que se gasta em expediente, em cada regimento mais de 200$000 réis annuaes. Isto pareceria simplesmente phantastico, se não se soubesse quanto estão identificadas com a orientação que predomina nas altas regiões do poder, as nocivas phantasias burocraticas. (Apoiados.)
Mas não é só a papelada que embaraça a instrucção do exercito.
Imagine v. exa., sr. presidente, que aos soldados, sargentos ou officiaes que desejem esclarecer-se sobre geographia, é-lhes proporcionado para esse fim um luminoso mappa, como se vae ver, pelo que respeita a Portugal e Hespanha.
N'esse mappa ou carta geographica, não ha traço caracteristico ou divisoria entre os dois paizes; figurando n'elle Portugal como uma humilde provincia hespanhola! Parece incrivel, mas é exacto.
Alem d'isto, as margens d'este mesmo mappa estão enfeitadas com a copia, colorida, dos uniformes dos soldados hespanhoes e com as insignias das ordens militares, tambem hespanholas.
Póde-se imaginar que haja producção mais retintamente iberica? (Apoiados.) Pois foi este o mappa anciosamente adquirido em Portugal e distribuido pelas secretarias militares!
Em presença d'este facto inaudito, que tão profundamente ataca os brios nacionaes, eu convido o illustre ministro da guerra, não a mandar retirar os mappas de onde estão expostos, mas a mandal-os queimar ou destruir por outro qualquer processo.
Eu quero crer que s. exa. não examinou estes padrões, para nós de ignominia, antes de dar ordem para que os adquirissem, porque, se os tivesse examinado, s. exa. não deveria ter permittido que se fizesse uma aquisição d'aquellas, que está vexando e envergonhando todo o portuguez que d'ella tenha conhecimento, e porventura induzindo em erros perniciosos os individuos menos cultos, que quotidianamente deparam com esses indecorosos quadros, affixados nas secretarias militares. (Apoiados.)
Eu que me prezo de ser anti-iberico intransigente, por convicção e por tradição de familia, com o que muito me honro, creio que não haverá n'esta casa uma só vez que se faça ouvir em defeza da compra desastrada que motivou as vehementes observações que tenho feito. (Muitos apoiados.)
Na minha intransigencia, está a justificação do que tenho dito, e ainda do que vou dizer, embora a minha rude franqueza e a fórma calorosa como me expressei não estejam pautadas pela reserva e attenções diplomaticas, que, bom é frisal-o, não tenho, pela minha posição, que manter nem respeitar. (Apoiados.)
Ainda no anno passado, occupando-me de assumptos relativos á pasta da guerra, eu punha em relevo os progressos que nos ultimos annos o vizinho reino tem feito, sob o ponto de vista militar.
Hoje cumpre-me acrescentar que esses progressos continuam, e em larga escala. (Apoiados.)
A acquisição de importante e aperfeiçoado material de guerra, os melhoramentos dispendiosos com que se tem dotado a defeza das costas, o augmento consideravel da marinha, a insistencia com que os ultimos ministros da guerra se têem empenhado em reformar radicalmente o exercito, que, diga-se de passagem, tem, por medidas isoladas, experimentado já salutar transformação, relativamente ao que era depois da ultima campanha carlista, tudo emfim dá a conhecer que a Hespanha aproveita o tempo de paz que tem desfructado, para augmentar o seu poderio, para se collocar era situação de poder aspirar á realisação dos seus ideaes, os quaes são bem conhecidos. (Apoiados.)
Gibraltar, Marrocos e Portugal, constituem o alvo a que visam as suas ambições.
Por vezes o têem declarado os jornaes madrilenos, que actualmente estão mais circumspectos, o que não nos deve deixar entregar a uma despreoccupada confiança, que nos podia ser em todo o ponto prejudicial ou funesta.
Pelo contrario, no meu entender, menos havia a receiar quando essa nação estava fraca e garrula, do que hoje que rapidamente se retempera dos revezes. soffridos e que só apresenta reservada. (Apoiados.)
De então para cá nenhuma manifestação tem havido que mostre que ella desistiu das suas aspirações de todos os tempos.
Então aproveitava as festas mais solemnes, como a do centenario de Caldoron, para fazer propaganda iberica, e até falseava a historia para nos humilhar.
Tenha-se presente, por exemplo, como Portugal figura no