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2240 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

A alliança imgleza impunha-se naturalmente, ao sr. Corvo pela sua tradicção. Não é, de certo, dado ás nações pequenas escolherem a seu talante, as allianças que devem contrahir a bem da governação publica. A alliança colonial com a Inglaterra tinha a seu favor alem das campanhas que com ella fizemos contra a escravatura, depois do tratado de 1842, a vizinhança que com as colonias d'aquella nação temos na Africa, na India, e em quasi todas as partes onde possuimos colonias.
E foi de facto esta ultima consideração que serviu de base a muitos dos actos politicos do sr. Corvo, que talvez menos elevadamente comprehendidos ou mais apaixonadamente apreciados, cairam em descredito, mallogrando-se porventura medidas de grande alcance no sentido de nos per imitir expandir n'outros pontos com maior e mais seguro resultado.
A provincia de Angola, a mais rica e a mais util das nossas colonias, não tinha então ao norte a vizinhança de nenhuma colónia importante.
O Gabão se era uma colonia, era uma colonia insignificante. O Gabão era verdadeiramente um estabelecimento dependente do ministerio da marinha, destinado ao fornecimento de viveres e de carvão para a esquadra franceza da costa occidental. Foi com este pensamento que o official de marinha, que depois foi o almirante Bouet-Willaumez o occupou em 1841.
Em 1873 a França, por já não haver necessidade de um cruzeiro effectivo e porque a invasão de uma tribu negra, de menos noa indole do que os gabonezes, os pahouins, desenquietava a tranquillidade d'aquelle estabelecimento, pensou em abandonal-o. Mas esse abandono não se realisou e para isso contribuiu o percorrerrem a esse tempo o marquez de Compiègne e Alfredo Marche o Ogooné, enthusiasmados pelas explorações de um dos mais celebres via jantes d'Africa equatorial, Duchaillu cujos trabalhos foram de grande utilidade para o dr. Letournou no seu bello livro A socialogia segundo a ethnographia na idéa de abrirem por esta parte de Africa caminho para os lagos do interior descobertos por Livingstone.
Foi acertada a resolução da Franca. Ao marquez de Compiègne e Alfredo Marche seguiram-se o dr. Ballay e o sr. de Brazza; o sobre os tratados feitos por este viajan e as descobertas de todos, planeou a França a sua nova e vasta colonia.
Se, como digo, ao norte de Angola não havia colonia que entestasse, comnosco e a Inglaterra era aluada antiga e vizinha colonial, a alliança ingleza foi com sobeja rasão acceita pelo sr. Andrade Corvo como base de toda a politica colonial portugueza.
Succedeu, porém que a poucos passos d'esta politica, que tem também erros de negociações, o partido regenerador é ainda quem vem destruir esta parte do plano do sr. Andrade Corvo. E, n'este capitulo tem culpas; e graves culpas, o sr. Pinheiro Chagas, que poz ao serviço da guerra feita ao tratado do Lourenço Marques, depois de melhorado, as opulencias da sua rethorica, então bem pouco patriotica. Por esta fórma se enfraqueceu, se não se quebrou a alliança ingleza.
Foram interesses de muitas ordens os que levaram a Inglaterra a tratar comnosco pela maneira porque o fez e a proceder como procedeu na conferencia de Berlim; mas não é desrasoavel suppor que nem o sr. Gladstone nem o conde de Granville podessem esquecer, em 1884 e 1885, a deslealdade internacional, que Portugal praticou para com aquelle paiz rasgando um tratado já depois de assignado. (Apoiados.)
E classifico de deslealdade indecorosa a guerra movida contra o tratado de Lourenço Marques pelo partido regenerador, guerra que estorvou a rectificação do tratado, porque assim me auctorisou hontem o sr. Carlos du Bocage.
Defendendo o governo, dizia s. exa.: «Que queria a camara? Queria que o governo portuguez depois de ter assignado o tratado de 20 de fevereiro o rasgasse? Não. Isso não era digno».
Eu estava vendo o distincto orador sentir-se mais inspirado n'aquelle momento pelos sentimentos filiaes, pela nobre e justa confiança na honra de seu pae, do que nos sentimentos politicos; porque de outra forma sabia, que fallando assim, era cruel para com o seu partido e para com os ministros que se sentam ao lado do illustre ministro dos negócios estrangeiros.
Ninguem, tambem, pediu ao partido regenerador que rasgasse o tratado de 26 de fevereiro de 1884, censuramos apenas o governo pelo haver celebrado.
De resto isto é ainda liquidar responsabilidades. (Apoiados.)
As missões das obras publicas provaram que a organisação absorvente da secretaria do ultramar impede actualmente todo o progredimento das nossas colónias, e não lhe permitte conhecer as verdadeiras necessidades da administração colonial; as missões de obras publicas mostraram que é necessario dar ás administrações locaes no ultramar uma iniciativa que não têem; as missões de obras publicas provaram ainda que os governadores do ultramar devem ser da confiança dos ministros, e que os ministros os devem ouvir, antes de traçar e phantasiar planos no reino, com a attenção que se deve aos homens que sacrificam a sua vida, luctando dia a dia com enormes difficuldades.
As suas indicações serão sempre mais praticas do que a utopia de muitos, que aqui estão cheios de nobres aspirações e de idéas concebidas entre as commodidades, que cada um terá na sua casa e na sua patria, sem saberem muitas vezos o que são as colonias, confundindo a África tropical com os Estados Unidos, com a Nova Orleans, com a Australia; e julgando a todo o momento fazer a civilisação do negro, com uma facilidade verdadeiramente miraculosa, ou povoar os tropicos africanos com correntes de emigração de europeus pobres, sem recursos e sem a comprehensão do meio que vão habitar.
Ora tanto a civilisação das raças negras, como a colonisação europêa na Africa central, são problemas na sciencia de resolução muita duvidosa.
O sr. Carlos du Bocage: - Apoiado.
O Orador: - Posto isto pergunto eu agora: depois da conferencia de Berlim, acabou para nós a alliança com a Inglaterra? Não. Isto é, não quero por forma alguma que o governo se levante e me responda que a alliança portugueza com a Inglaterra terminou. Não quero, somos um povo brioso, nobre e livre, mas porque somos pequenos carecemos das boas relações de amisade de todas as potencias. Eu desejo que Portugal continue a viver amigavelmente com a Inglaterra; mas desejo que o governo diga que o procedimento da França na questão do Zaire, e os bons serviços que nos prestou na conferencia de Berlim merecem a nossa gratidão, e que elles são de ordem a fomentar uma alliança colonial. Façamos com a Franca uma boa politica de vizinhança, porque temos com ella interesses communs. (Apoiados.)
Disse o meu illustre collega o sr. Carlos du Bocage, a quem apesar de me estar cabendo a honra de responder, frequentes vezes me encontro partilhando as suas idéas, e disse muito bem, que o que tinha approximado a vencida de Sédan da conquistadora da Alsacia e Lorena não fôra a pequena questão do Congo, porque embora esta questão tenha muita importancia, era comtudo insignificante para conciliar estas duas nações contra a Inglaterra.
Tem s. exa. uma certa rasão. A alliança franceza com a Allemanha fez-se obedecendo a uma superior ordem de considerações, sem que comtudo a questão do Congo se ache afastada das circumstancias geraes que a determinaram. A alliança da França com a Allemanha vem da questão do oriente; vem da questão do Egypto; vem da questão do