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SESSÃO DE 11 DE JUNHO DE 1885 2247

e que por dizer assim preparavam o nosso regresso á gloriosa campanha, onde marcaramos valentemente os primeiros estadios.
Lembro-me de ter assistido, de uma d'aquellas tribunas, á memoravel sessão em que o verbo poderoso e scientiticamente eloquente do sr. Andrade Corvo, tomando por pretexto as affirmações do illustre official inglez, levantava viva e impavida, a nossa tradição gloriosa, a nossa aptidão singular de primeiros exploradores e de primeiros civilisadores do continente negro.
Houve, porém, uma nota curiosa, que não me esqueceu tambem, e que recordo agora como advertencia, que não deixou infelizmente, de ser necessaria ainda...
Vozes: - Diga, diga...
O Orador: - Entre os traficantes pseudo-portuguezes, de escravos, que o sr. Cameron encontrára e citava, alguns d'elles verdadeiros selvagens nativos, - havia um de quem elle dizia que era filho de um major Coimbra, que exercera funcções judiciaes, como delegado do governo portuguez no Bihé.
E então o illustre orador e ministro, repellindo nobremente, na explosão de um justo e indignado patriotismo, esta mesma approximação casual e insignificativa do nome portuguez com a traficancia negreira, empenhava sinceramente, na melhor boa fé, a sua palavra de honra de que no ministerio do ultramar não se havia encontrado vestigios da existencia de similhante major e de similhante delegado da nossa administração colonial.
Devia ter sido um engano, uma mystificação, talvez uma calumnia, aquelle major Coimbra.
E não era.
O major existíra, e se as cousas estivessem organisal-as como deviam estar, e como não está, o ministro, que não é quem ha de compulsar os archivos e os registros, não teria sido induzido áquelle lapso, que nos poderá ter suggerido suspeitas e recriminações desagradaveis, quando mais nos importava valorisar por uma perfeita exactidão de factos as nossas allegações briosas.
O major de segunda linha Francisco José Coimbra, pae do Cuarumba, ou Lourenço de Sousa Coimbra, de Cameron, fôra realmente chefe do Bihé, como outros o haviam sido, antes d'elle, era-o no tempo de Graça, deixou ali descendencia ainda hoje conhecida, e exercêra realmente as funcções alludidas pelo explorador inglez, até no dizer de Botelho, se bem me lembro, com uma grande simplicidade: por nomeação governativa, é claro, mas em seu proprio proveito, apenas.
E fosse como fosse, representava em todo caso uma tradição de dominio, que não convém desdenhar.
D'isto teria o ministerio do ultramar instruido e informado o ministro, se estivesse organisado e dotado como devêra, - como officina ou como laboratorio correspondente á gerencia de um dominio colonial tão vasto, importante e antigo.
Cito este facto e poderá citar muitos.
Não censuro ninguem: - é claro. Lembro uma necessidade apenas.
Mas, emfim, o ruido feito pelas revelações de Cameron teve, para nós, manifestamente uma certa vantagem.
Começou-se a ensaiar a idéa, - timidamente, com uma certa hesitação e receio, a principio, - de enviarmos tambem á Africa interior, uma expedição portuguesa de exploração scientitica; de reentrarmos, por nossa couta, também, na concorrencia crescente do estudo e reconhecimento directo e seguro d'aquellas interessantes formações hydrographicas da grande planura central do continente negro.
Segundo alguns, porém, cumpria-nos preparar e organisar primeiro, um certo tirocinio; houve até quem numa importante corporação de Lisboa, lembrasse que nos limitassemos de começo a pedir a aggregado de algum aprendiz do explorador a qualquer expedição ingleza, nova, - como se o tempo nos sobejasse ainda, e nos faltassem as aptidões e as dedicações proficientes e valorosas, para continuar, honradamente, a par com os melhores pioneiros do tempo, a nossa larga e forte tradição, - nunca perdida, - de exploradores africanos! (Apoiados.)
Toda esta historia summaria poderá parecer inconveniente.
Mas é que eu penso, que no assumpto, nunca foi mais do que agora opportuna e proveitosa, a verdade inteira e leal.
A iniciativa poderosa e educada do sr. Andrade Corvo fundara a commissão central permanente de geographia, justamente desconfiada e receiosa das tardanças e fraquezas da iniciativa particular entre nós; esta, porém, vingára-se d'esta vez do receio, com uma certa petulancia auspiciosa e feliz, antecedendo a previdencia governativa, ou caminhando parallelamente com ella, na formação e no rapido desenvolvimento d'aquelle grupo de cidadãos a que alludi atraz, e que me honro de citar agora e muitas vezes n'esta questão, onde elle precisamente conquistou e manteve um logar de benemerência incontestavel. (Muitos apoiados.)
Fundada em 1875, quando Cameron chegava á Europa e Stanley se adiantava pelos sertões africanos, na sua colossal exploração, a sociedade de geographia poz desde logo os olhos no movimento que para alem das fronteiras se desdobrava, deslumbrante e ameaçador ao mesmo tempo, para nós, e a questão do Zaire, e a nossa adhesão áquelle movimento, e a propaganda da nossa regeneração colonial, e a affirmação das nossas tradicções e direitos ultramarinos, foram os seus primeiros cuidados e os seus primeiros impulsos. (Apoiados.)
Veiu a conferencia de Bruxelas; causára no paiz uma natural e desagradavel surpreza o facto de não nos terem convidado e ouvido, e esse sentimento encontrou na sociedade, não sómente a sua expressão, mas o seu desagravo.
E ha de ver-se, que não se alimentavam illusões ingenuas, nem se recuava diante da affirmação positiva dos perigos e ameaças que para nós só continham, latentes, na phase nova da questão africanista.
Prova-o, entre muitos, um documento que tenho aqui, datado de 30 de novembro de 1870, e de que foi relator um illustre membro d'esta camara, e um dos primeiros e mais distinctos membros da sociedade.
Esboçando a traços proficientes e firmes, - porque hei de fazer justiça a todos, ainda áquelles de quem posso lamentar que a não tenha sempre merecido, - esboçando a largos traços, proficientes, as relações respectivas e reciprocas da moderna exploração africana, e dos interesses e tradições dos nossos vastos dominios n'aquelle continente, o sr. Henrique de Barros Gomes dizia n'esse documento, cujas conclusões, e posso dizer cujas afirmações, por inteiro, eram approvadas unanimemente pela assembléa:
«Mas, para nada serve reclamar um direito, quando nenhum uso se f az ou se pretende fazer d'elle, e nesse sentido, o que mais importa, é affirmar por factos essa soberania, salvo a fazer valer os argumentos que provam o nosso direito, quando a legitimidade d'esses factos seja effectivamente contestada...
«Direitos reservados é que se não comprehendem facilmente no seculo XIX, quando a força de expansão da população, do commercio e da industria, assume proporções que a historia ainda não registára.
«Tudo quanto n'aquellas regiões tenda, portanto, a provar a nossa vitalidade, não só politica e militar, mas ainda muito particularmente scientifica, tem, pois, no momento actual, um valor e uma significação, que é inutil encarecer.»
Não é isto muito bem pensado, e muito bem dito, tambem?
«Para nada serve reclamar um direito quando nenhum uso se faz d'elle... Direitos reservados é que não se comprehendem facilmente...»
Não se comprehendiam já em 1876. E ha de ser um de-