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1854 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

deputado não quer que eu me defenda? Quer tirar-me a1 a palavra? Realmente é tyrannia de mais.

Portanto, digo ou, o que o illustre deputado disse é uma opinião que me póde ferir pessoalmente...

O sr. José Maria de Alpoim: - Eu não me refiro pessoalmente a s. exa. refiro-me ao ministro da marinha.

O Orador: - Mas é uma opinião que não assenta sobre um facto preciso e categorico, a que ou tenha do responder. Eu não tenho que refutar opiniões; tenho que refutar accusações fundadas em rasões, em factos; e o que o illustre deputado disse significa apenas uma opinião, que não se funda sem facto algum. (Apoiados.) Creiam os illustres deputados que eu sustento hoje as mesmas opiniões que sustentei sempre; e quando chegar a occasião opportuna, eu mostrarei o que são as taes contradicções... (Interrupções.)

Mas deixemos essa questão, que não é para agora. O illustre deputado disse que eu tinha feito justiça tardia a João Coutinho. Eu fiz-lhe justiça quando tive conhecimento dos factos, exactamente como elles tiveram logar.

Soube-os no dia 26 de agosto, por um telegramma, e logo no dia 28 fiz justiça a esse official.

O sr. José Maria de Alpoim: - Então não o accusasse.

O Orador: - Se o accusei foi em vista de informações que então recebi. Accusei o quando devia accusar, porque as informações me levavam a isso. Hoje sou o primeiro a fazer-lho justiça. Se o illustre deputado dissesse que eu não devia accusal-o hoje, teria toda a rasão; mas o que não póde dizer é que eu fiz tarde justiça a João Coutinho.

Disse tambem o illustre deputado que o procedimento de João Coutinho não carecia de justificação do ministro, e que o ministro não o eleva mais, porque elle está bastante elevado no coração do povo. Perfeitamente do accordo. Mas eu lembro ao illustre deputado que uma cousa é João Coutinho como homem, outra cousa é como ciliciai da armada.

Por mais que o illustre deputado não queira distinguir estas duas qualidades, é inteiramente impossível. Como official da armada, Joào Coutiuho é subordinado do ministro da marinha, seja este quem for, seja d'este partido ou de outro qualquer. (Apoiados.)
(Interrupção.)

A minha opinião pessoal...

(Apartes na esquerda.)

Podem accusar-me á vontade; mas poço que ao menos, consintam que me defenda.

(Apoiados da direita)

A minha opinião pessoal, digo, póde não elevar no conceito do illustre deputado o official da armada Azevedo Coutinho; mas a opinião do sou superior seria necessaria para a rehabilitação desde official, se elle houvesse faltado ao seu dever, como succede em relação a todos os officiaes subordinados aos ministros competentes. (Apoiados.)

Por ultimo o illustre deputado mandou para a mesa, uma proposta, para que Azevedo Coutinho seja considerado como benemérito da patria.

Concordo plenamente com a proposta. Mas porque não concordara então? Porque tal não podia fazer, visto que as informações recebidas diziam que elle tinha desobedecido às minhas ordens. Como podia eu concordar em chamar benemerito a um homem que tinha desobedecido a essas ordens?

Mas hoje, que sei que elle não as transgrediu, da melhor vontade, sem paixão nem colora, me associo ao illustre deputado, para que se levante nos escudos e seja proclamado benemérito da patria Azevedo Coutinho. (Apoiados.)

O que ha n'isto de extraordinario?...

(Interrupção do sr. Emygdio Navarro.)

Proclamemol-o, pois, benemerito da patria, mas não se esqueçam de outros exploradores que, como elle, têem igual direito a serem proclamados benemeritos da patria como Serpa Pinto, Alvaro de Castellões, Victor Cordou, e todos os outros que levantaram o pendão nacional em territorios africanos... (Apoiados.)

O sr. Alpoim: - E tão benemeritos da patria, que eu posto que não votam esto tratado. (Apoiados da esquerda.)

O Orador: - Isto é outra questão. Declaro, pois, que, em nome do governo, me associo á proposta do illustre deputado, pedindo a algum dos illustres deputados da maioria que apresente a proposta para que ao nome d'aquelIe Ilustre explorador se juntem os de outros que, como elle, honrando as tradições do paiz, têem sabido affirmar a soberania nacional, em territorios longiquos, no seio de Africa. (Apoiados.)

Eu não duvido dos sentimentos patrioticos do illustre deputado, mas pedia-lhe que fizesse tambem justiça aos meus. (Apoiados.)
Terminando, repito mais uma vez que me associo a s. exa. para que sejam proclamados benemeritos da pátria todos os exploradores portuguezes.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Presidente: - Vae ler-se a proposta mandada para a mesa polo sr. Alpoim.

(Varios srs. deputados pedem a palavra sobre a ordem.)

Vozes da direita: - Não ha palavra sobre a ordem.

O sr. Presidente: - Peço a attenção da camara. O auctor da proposta pediu a urgencia. Vou consultar a camara. Se for votada a urgencia a proposta entra logo em discussão; no caso contrario fica para segunda leitura.

Procedendo-se á votação nobre a urgencia, foi esta approvada entrando em discussão a proposta.

O sr. Emygdio Navarro (sobre a ordem): - Associâmo-nos, d'este lado da camara, a todas as manifestações, no sentido do serem considerados beneméritos da pátria todos os exploradores africanos, porque será este mais um protesto contra a rapacidade ingleza. (Apoiados na esquerda.)

O meu illustre collega o sr. José de Alpoim especialisara apenas o nome do sr. Azevedo Coutinho, porque esse distincto official tinha sido aqui injuriado e vilipendiado pelo sr. ministro da marinha, que o accusou de rebelde e de indisciplinado. (Muitos apoiados e palmas.)

Sr. presidente, é com as faces cobertas de vergonha que acabo de passar pela vista o Livro branco que se refere a este tratado ignominioso para Portugal! (Muitos apoiados da esquerda.)

Não discuto agora esse tratado; hei de discutil-o aqui letra por letra; mas hoje só direi que este Livro branco constitue uma verdadeira surpreza, mais dolorosa ainda do que todas as outras. (Muitos apoiados da esquerda.)

Para terminar, sr. presidente, eu pediria que acabasse-mos por hoje os nossos trabalhos; que votassemos por unanimidade esta homenagem aos nossos exploradores africanos, e que encerrassemos a sessão, para termos um dia de consolação hoje, já que tantos dias de lucta e tristeza nos estão reservados. (Muitos apoiados da esquerda.)

A minha proposta de additamento é a seguinte:
"Proponho que se acrescentem ao nome de Azevedo Coutinho os nomes de Serpa Pinto, Paiva de Andrade, Antonio Maria Cardoso, Alvaro Ferraz, Victor Cordon, Capello e Ivens. = Emygdio Navarro."

O sr. José de Azevedo Castello Branco: - Tenho a honra de mandar para a mesa a minha proposta, que é um additamento á proposta inicial do sr. Alpoim. Ella é de tal fórma explicita, que não carece da minha palavra para sor justificada perante a camara e perante o paiz. (Muitos apoiados.)

"Proponho que sejam igualmente declarados benemeritos da patria, pelos seus actos de heroismo praticados em Africa, os srs. Serpa Pinto, Antonio Maria Cardoso, Brito Capello, Ivens, Victor Cordon, Augusto Cardoso, Paiva do Andrade, Henrique de Carvalho, Alvaro Castellões e todos os demais exploradores portuguezes. = José de Azevedo Castello Branco."