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SESSÃO DE 15 DE SETEMBRO DE 1890 1855

Leram-se na mesa as propostas dos srs. Navarro e Azevedo Castello Branco, sendo admittidas.

O sr. Presidente: - Ficam em discussão conjunctamente com a proposta do sr. Alpoim.

O sr. Manuel da Assumpção: - Sr. presidente, eu desistiria de bom grado da palavra, para que esta proposta fosse approvada por acclamação; mas já que v. exa. ma concedeu, permitia-me a camara que eu lhe tome alguns minutos, para fazer um pedido. N'esta hora angustiosa a que chegamos; n'este momento terrível para o meu paiz, eu faço um pedido: é que acabem todas as dissenções, que não haja senão um partido, o partido do povo portuguez!

(Palmas prolongadas e muitos apoiados da esquerda.)

Eu sabia que este brado havia de achar ecco! Eu sabia que não haveria aqui uma voz que se levantasse contra esta proposta!

Eu sabia que este paiz abençoado não se deixaria... (Muitos apoiados.)

Eu bem sabia e contava com todos, porque todos nós portuguezes temos o fogo heróico que leva os homens a morrer com honra! (Muitos apoiados.)

É isso o que eu peço a todos.

Republicanos, trata-se da patria!

Monarchicos, trata-se de Portugal!

Onde haverá uma causa mais santa? (Muitos apoiados.)

Pois bem, terminemos as dissenções e as divisões. (Muitos apoiados.) Acabem as recriminações e os improperios. (Apoiados.) Aqui não deve haver senão brio e honra a infiltrarem nos animos coragem para combater. (Muitos apoiados.)

Eu pertenço áquelle lado (o da maioria). É ali que eu estou. Ali tenho a alma, a vida e o coração; mas se tomo esta altitude é porque acima de todos os sentimentos, que fazem o orgulho da minha vida, se levanta um mais nobre, mais santo, mais sagrado, o sentimento da minha patria! (Muitos e repetidos apoiados e muitas palmas.)

Vamos todos, portuguezes, em volta da bandeira das quinas, vamos todos, ministerio, regeneradores, progressistas e republicanos! (Muitos apoiados.)

Aqui não ha vaidades, não ha paixões, não ha interesses; ha só um interesse sagrado, o interesse da patria! (Muitos apoiados.)

Portanto nem uma palavra de recriminação. (Muitos apoiados.)

Vencidos somos nós todos, e chegado a este momento, encaminhemo-nos todos para um fim.

Quem tiver que sacrificar, que sacrifique.

Quem não tiver força para luctar deixe passar os outros.

(Muitos apoiados.) Quem estremecer e tiver medo vá para as casernas. (Muitos apoiados.)

Aqui havemos de luctar todos porque somos portuguezes. Trata-se da patria; salvemol-a ou morramos por ella. (Muitos apoiados.)

(O orador foi abraçado, por todos os srs. deputados da esquerda.)

(S. exa. não reviu.)

O sr. Serpa Pinto (Muitas palmas da esquerda): - Quando eu pedi a palavra, mal pensava que tinha de fallar depois de uma das vozes mais eloquentes deste paiz.

Declaro a v. exa. que estou deveras commovido pela proposta do sr. Emygdio Navarro.

O sr. Emygdio Navarro: - A proposta é de nós todos. Não é só minha, é de toda a camara e de todo o paiz. (Muitos apoiados.)

O Orador: - Eu não agradeço a proposta do sr. ministro da marinha, que não foi feita senão depois de assignado o tratado. (Muitos apoiados da esquerda.)

Não a agradeço em meu nome, agradeço-a em nome de todos os meus companheiros, que não têem voz d'esta casa, e que por isso não podem aqui fallar. Em meu nome não a agradeço, porque não agradeço que seja só hoje que d'aquelle lado da camara se diga uma palavra a respeito dos africanistas.

Sou regenerador, tanto ou mais do que o illustre orador que acabou de fallar; sou monarchico tanto ou mais do que elle.

Ha um anno fui para a Africa, sendo regenerador e monarchico, e ha um anno sentava-me aqui e combatia intransigentemente o governo que então se sentava n'aquelas cadeiras e ao mesmo tempo era ajudante de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Luiz. Voltei, sou ajudante de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Carlos, e estou d'este a do junto dos homens que se sentavam aqui commigo quando combatiam o governo intransigentemente.

Não abandonei as minhas idéas nem as abandono. Sou sempre o mesmo, o regenerador, talvez faccioso, monarchico intransigente. Mas acima do partido e da monarchia está o paiz. (Apoiados.) Sou portuguez. Hei de combater o tratado, quanto em minhas forças caibam. (Apoiados.)

O sr. Eduardo Abreu: - Acima dos partidos e da monarchia está a pátria. (Apoiados na esquerda.)

O Orador: - Muito antes de se apresentar á camara o tratado, disse eu ao sr. ministro dos negocios estrangeiros, que ou havia de morrer n'aquella tribuna extenuado a defender o tratado, ou a combatel-o. O tratado appareceu. Hei de morrer extenuado a combatel-o. (Muitos apoiados. - Estas palavras foram acolhidas com uma prolongada salva de palmas na esquerda.)

Estou verdadeiramente admirado como e porque veiu isto a pello, porque não se está discutindo o tratado. E a proposito permittam-me que eu diga duas palavras, por isso que nos actos da minha vida eu costumo ser cordato e prudente.

Deu-se ha pouco n'esta casa um facto que eu vou explicar á camara.

Um ministro da corôa levantou-se para ler uma proposta de lei.

Eu não sabia o que era e ainda que soubesse, era o mesmo.

Essa proposta é relativa ao tratado, tratado que eu hei de combater intransigentemente. (Apoiados na esquerda.)

Mas quem a estava lendo era um ministro da coroa, entidade que é preciso que todos nós respeitamos, desde o Rei até ao ultimo homem do povo.

Houve alguem que n'essa occasião se atreveu a dizer, ou a fazer alguma cousa que não é permittida dentro do parlamento. (Apoiados.)

Ao ver isso exaltei-me, talvez, um pouco, porque sou sempre um homem de ordem e amante da justiça, aqui como nos sertões, onde tenho combatido pela minha patria.

É preciso que um ministro, seja elle quem for, qualquer que seja o partido a que pertença, seja respeitado, porque esse ministro é um poder, uma auctoridado, (Apoiados.) e no dia em que percamos o respeito pela auctoridade, estaremos todos perdidos. (Apoiados.)

Dizendo isto, a camara deve comprehender o motivo da minha excitação, e se a offendi, peço-lhe que me releve, porque não era essa a minha intenção. (Vozes: - Muito bem.)

Em nome de todos os africanistas, quero agradecer ao sr. Julio de Vilhena o voto que formulou a respeito d'elles.

Em meu nome, não; acho tarde.

Agradeço tambem ao sr. Emygdio Navarro...

Uma voz: - E á camara?

O Orador: - E á camara que votou; mas a s. exa. a lembrança, tanto mais que é um adversario politico intransigente.

Vozes: - Muito bem.

(O orador foi comprimentado.)

(S. exa. não reviu.)

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