APPENDICE A SESSÃO DE 7 DE JUNHO DE 1888 1898-E
tenho indicado, e que parecem tomar o caracter de chronicas. (Apoiados.)
Eu só entendia que se dessem estas exclusões se se reconhecesse a incompetencia dos officiaes de cavallaria e de infanteria.
Mas quem ousará affirmar que não ha n'estas armas officiaes distinctissimos, do que têem dados sobejas e exuberantes provas?
Não fizeram elles sempre parte das missões mandadas ao estrangeiro, nas administrações transactas?
Pois pretender-se-ha agora que só nas outras armas haja officiaes habilitados para isso?
A obsecação transtorna até os espiritos mais lucidos, porque, de contrario, bastaria passar em revista os livros militares e outros trabalhos litterarios e scientificos, publicados modernamente, para se reconhecer a flagrante injustiça de que estão sendo alvo, por parte d'este governo, os officiaes de infanteria e cavallaria. (Apoiados.)
Sr. presidente, eu não vou designar á camara, para não lhe tomar tempo, as recentes producções dos officiaes do exercito. Mas pôde v. exa. crer que poderia citar bastantes livros e outros trabalhos, firmados por officiaes de infanteria e cavallaria. Dos outros officiaes é que seria difficil fazer isso. Ha pouco, muito pouco produzido.
E entretanto, afigura-se-me que para qualquer se elevar ás vertiginosas alturas em que pretendem pairar os officiaes das armas pomposamente chamadas scientificas, precisa mostrar que a sua sciencia não é só para dentro. A sciencia ou sáe pela bôca fallando, ou pelos dedos escrevendo. (Apoiados.) Sciencia para dentro, authenticada unicamente em diplomas, cartas, e até cartazes, não admitto, nem acceito. (Apoiados.) Provas e factos, escrever e fallar, e o que é indispensavel. (Apoiados.)
Como disse, sr. presidente, não designarei obras, mas citarei alguns nomes de officiaes de cavallaria e de infanteria, que andam ligados a producções de bastante valor. Prestarei por este modo justa homenagem a quem a ella tem direito, e pôde v. exa. crer que muito folgo com isso. Apontarei, portanto, os nomes de Vidigal Salgado, Celestino de Sousa, Claudino Dias, Mardel, Hugo de Lacerda, Xavier Machado, José Estevão de Moraes Sarmento, Mesquita de Carvalho, e mais poderia designar, mas não me occorrem agora.
Mesmo sem saír d'esta casa, poderia augmentar a lista de nomes. Não o faço, porém, para não ferir a reconhecida modestia dos meus illustres collegas. Todavia, notarei que, com excepção da minha humilde pessoa, todos os outros officiaes de cavallaria e de infanteria, que aqui occupam logar, estão indiscutivelmente em condições de desempenharem missões militares no estrangeiro.
O sr. Avellar Machado: - Seguramente, como v. exa. tambem. (Apoiados.)
O Orador: - Agradeço penhoradissimo a extrema amabilidade de v. exa., na parte que me diz respeito, e consinta que registe a sua auctorisada opinião relativamente aos outros officiaes, nossos collegas, a que eu me referi; mas nem por isso elles deixaram de ser votados ao ostracismo, podendo d'este facto tirar-se illações em desabono do merito, bons desejos e applicação que elles têem notoriamente manifestado. (Apoiados.) Foi contra esta flagrante injustiça que eu me insurgi.
Mas, sr. presidente, entre os nomes dos illustrados officiaes, que citei, figura o do sr. Mesquita de Carvalho, a quem não tenho a honra de conhecer pessoalmente. Julgo, por consequencia, que me acho em campo completamente desassombrado para emittir parecer ácerca do seu ultimo livro, que tem sido criticado, pela imprensa, por diversas maneiras, segundo os varios paladares, chegando a critica a penetrar no parlamento, pela voz do meu illustre correligionario, o sr. Avellar Machado, com cujas apreciações não estou de accordo n'esta parte.
Aquelle official, possuido de boa vontade, escreveu recentemente um livro intitulado A verdadeira situarão militar de Portugal. Poderia n'um ou n'outro ponto inspirar-se em idéas pessimistas? É possivel; mas o que é certo é que mostrou patriotico empenho de ser util ao paiz, apontando os erros, as faltas e defeitos que encontrou no estudo e analyse a que procedeu, e fez muito bem. (Apoiados.) Eu não tenho senão a louval-o por isso.
Parece-me, portanto, que o illustre deputado, o sr. Avellar Machado, não foi positivamente justo, alludindo áquelle official pela fórma como o fez, Permitta-me s. exa. que lh'o diga.
O sr. Avellar Machado: - Eu creio que v. exa. labora n'um erro. Não me recordo de ter dito cousa alguma, em desabono do sr. Mesquita de Carvalho.
O Orador: - Afigura-se-me que v. exa. foi um pouco injusto para com o escriptor, não para com o individuo; mas se tambem eu o fui agora para com o illustre deputado, espero que s. exa. me desculpará, porque tem benevolencia para isso e para muito mais ainda, - tanta benevolencia que até se inscreveu a favor d'este projecto, (Riso.) a despeito de se prever, como os factos se encarregaram de o demonstrar que, com esse seu acto de abnegação, incorreria nas iras do illustre relator, e meu amigo, o sr. Carrilho. (Apoiados.)
Mas o mau humor do sr. relator da commissão já passou, felizmente, como o denota a sua prasenteira e jovial phisionomia; e eu, aproveitando esta sua boa disposição de espirito, verdadeiramente primaveral, (Riso.) vou como prometti, occupar-me de fornecimentos, no que, contra os meus desejos, terei de consumir algum tempo, tantas são as revelações que tenho de fazer á camara, e que ouso taxar de curiosas.
N'esta quentão dos fornecimentos, eu devo declarar desde já que sou pelo sr. ministro da fazenda contra o sr. presidente do conselho e o sr. ministro da guerra.
Rarissimas vezes me tem succedido estar, nas questões parlamentares, ao lado do sr. Marianno de Carvalho.
Creio que é até esta a primeira vez, o que não me impede de que admire o seu previlegiado talento e que me prezo de ser seu amigo pessoal.
V. exa. agradece?
Nada tem que me agradecer.
Julgo que nunca pequei por lisonjeiro, e as espontaneas declarações que fiz agora são exclusivamente promovidas pelo desejo que tenho de ser verdadeiro e recto.
Mas, ainda assim, para estar ao lado de s. exa., é preciso que esteja contra o sr. presidente do conselho e o sr. ministro da guerra, - o que prova a boa harmonia que existe na igreja progressista. (Apoiados.)
E tudo isto provém do modo como é interpretada a lei de contabilidade publica, que, pelo que se observa, é de molde para que faça cada um o que melhor lhe parecer. (Apoiados.)
O sr. ministro da fazenda interpreta a lei de uma maneira; o sr. ministro da guerra por outra; mas o que é mais original é o sr. ministro do reino, que, pelos seus actos, manifesta o mais soberano desprezo pelo cumprimento da lei.
S. exa., que se jacta de ser sentinella vigilante de tudo e de todos, dentro da orbita do seu partido, sem exclusão dos seus collegas do gabinete, está igualmente em perigo de que o vigiem, bem como aos seus delegados, quando se trata do fornecimento dos fardamentos para a policia civil de Lisboa e Porto.
Eu me explico, e muito claramente.
O sr. ministro da fazenda sustenta a genuidade do concurso; o sr. ministro da guerra e apologista do concurso degenerado, como os factos se encarregarão do evidenciar; o sr. presidente do conselho é mais radical, mais rasgado, muito mais avançado, porque não quer o concurso. Pelo menos não usa d'elle.
E, portanto, como sentinella vigilante do cumprimento