1973
DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
putados da sua maioria, com quem se achava ligado pelas mais intimas relações, e onde contava amigos leaes e dedicados, entendi que depois d'este estranhavel e irregular procedimento estavam rotas as ligações que prendiam a maioria ao ministerio demissionário, e que eu por este facto me achava completamente desprendido dos compromissos que, porventura, houvesse contraindo, e os quaes soube até ali sustentar; nestas circumstancias considerei-me perfeitamente desligado para votar como bem entendesse — pois sou deputado da nação e não de partidos. (Apoiados.)
Cumpre-me mais dizer á camara que se fóra ultimamente eleito, tive a cooperação simultanea dos amigos do governo o a dos meus amigos pessoaes, o que se me faltasse uma d'estas coadjuvações não teria sido eleito.
Respeitando os compromissos que assim contraíra, jamais dei um voto contra o governo decaído, abstive-me sim muitas vezes de votar, como aconteceu com as eleições em que tinham grandes nullidades e protestos; foi a rainha primeira proposta, que apresentei n'esta camara, para que os processos eleitoraes, onde se davam taes defeitos, só podessem ser discutidos depois da camara constituida; proposta que se rejeitou!
Quando o nobre deputado o meu amigo, o sr. Dias Ferreira, apresentou ultimamente uma moção em que recommendava ao governo fizesse economias, ausentei-me da sala, para não a rejeitar, pois eu, sr. presidente, tambem quero e sempre quiz, que se façam economias. (Apoiados.)
Acato a deliberação dos illustres membros da maioria que votaram a moção de desconfiança, mas tambem tenho direito a aspirar que s. ex.ª respeitem os motivos que em mim actuaram votando do modo por que o fiz.
Sr. presidente, tenho a honra de representar n'esta casa o circulo de Ponta Delgada, e são muito graves as responsabilidades que contraiu, pois ha importantes objectos d'aquelle circulo, que se acham affectos á solução do governo, e seria decoroso, para mim, dar-lhe um voto de desconfiança, e depois apresentar-me perante elle solicitando a favoravel decisão de taes resoluções? (Apoiados)
Sr. presidente, não tive, nem tenho intelligencia alguma com os illustres ministros do novo gabinete, o quando seja obrigado a procurai os é só para a decisão de negocios de publico interesse do meu circulo, o jamais que digam respeito a minha pessoa.
Sr. presidente, tenho onze annos de vida parlamentar, conto amigos, que muito preso, entre todas as parcialidades em que se divide a camara. (Apoiados.)
Parece-me ter dado provas de não querer, nem de aspirar, honras ou empregos, (Apoiados) e ao retirar-mo agora da vida politica ambiciono só levar illesa a dignidade do meu caracter e a tranquillidade da minha consciencia. (Apoiados.)
(O sr. deputaão enviou para a mesa ires propostas que leu.)
Ficaram para segunda leitura.
O sr. Osorio de Vasconcellos: — Mando para a mesa a seguinte proposta: (Leu)
Julgo desnecessario sustentar esta proposta.
A iniciativa tomada por alguns honrados e dedicados cidadãos portuguezes para abrir um grande certamen publico, no qual figurassem todos os nossos productos agricolas e industriaes n'aquelle que é, por assim dizer, o primeiro mercado das industrias portuguezas, deve esta generosa idéa ser tão fecunda, promette resultados tão brilhantes, tão affectivos, que esta camara não quererá por fórma alguma deixar de se associar com um voto espontaneo á realisação d'ella. O verdadeiro patriotismo, previdente, sagaz o politico traduz-se assim, n'estes admiraveis esforços, n'estes tentamens ousados, que merecem o louvor sincero e o convicto applauso dos que amam o seu paiz e por elle se interessam. (Apoiados geraes)
Á camara dos deputados compete dar o exemplo enviando uma fraternal saudação aos illustres iniciadores da empreza e ao governo e poderes publicos do Brazil, cujo concurso foi efficacissimo. (Apoiados.)
Sinto que o governo não esteja presente, porque certamente elle, quaesquer que sejam as dissidências que o apartem da maioria, e não podem ser maiores, conheceria que esta manifestação, que a camara vae certamente dar-lhe, impõe deveres que deve cumprir. Não lhe quero recordar quaes elles são; digo apenas estas palavras.
Acerca da fecundidade, da grandeza o da magnitude d'esta exposição, devida unica e exclusivamente á iniciativa particular, o que é um grande facto e um grande exemplo, entendo que é inutil insistir; por consequencia peço a v. ex.ª que ponha á votação esta minha proposta, o peço a urgencia d'ella.
Vozes: — Muito bem.
Leu-se logo na mesa a seguinte
Proposta
Proponho que na acta seja inscripto um voto de louvor e agradecimento ao governo imperial e á nação brazileira pela alta sympathia com que acolheram a idéa de uma exposição de productos portuguezes na cidade do Rio de Janeiro, e que brevemente se deve realisar.
Proponho que esta resolução seja officialmente transmittida á presidencia do senado e da camara dos deputados do imperio. = Alberto Osorio de Vasconcellos.
Declarada urgente, foi admittida e approvada.
O sr. Jeronymo Pimentel: — Foram-me enviados uns esclarecimentos que pedi, a respeito do recrutamento no districto de Braga, e eu desejava que elles fossem impressos no Diario da camara, a exemplo do que se praticou com um pedido feito pelo sr. Mariano do Carvalho. N'este sentido mando um requerimento para a mesa, e juntamente os documentos.
Agora permitta-me v. ex.ª que eu me retira ao que disse o illustre deputado o sr. Paula Medeiros.
Sou collega de s. ex.ª ha annos, seu companheiro de casa e conheço bem as suas elevadas qualidades o a nobreza do seu caracter digno. (Muitos apoiados.) Todos que o conhecem fazem inteira justiça á sua intelligencia e á sua isenção. (Muitos apoiados) S. ex.ª disse que respeitava a opinião e o voto dos seus collegas que approvaram a moção apresentada pelo sr. Lopo Vaz.
Creia s. ex.ª que os seus collegas respeitam igualmente a sua opinião, (Apoiados.) e fazem-lhe a inteira justiça do acreditarem que s. ex.ª foi movido a proceder assim pelos dictames da sua consciencia. (Muitos apoiados)
Eu, que faço inteira justiça ao caracter nobre e ás elevadas qualidades pessoaes do sr. Paula Medeiros, não posso deixar de levantar uma censura que, até certo ponto, s. ex.ª dirigiu ao nobre presidente do ministerio demissionário...
O sr. Paula Medeiros: — Não fiz censura, contei o facto.
O Orador: — Disse o sr. Paula Medeiros que, desde que o sr. Fontes abandonara a maioria que o tinha acompanhado, s. ex.ª se julgou desligado do partido a que pertencia.
Parece-me que o sr. Fontes não abandonou a maioria, e portanto s. ex.ª não merece censuras. (Muitas apoiados.)
S. ex.ª entendeu que altas rasões de conveniencia politica o aconselhavam a demittir-se, mas creio que s. ex.ª continua a ser o chefe do partido regenerador. (Muitos apoiados)
Eu, que sou apenas regenerador platonico, não posso deixar de dizer que o sr. Fontes não deixou de ser illustre chefe dos regeneradores, e que o partido o reconhece como tal. (Muitos apoiados)
Leu-se na mesa o seguinte
Requerimento
Requeiro que sejam impressos no Diario da camara os
Sessão de 6 de junho de 1879