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entre nós estejam mal, e muito peior do que em França! E não se pense que só na marinha as cousas não estão bem. Se se entrar alguma vez em exame mais circumstanciado do estado de todas as outras repartições publicas, procurarei tambem fazer a devida comparação. O que é necessario, e tudo o mais é superfluo e doloroso, é reconhecer que tudo carece entre nós de melhoramentos, e que todos unidos devem empregar os meios de os conseguir progressivamente; mas é indispensavel reconhece-lo e dize-lo.

Não ha muitos mezes que no parlamento e na imprensa ingleza se clamou, que o littoral da Gram-Bretanha não estava fortificado de modo, que pode-se resistir a um desembarque inimigo inopinado; e todos conhecem a memoria de um jovem official da marinha franceza, principe de uma dynastia em exilio, sobre o estado pouco lisongeiro da marinha franceza comparativamente á marinha de algumas grandes nações. Nem o francez, nem o inglez, receiou descobrir a verdadeira situação das suas nações neste sentido, e fizeram ambos grande serviço aos seus paizes.

Tambem um portuguez fez igual serviço á sua patria, do qual não se tirou ainda proveito, é verdade; mas espero que se tire.

Sr. presidente, eu li o relatorio do ministerio dos negocios da marinha e ultramar, publicado em 1850; mas já me não recordava das expressões do seu preambulo, e quando V: ex. deu para ordem do dia o parecer que se discute, (juiz reler aquele documento. Foi com tanta admiração como prazer, que achei nas suas primeiras paginas exactamente tudo quanto sinto a respeito da nossa marinha militar — do seu actual estado, e dos seus destinos. Permitta-me a camara, que leia, pelo menos, algumas passagens destas duas paginas. São palavras proferidas pelo proprio ministro da marinha de então, e que acredito que nenhum outro receará repetir, porque são verdades, cujo enunciado e publicação não póde ser-nos senão mui util. Estas palavras são as seguintes:

Tenho empregado a minha mais seria attenção em conhecer, quaes são os melhoramentos, que convem fazer no serviço deste ministerio, tanto para estabelecer nelle a maior economia e fiscalisação da fazenda publica, e simplificar o expediente dos negocios, assegurando o acerto da sua decisão; como para fazer saír esta importante repartição da progressiva decadencia em que caminha

Esta força não foi calculada com relação ao serviço, que a marinha e chamada a preencher, e que sem um rasoavel augmento nella, será impossivel estabelecer, como tanto convem, communicações regulares entre as nossas possessões e provincias do ultramar com a metropole, e deixarem el as de se sentir abandonadas, e sujeitas a repelidos insultos.

«Com este augmento de força, não nos fica, comtudo, em reserva uma força capaz de fazer respeitar a nossa bandeira, se circumstancias se derem que nos obriguem a isso.

Desde muito o desejo de realisar economias nesta importante repartição, tem levado os ministros, meus antecessores, a reduzir de anno para anno as despezas deste ministerio, a ponto de que, sendo ellas calculadas no orçamento de 1835-36 em 1.295:690$601 réis, acham-se hoje reduzidas a 775:391$202 réis.

E necessario, portanto, que as côrtes, possuidas das verdadeiras necessidades desta repartição, habilitem este ministerio a fazer saír a marinha do estado decadente em que se acha.

As repartições do arsenal e da cordoaria precisam, é certo, de uma reforma radical; mas essa reforma não póde consistir na annullação do trabalho, pela falla de materias primas, n'um momento em que a nossa marinha apresenta o triste quadro, que della tenho exposto.»

Agora apresentarei a força pedida pelo ministerio nestes ultimos 6 annos, sempre em diminuição:

Anno de 16 a 17: 3:000 praças, 3 fragatas, 5 curvetas, 7 brigues, 6 escunas, 2 transportes, 2 vapores: total -25 embarcações.

Anno de 48 a 49: 2:600 praças, 2 fragatas, 4 curvetas, 5 brigues, 6 escunas, 2 transportes, 4 vapores: total 24 embarcações.

Anno de 49 a 50: 2:400 praças, -2 fragatas, 5 curvetas, 6 brigues, 6 escunas, 2 transportes, 3 vapores: total 24.

Anno de 50 a 51: 2:600 praças, 2 fragatas, 4 curvetas, 5 brigues. 8 escunas, 5 transportes, 4 vapores: total 25.

Anno de 51 a 52: 2:600 praças, 2 fragatas, 4 curvetas, 5 brigues, 8 escunas, 4 transportes, 4 vapores: total 27.

Anno de 52 a 53: 2:383 praças, 1 fragata, 3 curvetas, 4 brigues, 8 escunas, 5 vapores: total 21.

Devo, comtudo, reflectir, que nos annos anteriores em que tinhamos fóra mais navios armados, havia tambem mais movimento em trabalhos e construcções em todos os mais ministerios; porém tudo estava pago com atraso; as diversas classes de funccionarios do estado, os operarios, e machinistas, e até os proprios materiaes de construcção, fornecimentos, etc. E é forçoso confessar, que não é possivel, no actual estado das nossas finanças, acudir ao mesmo tempo ao pontual pagamento do pessoal e material.

Não vejo outro meio, em quanto não tivermos mais fontes de receitas, senão prescrutar donde se póde economisar, para gastar em outra parte, O exercito, por exemplo, póde repartir alguma cousa com a marinha.

A nossa marinha mal chega para o indispensavel e immediato, sendo o serviço bem distribuido; mas não é possivel deixar de cuidar incessantemente em augmenta-la, sob pena de decairmos cada vez mais como nação Tambem a actual marinha de Hespanha está assim, em melhor estado, desde estes ultimos dez annos; e a Hespanha não cessa de a melhorar e augmentar. Mas não sei se tem peneirado bem na convicção do povo portuguez a importancia deste assumpto.

Todos Os estados maritimos de segunda ordem, menos a Grecia, tem a sua marinha maior que a de Portugal; ainda neste seculo teve 14 náos. Napoles só em navios de vapôr tem 14, dos quaes 6 são fragatas da força de 300 cavallos cada uma. E dirá alguem que Napoles precise mais de força naval que Portugal? Tenho por indispensavel, que o governo se habilite nesta sessão ainda para mandar construir uma fragata de vapôr. Esles vapores servem de transportes, e armam-se em guerra quando é preciso.

Se as côrtes votassem maiores sommas para o armamento naval, do que aquellas que estão no orçamento, dentro em pouco tinhamos armadas 1 não, 1 fragata, 5 corvetas, 5 brigues, 8 a 10 vasos de menor lotação, e 7 vapores, que sommam uma fôrça motriz