O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 15 DE JUNHO DE 1885 2273

E, por seu lado, Capello e Ivens corroboravam esplendidamente o facto.
Duas palavras ainda, em relação á conferencia de Bruxellas.
Notei já como fôramos deslembrados na primeira reunião. Pouco depois, comtudo, recebia a sociedade de geographia uma carta do rei Leopoldo, exprimindo o voto amavel e correcto de que a idéa iniciada merecesse a sympathia e a cooperação portugueza.
Devia merecel-a.
Cumpria-nos, interessava-nos muito, evidentemente, seguir, - e porque não dizer agora o que então pensaram e disseram ao ministerio do ultramar, os homens que entre nós melhor conheciam e mais sinceramente se occupavam d'estas cousas? - seguir e vigiar, de perto, o desenvolvimento e a applicação d'essa idéa, exercermos dentro da instituição projectada a nossa acção que poderá ser mais de uma vez correctiva, e o nosso voto que fácil nos fora tornar em certos casos preponderante.
Fomos convidados para a segunda sessão e chegaram a ser nomeados tres delegados portuguezes: - os srs. dr. Bocage e Teixeira de Vasconcellos, e eu, - aos quaes, talvez por um certo requinte intencional de amabilidade para com o paiz,- o rei dos belgas offereceu alojamento no seu proprio palacio.
Não podémos ir, e não foram outros.
Lance-se aqui esta nota caseira: - á ultima hora e um pouco constrangido, o governo offerecêra generosamente... uma centena de libras para todas as despezas da commissão.
Tão compenetrado estava da importancia d'ella!...
Illudido pelo retrahimento ostensivo da Inglaterra, entendêra já que devia retrahir-se tambem.
É certo comtudo que o governo não descurou inteiramente o trabalho e as tendencias da obra iniciada.
Mais do um ministerio portuguez, contando, e justamente, por aquelle tempo, com o representante que tínhamos em Bruxellas, - um dos nossos mais intelligentes e dedicados diplomatas, o sr. conde de Thomar, - póde considerar-se informado, opportuna e largamente, do que se passava, do que se preparava, do que se pretendia em certos círculos africanistas; - mais de um governo nosso recebeu seguranças e protestos que podiam suppôr-se sinceros e leaes, realmente, de que nenhum proposito ou nenhuma responsabilidade official, - hostil e attentatoria dos nossos direitos e dos nossos territórios africanos, - se occultava na generosa e particular iniciativa da associação internacional africana.
As estações officiaes contentaram-se com isto, creio, e a direcção dos nossos negocios ultramarinos não viu que devesse interromper o engano ledo e cego da sua prosapia porque quaesquer enthusiasmos particulares traçavam sobre o mappa de Africa o plano de uma conquista ideal.
Stanley pôde tranquillamente iniciar em Vivi, sem nossa audiência e sem nossa permissão a trama rudimentar do seu futuro... Estado!
Cá fóra, porém, no pequeno publico que se occupava do assumpto, e particularmente naquella impertinente sociedade livre que procurava organisar esse publico, as desconfianças e as apprehenções, longe do acalmar, fortificavam-se e cresciam, importunando as repartições e os ministros com repetidas sugestões de trabalho e de impulsão colonial.
Iam precipitar-se os acontecimentos.
No natal de 1879, entrava-me em casa um homem que parecia trazer estampado no aspecto abatido, cansado, velho, - e era um rapaz, ainda, - o sello sombrio da morte.
Chamava-se Sovorgnan de Brazza.
Vinha do Ogoué, e andara com Alfredo Marche,- aquelle sympathico explorador a que se referiu o meu amigo Vicente Pindella - e com outros, ensaiando abrir caminho por ali para as regiões encantadas do alto Zaire.
Colhêra na nossa velha tradição africana, muitas indicações curiosas, estimulantes. A do Macoco, por exemplo. Existia realmente o Macoco?
Stanley affirmava que era uma phantasia dos portuguezes. A lenda indigena era que a gente do Macoco communicava outr'ora, por um grande rio, com os brancos, isto é, com os portuguezes.
Seria o Zaire este rio?
Eu escrevêra havia pouco a minha Hydrographic africaine, onde sustentava a tradição portugueza. O Macoco era o Anzico, o Mundaquete dos nossos chronistas, ... os bukekes da região ... onde Brazza os foi encontrar um anno depois: no alto Zaire.
Como disse, Brazza vinha profundamente abatido. Ía retemperar-se no bel paese natal; descançar das ingratas canceiras junto de sua velha mãe, uma santa senhora, verdadeira matrona romana, que eu havia de encontrar mais tarde em Veneza, saudosa, mas resignada com a idéa de que as glorias do filho, novamente embrenhado em Africa, eram tambem glorias da patria.
Mas em Paris ou em Bruxellas, n'uma conversa indiscreta ou insidiosa com um diplomata, segundo li ha pouco, o sr. Brazza póde surprehender o pensamento pratico, grandioso, já soffrivelmente politico do sr. Stanley e do Comité d'études du Haut Congo.
A obra, a idéa, a aspiração do explorador do Ogoué, ia ser prejudicada, destruida.
Poz então toda a sua influencia, todo o seu prestigio, que não era muito ainda, ao serviço d'essa idéa; - lançou-a fortemente na corrente das preoccupações e dos interesses francezes em relação á Africa, - e em 1881 voltava ao Gabão, subsidiado pelo governo de Paris, - e em outubro desse anno estava em Stanley-pool, e fazia o tratado do Macoco, que as camarás e o governo francez haviam do reconhecer como excellente o correctamente feito, - aquelle famoso tratado que não vale mais e que vale, porventura, menos do que tantos outros que nós temos feito por essa Africa a dentro para os atirar depois ao pó e ao esquecimento dos archivos. (Apoiados.)
Stanley sentiu-se rudemente surprehendido por este homem, vindo do norte, por um caminho que não era aquelle que elle procurava abrir á custa e á força dos seus milhões internacionaes, e hão de lembrar-se todos do ruído enorme que fez na Europa o rápido regresso do sr. Brazza, com o seu pequeno tratado que abria á França o dominio do alto Zaire.
Seguiu-o logo o surpreso aventureiro.
Aqui lhe fallei, na sua passagem, mostrando-lhe o primeiro croquis da nova exploração Brazza.
Travou se então uma lucta singular que se não conseguiu impulsar-nos, ainda, a uma acção decisiva e energica, deu pelo menos novo rebate á nossa diplomacia e a prendeu definitivamente á questão.
Perante a ameaça da interferencia franceza, - directa e politica, - Stanley, o seu regio patrono, e o Comité d'étades redobraram de esforços e de sacrificios.
Fundou-se em Bruxellas uma companhia de exportação, cujo capital de mais de 2.000:000 de francos era um auxiliar novo para a empreza do Zaire; o modesto e retraindo comité «de philantropos e capitalistas» desinteressados, cedeu o passo á «associação internacional do Congo» não menos obscura, mas já mais arrojada e pratica, e Stanley partindo de novo para a Africa, apressava e alargava a sua obra, lançava os seus agentes e as suas estações para os valles e costa do norte, ferindo d'aquelle lado o plano francez.
Quando Brazza, vencidas as difficuldades na Europa, chegava á bôca do Quillo via arvorada n'ella a bandeira da associação de Bruxellas.
Um e o outro nos eram contrarios.
Não o occultavam, e facil é de comprehender que para ambos a affirmação dos nossos reservados direitos em relação ao curso e á costa do Zaire inferior, a eventual ex-