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SESSÃO DE 15 DE JUNHO DE 1885 2279

pelo menos, pela segurança das communicações e dos caminhos de commercio interior.
Era, por isso, que reforçando a nossa antiga dominação no Congo, recommendava ao commandante militar de S. Salvador que procurasse por todos os meios, chamar á obediencia do muene os regulos que se haviam separado da sua auctoridade «particularmente pelo lado do Zaire», ao mesmo tempo que fortificava a linha que não direi fronteiriça, mas avançada de leste, e os pontos do norte que nos deviam assegurar os caminhos da costa.
Dizia elle ao respectivo ministro:
«Com a exposta ordem de idéas vae de accordo a fortificação que ordenei em Malange, centro da linha interior; está em harmonia com ellas a colonisação que procuro estabelecer em Caconda, e n'essas vistas tenciono logo que se me offereça occasião abrir as communicações para o Bembe por Encoge, ligando assim os concelhos populosos e bem avassalados dos vales do Quanza, Bengo, Dande com o norte da provincia, assim como entendo que logo que seja possível se deve trabalhar no mesmo sentido, correndo de Pungo Andongo para o sul até Caconda, através do territorio, não occupado, do Libollo, Bailundo e Bihé, e d'ahi até os limites de todo o Humbe.»
E acrescentava:
«Devo comtudo observar que os pontos occupados nessa linha e as colonias militares ahi estabelecidas devem ter por fim tomar pontos estrategicos para segurar a dominação, crear estancias para o commercio do sertão interior, e estabelecer centros de população branca, ou mesmo preta educada ao contacto dos brancos, como foco de civilisação...»
É nem mais nem menos que o pensamento das estações civilisadoras como foi proposto ao governo pela sociedade de geographia de Lisboa, como chegou a ser adoptado e reduzido a decreto, como foi desdenhado e abandonado, quando, mais do que nunca nos convinha realisal-o contra o emprego que d'elle faziam contra nós, os estranhos. (Apoiados.)
Póde mesmo dizer-se que o sr. Calheiros chegára a fazer do Bembe uma verdadeira estação civilisadora que a si própria se sustentava já.
E manda a justiça dizer que estas idéas eminentemente praticas foram comprehendidas e acceitas por um illustrado ministro do ultramar.
No interessante relatorio parlamentar do sr. Mendes Leal, em 12 de janeiro de 1863, falla-se da conveniência de reforçar a occupação do Bembe e de S. Salvador, bem como do estabelecimento «de uma linha de fortes que se estenda até á margem direita do Loge e cuja consfrucção já se ordenou para, vigorosamente, proseguir» destinada «a regularisar as communicações, etc.»
Estes mesmos propositos se revelam no relatorio, por igual instructivo, do mesmo ministro, em 22 de janeiro de 1864.
Nem a lição era nova, que nestes assumptos africanos poucas vezes teremos o direito de nos dizer surprehendidos, a não ser pelo abandono deploravel das lições passadas.
Para não ir mais longe, - que o poderamos fazer, - já entre 1772 e 1779 lamentava Castro Barbosa a invasão estrangeira pelo norte, lamentando que tivessemos abandonado a linha de feitorias do Cabo de Lopo Gonçalves ao Ambriz.
O que inspirára a tentativa de Cabinda e do Loje, o estabelecimento do Bembe, do Encoge, dos Dembos e de S. Salvador?
Mas á mingua de um pensamento persistente, de uma acção superior, disciplinada e seguida, cada governador tinha e executava a sua.
E em grande parte, de certo, derivada da escassez de recursos e de forças, chegou a ter um certo exito entre as auctoridades ultramarinas, a idéa infeliz de nos contentarmos com a occupação do litoral, idéa que alguma vantagem teria se ao menos essa occupação fosse séria e opportunamente realisada, como ponto de partida para a successiva dominação e segurança do interior, como em relação a Moçambique o aconselhava em 1874 um dos homens mais intelligentes e praticos que tem governado no ultramar, o sr. Guedes de Carvalho.
Assim, o sr. Ponte e Horta, dizia em 1872:
«Toda a nossa actividade e influencia na colonia deve concentrar-se segundo é minha opinião, numa zona próxima do litoral.»
E, um homem cujo nome ninguem póde pronunciar sem admiração e respeito, o valente expedicionário do Ambriz e do Congo, quando a braços com as pequenas fraquezas e com as impertinentes complicações da administração, o sr. Baptista de Andrade, escrevia em 28 de outubro de 1873:
«Cada vez estou mais convencido dos inconvenientes da occupação militar em pontos a grande distancia do litoral. Os nossos interesses e a civilisação lucravam muito se para taes concelhos (do interior) em logar de soldados pela maior parte degredados por toda a qualidade de crimes, fossem mandados bons padres missionários, educados para civilisar o gentio, e que fossem bem remunerados a fim de não se afastarem da sua missão, com o cuidado de obterem meios para lhes assegurar o seu futuro. Só taes missionarios é que deviam ir por conta do estado para alem de Ambaca, permittindo-se a todas as mais classes de individuos irem por sua conta e risco para onde quizessem, com tanto que o governo só assegurasse a propriedade e protecção nos pontos onde póde mandar soccorros por meio de navios ou de lanchas. Assim podiamos sem grande sacrificio assegurar a protecção a todos os pontos do litoral desde o norte de Cabinda até ao sul de Mossamedes, e facil nos seria enviar soccorros a todos os pontos que occupassemos no Zaire, até Boma, assim como actualmente os mandâmos em lanchas pelo Dande até Caxito, e pelo Quanza aos concelhos de Calumbo, Massangano, Muxima e Cambambe.»
Como os acontecimentos se succedem rapidos!
Hoje esta idéa é que é mais do que velha, caduca, e a do sr. Calheiros, elaborada muito antes, readquiriu a opportunidade que aliás nunca devêra ter perdido na gestão da nossa politica ultramarina.
Mas nem ao litoral nem ao interior acudimoss.
Quando occupámos o Anbriz, - occupação que é um dos poucos actos energicos e brilhantes de toda esta nossa campanha do Zaire, mas do qual não soubemos tirar todas as necessarias vantagens que o traziam projectado e tentado de ha tanto, - muito naturalmente se pensou em assegurar o caminho de S. Salvador, ou mais propriamente os caminhos do commercio sertanejo, porque estes territorios ao sul do grande rio, que tão maltratados têem sido na critica politica da ultima hora, são atravessados pelas principaes correntes desse commercio que descem dos sertões centraes.
Todos sabem quanto é difficil desviar estas correntes do seu trilho e das suas relações tradicionaes, e comprehendem, todos que o nosso empenho fôra, e devia ser, como é necessario que seja ainda, evitar que ellas se lançassem para territorios e portos que não estivessem na nossa posse effectiva, repellidas por exacções fiscaes, desemparadas de segurança no seu trajecto, attrahidas por vantagens e facilidades maiores noutras partes.
Occupar o Ambriz para o dotar apenas com um pesado regimen aduaneiro, e não nos assegurarmos do sertão, e não conservarmos abertos os caminhos, parecera absurdo.
Um modesto official, o capitão Antonio Leite Mendes, encarregado em 1869 pelo governador de Angola, de estudar a questão commercial em relação á costa do norte, e que o fez com muito bom senso, lembrara o estabelecimento de feitorias no caminho do Bembe e em S. Salvador, a formação de uma forte companhia, portugueza, -