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vesse prescripção! E depois argumentam com o que fizeram as camaras passadas!..

Senhores! Acabemos com estas questões. As camaras passadas fizeram bem ou fizeram mal; se fizeram bem imitai-as; se fizeram mal, não as imiteis; mas accusais as camaras passadas pelo mal que fizeram, e estais a fazer o mesmo. Fallais nos corruptos e estais servilmente a imitar os corrupto; seguis as mesmas pegadas, tendes as mesmas ambições, tendes os mesmos desejos, o mesmo systema, a mesma vontade, a mesma incoherencia, a mesma insensatez. Fizestes uma revolução no paiz para emendar os erros e desacertos dos corruptos; emendais esses erros, emendais esses desacertos? Não; não sois senão a cópia servil dos corruptos; matastes os corruptos para vos apropriardes da sua herança; isto, senhores, e triste cousa!...

A questão é simples; servem ou não os terrenos para as linhas? Servem; então pague o governo os terrenos; não servem, largue-os. (Uma voz — E o que deve fazer) Mas é o que não se quer fazer; quer-se que venham primeiro informações; de maneira que o sr. José Estevão quer que a camara tome agora conhecimento do traçado das fortificações, e quando se tractou das expropriações para os caminhos de ferro exigindo alguns deputados que o traçado viesse á camara para se saber que direcção levava o caminho, o illustre deputado disse, que o parlamento não se podia occupar de similhante cousa... (O sr. José Estevão. — Declaro solemne e abertamente que protesto que taes expressões não saíram nem podiam saír da minha boca) Pois bem; não saíram da boca do illustre deputado, mas disse-se que isso era uma cousa de que o parlamento não se devia occupar. (O sr. Corrêa Caldeira: — Está no extracto da sessão)

E falla-se em obras publicas!.. Eu peço ao illustre deputado que dê um passeio um dia pela circumvallação, e que me diga, com a mão na consciencia, se já viu obra mais estupida e mais selvagem. (O sr. José Estevão: — Apoiado.) E gastou a nação 80 contos para se andar por cima de penedos e oiteiros, porque na circumvallação de Lisboa Os cantoneiros deitam para a estrada pedregulhos do tamanho daquelle fogão. (Riso) Ha pouco tempo, tendo de saír as barreiras de Lisboa, o acaso fez que, no meu regresso, encontrasse o sr. barão da Luz: eu parei e disse-lhe: — «V. ex.ª é que está incumbido da circumvallação de Lisboa? — Não, felizmente. — Pois dou-lhe os parabens, porque obra mais selvagem, mais estupida, mais bestial, não se tem practicado em parte alguma.»

Peço aos srs. ministros, que vão um dia passear á circumvallação de Lisboa, e se tiverem coragem para lá ir, digam-me depois como chegam de saude.

Falla-se no ministerio das obras publicas!... O ministerio das obras publicas não ha de fazer nada, salvo se se intende que se cumprem as condições desse ministerio, dizendo-se que as arvores dão sombra quando teem folha, (Riso) como eu vi escripto n'um documento, e tambem vi uma circular, recommendando aos governadores civis, que dissessem aos lavradores, que não deitassem semente podre á terra, porque não germinava!...

Sr. presidente, quando eu, e outros meus illustres collegas do lado direito da camara impugnámos certas medidas, porque ellas diziam respeito a certas pessoas, e não a todas, argumentou-se do lado esquerdo, dizendo-se: — Porque não se póde fazer o bem a todos, quereis que se não faça a ninguem — Eu agora digo da mesma, maneira: — «Porque não se póde pagar aos possuidores do papel moeda, porque não se podem pagar os depositos, não se ha de pagar a ninguem?» — De sorte que este é o systema de banca-rota indirecta: não se paga a ninguem, porque não se póde pagar a todos. Banca-rota para os proprietarios dos terrenos, banca rota para o banco, banca-rota para tudo, para haver dinheiro com que pagar aos empregados publicos e ao exercito! Aqui está o systema do governo, e para o apoiar os socialistas vendem a sua independencia a 20 e a 30$000 íeis por mez! Banca-rota para tudo, não se paga a ninguem, mas pagasse áquelles que gritam contra o governo, e áquelles que o sustentam!

Esta situação, sr. presidente, tem durado mais do que eu esperava; mas talvez não durasse o tempo que era preciso para que o paiz formasse ácerca della um processo definitivo, se não fosse o systema que se tem seguido: dura, porque o systema actual conseguiu pôr os pagamentos em dia — nós sabemos com que recursos, que foi espoliando e deixando de pagar a uns e a outros, mas pagando em dia aos seus empregados e ao exercito — dura, porque de mais a mais tapa a boca a quem grita contra elle. N'um paiz pequenito, como este, e de pouca moralidade, como elle tem, e um governo que vai muito adiante! Quem grita contra o governo, vende-se-lhe depois — o mercado é largo.

Em Portugal, sr. presidente, os exercitos é que sustentam o governo. Os srs. ministros não fazem caso de nenhuma reclamação, por mais justa que seja, mas fazem caso do exercito, é o que basta!

Mas, sr. presidente, se v. ex.ª for passear por essas chamadas linhas de defeza de Lisboa, verá que aquellas linhas não defendem nada. Ella, no seu principio, quando estavam boas, eram obras ligeiras de campanha em estado de imperfeição; e sendo imperfeitas na sua origem, no estado de ruina em que estão hoje, se o governo tivesse de estabelecer linhas de defeza em Lisboa, tinha de as fazer de novo, e talvez em virtude de outro traçado.

As linhas de defeza de Lisboa não servem para defender, e depois não ha ninguem que ameace invadir-nos. E se acaso uma força estrangeira quizesse vir sobre Lisboa, apesar de me fiar muito, talvez de mais, na valentia do nosso exercito, não acredito que em Portugal haja exercito para se lhe oppôr. — Não creio que lenhamos exercito para se oppôr a uma invasão que viesse, pela foz do Tejo, de Fiança, ou de Inglaterra, ou mesmo da Hespanha. Não creio que 20:000 homens podessem oppôr um dique, uma barreira a essa invasão.

Por conseguinte, a nossa independencia é sustentada por uma necessidade européa e proteccionada; embora isto seja pouco decente para se dizer, porque deve estimular o brio e o amor proprio nacional. A nossa independencia é uma independencia protegida e garantida pelo protectorado inglez: isto é um facto.

Quem quer elevar uma nação de 3 milhões de habitantes, pequena, pobre, dividida e subdividida em partidos, extenuada por luctas incessantes, á altura de grande potencia, capaz de arrostar com a França, Inglaterra, ou Hespanha, é um grande poeta, mas não é um homem práctico.