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SESSÃO NOCTURNA DE 9 DE JUNHO DE 1888 1927

sima qualidade, e o official que uma vez cáe nas mãos do alfaiate, nunca mais se livra.

Para evitar este estado de cousas, eu já tive a honra de apresentar n'esta casa um projecto de lei, para estabelecer casões com o fim dos officiaes se vestirem.

Esta medida que propuz não dá augmento de despeza, e os officiaes podiam vestir com 50 por cento de abatimento, o que é importante para os seus recursos.

Se este projecto fosse convertido em lei, os officiaes lucrariam bastante, sem que o thesouro soffresse o mais leve desfalque.

Uma organisação de exercito não produz logo os seus resultados. É necessario esperar algum tempo para se fortificarem as medidas adoptadas, é necessario ir sempre cautelosa e prudentemente melhorando os diversos serviços accessorios, e acompanhando os progressos que vão fazendo as nações mais adiantadas.

A guerra é hoje uma sciencia que vae constantemente progredindo.

Novos inventos se descobrem para substituir os antigos, que são postos de parte como obsoletos; novos serviços se melhoram e aperfeiçoam pacientemente.

Todos sabem que, se a Alemanha teme o seu exercito no estado de perfeição a que chegou, é porque tem emprega do toda a sua actividade, todos os seus cuidados e desvelos em melhorar esta instituição que é a primeira d'aquelle paiz, e a que deve toda a sua gloria, grandeza e prosperidade.

Desde a paz de Tilsit, que se seguiu á derrota de Jena, que a Prussia emprega, todos os seus cuidados na reconstituição do seu exercito. É preciso mais dizer, que todas as classes cooperam e contribuem ali para o desenvolvimento o aperfeiçoamento do exercito, facto este que entre nós infelizmente não acontece.

O lemma de Moltke de que o primeiro dever de uma nação é cuidar do seu exercito, de modo que elle possa com segurança defender-se dos seus inimigos internos e externos, é ali convenientemente comprehendido e executado.

O exercito é o verdadeiro paladium da nação. É ao abrigo das suas bandeiras que os povos vivem e se engrandecem, que o commercio e industria prosperam e as artes se desenvolvem.

Portanto é necessario que toda a nação contribua para o desenvolvimento do exercito, a fim de chegar á altura de bem defender a patria (Apoiados.)

Em quasi todos os paizes do mundo ha uma lucta constante para interessar as classes sociaes no progresso e desenvolvimento do exercito, não comprehendendo que é a instituição que lhe devia merecer mais desvelos, e com a qual a nação devia estar perfeitamente identificada.

Os paizes que assim não pensam cedo ou tarde pagam os seus erros.

Na Inglaterra, lord Wellington, por muitas e variadas vezes chamou a attenção do parlamento para o estado de desarmamento em que se achavam as costas e os arsenaes d'aquelle paiz, o que era devido a não se terem votado depois de 1815 os fundos necessarios para as obras militares, não progredindo as que se achavam em construcção e deteriorando se as que havia.

Este illustre general encontrou uma resistencia tenaz á realisação dos seus desejos patrioticos.

Porem, quando o principe Luiz Napoleão foi elevado a presidenta da republica franceza, houve em Inglaterra um verdadeiro panico, com receio de uma invasão franceza.

Então os voluntarios correram a alistar-se nos regimentos, o parlamento votou logo £ 12.000:000 ou réis 54.000:000$000, para fortificar os arsenaes e os portos, e a tudo se deu impulso com uma notavel actividade.

Todos lamentavam não ter dado ouvidos aos conselhos patrioticos de Wellington.

Por consequencia lá como cá, só se lembram de Santa Barbara quando ha receio de trovões.

Quero com isto mostrar que não é original o que se dá entre nós.

Não sejamos pessimistas; o nosso exercito não está bom, mas póde ir-se melhorando successiva e gradualmente, se ara isso concorrerem todos os esforços e e paiz se convencer que, do bom exercito depende a sua independencia.

Mas o que é mau, é quasi toda a gente, que não é militar, cooperar para difficultar o desenvolvimento e o progresso d'esta instituição que é a salvaguarda das instituições e a garantia da independencia da patria. (Apoiados.)

Diz-se, por exemplo, que nós estamos livres de ter uma guerra, e que por isso não necessitâmos ter uma organisação militar como têem as nações poderosas e ricas.

Este principio é completamente falso, e a historia diz-nos se devemos estar confiantes n'estas theorias.

Porém, dado de barato, que têem rasão os que assim pensam, no que todos estamos de accordo, creio eu, é em conservar as nossas instituições, e manter a nossa autonomia e neutralidade.

Para isso, é necessario um exercito forte, aguerrido, e disciplinado, porque do contrario não podemos garantir nenhuma d'estas cousas.

O illustre deputado e meu amigo o sr. Avellar Machado disse, e disse muito bem, que quando ha lucta entre as grandes potencias, sempre estão em jogo as nações pequenas.

Assim a Belgica, quando se deu a guerra de 1866 entre a Prussia e a Austria, esteve em risco de ser absorvida pela França.

Foi com este plano que a Prussia comprou a neutralidade da Franca.

Se a Belgica não tivesse um exercito, pequeno é verdade, mas aguerrido e disciplinado, e um bom plano de fortificações e sufficiente systema militar, talvez tivesse perdido a sua autonomia.

Em 1870 as duas nações que se gladiaram, a França e Allemanha, pensaram cada uma pelo seu lado, na hypothese de terem de atravessar o territorio suisso com o seu exercito, e ambas, o notificaram áquella nação.

A Suissa, porém, declarou que se recusava a consentir que o seu territorio fosse atravessado pelas forças de qualquer dos dois paizes belligerantes.

Immediatamente poz o exercito em pé de guerra e conservou a sua autonomia e neuturalidade, e todos sabemos que esta nação pequena se fez respeitar.

Por conseguinte se as nações pequenas não devem pensar em ter exercito para fazerem a guerra offensiva, precisam comtudo ter exercitos aguerridos e disciplinados para manterem a sua autonomia e neutralidade.

Todos sabem e o sr. Avellar Machado o disse, que sempre que ha uma lucta entre duas nações poderosas, a nossa autonomia está muito arriscada, a nossa independencia está priclitante, porque estamos em risco de ser absorvidos pela Hespanha.

A annexação de Portugal á Hespanha é a instante aspiração d'aquelle povo.

Para a união iberica não ha em Hespanha divergencias, todos estão de accordo, todos ligados pelo mesmo pensar.

Este plano tem entrado nos calculos do governo hespanhol em mais de uma conjunctura.

Sempre que for necessario conquistar a adhesão da Hespanha ou mesmo a sua neutralidade, Portugal é logo offerecido para amaciar resistencias.

Tudo só conseguirá da Hespanha comtanto que lhe consintam apoderar-se do nosso paiz.

Comprehende-se bem que não podemos adormecer, nem viver a respeito da nossa independencia n'uma tranquillidade absoluta, porque quando menos pensarmos póde estar arriscada.

Eu vou provar a v. exa., á camara e ao paiz, que ha menos tempo do que muita gente imagina estivemos em risco de ser absorvidos pela Hespanha.

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