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não me importa senão regular-me pelas considerações do bem publico, e não me falta voz, nem acção, para tractar, como devem ser tractadas, todas as situações possiveis, todas as situações provaveis, futuras, ou que succederem a esta, porque hei de tractal-as como fôr conveniente ao paiz. (Apoiados)

Sr. presidente, acaso a camara precisa destas questões repentinas, destas emoções polluidas, destas marés de sentimentalismo, ou desta facundia de sinceridade, para reconhecer a justiça e a razão com que deve decidir-se em objectos desta ordem! Seguramente não. (Apoiados) Acaso estes sentimentos que estão no nosso corarão, morrem hoje, ou passando o limiar destas portas, teem de atravessar o Lethes! Por ventura ámanhã, d'aqui a dois ou tres dias, não achamos em nós mesmos os mesmos sentimentos que hoje nos animam a votar esta pensão! Não encontramos em nossos corações a mesma perseverança, a mesma disposição em acatar e respeitar a virtude e a honra onde ella existir.

Oh! admiraveis censores das suas proprias virtudes e das suas qualidades!... Depressa, depressa, em quanto a camara dos deputados da nação portugueza está no momento de considerar as acções de energia e de valor, e de attender a estes objectos, e votar taes pensões! Depressa, senão daqui a uma hora será tarde; ámanhã já a camara não pensará do mesmo modo; (será outra, e não esta, sereis vós e não nós) já a camara não prestará homenagem ao pensamento politico, e altamente generoso, que dictou o projecto em discussão; já não será uma camara composta de homens graves e distinctos, de homens dirigidos por um coração nobre e generoso, e não por sentimentos mesquinhos que só professa quem varia segundo a atmosfera politica em que vive, ou a que aspira de viver. (Muito bem)

Sr. Presidente, eu louvo a proposta do nobre duque de Saldanha, e digo, se quizerem, que foi só elle, sem mesmo consultar a vontade de seus collegas, que tomou a iniciativa neste projecto, porque uma questão desta ordem, tractada na esfera dos mais nobres sentimentos, é uma questão onde não chega a alçada das questões ministeriaes. Este procedimento é digno do illustre marechal duque de Saldanha.

Vote, pois, cada um como intender; votem contra o adiamento aquelles que suppõem que isto importa o não querer votar a pensão; mas eu que pedi repetidas vezes ao duque de Saldanha, que lhe apresentei essa viuva, mãi do menor de que se tracta, que me carregou de memorias, e que achou em mim um advogado tão sollicito, como não encontrára naquelles que hoje entram com tanto calor nesta questão, poder-se-ha suppôr um só momento, que pretenda que se não vote esta pensão?

Mas que tem o interesse com que demos ha pouco a pensão que se votou silenciosamente, com a pensão que se tracta agora, para ser votada hoje infallivelmente? Pois a pensão que se quer votar agora, e a que acabou de votar-se, não são duas cousas absolutamente distinctissimas? N'uma não premiamos nós actos de valor, porque o bravo militar áquem demos essa pensão, era certamente muito valoroso, mas não fez acto nenhum de valor, que merecesse a remuneração que se lhe deu; mas nós consideramos e prestamos attenção a uma grande desgraça acontecida a um mancebo que, no meio de uma carreira brilhante, na flor da idade, cheio de energia e de vida, nós vemos hoje num estado de languidez que punge, aquella fisionomia tão sympathica, porque, na verdade, ninguem póde deixar de commover-se quando olha para aquellas orbitas descarnadas e seccas, ninguem póde deixar de sentir a falta dos astros que alli brilhavam. Mas aqui de que se tracta? Tracta-se de dar uma educação a um moço filho de um valente militar, que practicou uma grande acção, e um grande feito de disciplina. O primeiro é um acto de beneficencia e de consideração; o segundo é um acto de justiça, é um acto de politica, e que nós consideramos como incentivo da boa disciplina, e dos deveres militares. Mas acolá votamos a pensão sem discussão, porque não havia que discutir; o discurso era artistico para o deputado que o fizesse; assim a camara votou silenciosa sobre essa pensão; aqui ha muito que discutir. Lá foi o sentimento do coração a favor de uma grande desgraça; aqui são as considerações do bem publico que nos levaram a fazer algumas reflexões. Que paridade ha nisto? Nenhuma. Votemos esta pensão hoje, porque votamos a outra, porque estamos debaixo da impressão de 24 horas! Eu na verdade acho que é um inconveniente gravissimo se derem as 4 horas, e esta pensão não fôr votada! Como havemos de passar por essas ruas, nós, que hoje votamos uma pensão, e que consentimos em metter um domingo de permeio para votar a outra pensão! Pois porque a camara adie esta pensão até segunda-feira, ou por alguns dias, segue-se que, quando vier outra vez a discussão, a camara a não vote!

Mas que paridade haveria entre a necessidade de prover á educação de um infante desvalido, á de galardoar um feito de valor, e a capitalisação, córtes de juros, conversões forçadas e não forçadas, as operações financeiras, e o systema do governo e a opinião financeira de um deputado. Haverá alguma cousa, entre isto, de paridade? Não ha nada, absolutamente nada...

Uma voz: — Deram 4 horas.

O Orador: — Sr. presidente, eu sinto muito que o relogio viesse adiar a materia, e certamente não nos devemos queixar a v. ex.ª, de que não se podesse tomar alguma resolução para nos eximirmos a esta impopularidade das 24 horas, que, na verdade, não sei que ha de ser de nós.

O sr. Presidente. — A ordem do dia para segunda-feira é a continuação da de hoje; e, se houver tempo, dividir-se-ha a camara em commissões. — Está levantada a sessão. — Eram quatro horas da tarde.

O REDACTOR

José de Castro Freire de Macedo.