2000
DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Sr. presidente, não se póde aqui vir fazer accusações, fundando-se no que dizem os jornaes. (Apoiados.)
Se este processo fosse bastante para excluir qualquer individuo do serviço publico, poucos homens n'este paiz poderiam ser nomeados para empregos publicos, porque poucos serão áquelles que não tenham sido accusados pelos jornaes. (Apoiados.)
Respeito muito a imprensa. Nasci ahi, estivo lá por muito tempo, tenho veneração por ella, mas a imprensa póde errar quando tem accusado ou elogiado certos individuos, e por isso o governo precisa de factos serios e fundamentados para determinar a sua opinião. (Apoiados.)
Parece-me que o illustre deputado até foi o primeiro a declarar, que não tomava a responsabilidade das accusações que se faziam! e por consequencia, s. ex.ª não pode estranhar o meu procedimento pela nomeação do funccionario a que se referiu.
Não sei se estas explicações satisfarão o illustre deputado; não tenho outras que dar-lhe. Entretanto, se s. ex.ª formular a sua accusação do um modo claro e peremptorio, espero poder-me justificar perante a camara. (Muitos apoiados.)
Agora vou referir-me ao que ha pouco disse o illustre deputado o sr. Fuschini; e a esse respeito direi, como é minha obrigação, que estou prompto a responder, quanto em mim couber, ás perguntas que o illustre deputado entender dever dirigir-me.
Entretanto confio da benevolencia do illustre deputado, que quando as suas perguntas forem de tal maneira fulminantes que não possa dar desde logo uma resposta cabal e completa, s. ex.ª terá a bondade de esperar que me habilite para dar-lhe resposta.
Parece-me que...
O sr. Fuschini: — Não fui violento; o se alguma vez o fui, tenho aprendido com s. ex.ª
O Orador: Digo e affirmo ao illustre deputado, que não me envergonho das minhas violencias. (Apoiados.) Cada um é como é...
(Interrupção do sr. Fuschini.)
Exactamente. Eu sou o que sou e o sr. deputado ê o que é, nem mais nem menos.
Agora direi a s. ex.ª que não lhe chamei violento; o que eu disse, foi que se as suas accusações fossem de tal maneira fulminantes contra mim, que não podesse desde logo responder-lhe, confiava da benevolencia de s. ex.ª que me concederia o tempo necessario para me habilitar a dar resposta cabal e completa.
E realmente é para notar que quando estou sendo extremamente amavel para com o illustre deputado, s. ex.ª esteja tirando partido da suavidade das minhas phrases, armando se em guerra contra mim!
Já vejo que é infelicidade minha!
Mas se infelizmente não posso converter em meu favor as iras e o odio do illustre deputado, que parece manifestar-se tão irritado contra mim, ao menos peço a s. ex.ª que use para comnosco d'aquella benevolencia de que tantas vezes deu provas n'esta camara em relação ao ministerio que apoiou, não dando-nos a sua confiança, mas dispensando nos a indulgencia que não é costume negar-se.
Não tenho mais explicações que dar á camara. V. ex.ª sabe que estou disposto a dar todas quantas explicações o sr. deputado ou outro qualquer me peça, 0 se ellas não satisfizerem, creia a camara que a culpa será do meu entendimento e nunca da minha vontade.
(O sr. ministro não reviu este discurso.)
O sr. Alfredo Peixoto: — Nem fiz accusações, nem pedi explicações ao sr. ministro do reino. Não sei, pois, a que proposito veiu o longo discurso de s. ex.ª com insinuação que implicitamente n elle envolveu, de que eu havia feito accusações vagas.
Não fiz accusações. Disso que s. ex.ª tinha escolhido para um alto cargo administrativo, um homem a quem os mesmos partidarios de s. ex.ª tinham accusado de faltas gravissimas; não permittia a lealdade do meu caracter que eu assumisse a responsabilidade d'essas accusações, nem por agora a assumo, porque não conheço os factos o todas as suas circumstancias com a exactidão necessaria para accusar, nem estou disposto a conhecel-os.
Ao ministerio publico compete promover a averiguação dos mesmos factos, que aliás são do dominio publico.
O que me causou estranheza foi que o sr. ministro do reino fosso escolher para um cargo importante um individuo que partidarios seus têem accusado de graves faltas, do faltas que, sendo provadas, importam inhabilitações para qualquer emprego publico.
Se ha fundamento n'essas accusações, o sr. ministro do reino foi infeliz na escolha do magistrado accusado, se não ha fundamento, é certo que os partidarios de s. ex.ª não duvidam calumniar na honra e probidade um homem do seu partido.
Repito, não assumo a responsabilidade das accusações, nem tenho obrigação de dizer o nome do magistrado a quem essas accusações foram dirigidas.
De todo o pessoal administrativo que o sr. ministro do reino escolheu, só conheço esse individuo que tem sido accusado pelos correligionarios de s. ex.ª, que assumirão sem duvida a responsabilidade de taes accusações, logo que lhes for exigida.
O sr. Fuschini: — Diz o Evangelho que é mais grato a Deus a regeneração de um peccador, do que a glorificação de cem justos; pois eu consegui regenerar o sr. ministro do reino?!
S. ex.ª, que n'esta camara apresentou haverá dias principios pouco parlamentares e ainda menos constitucionaes, acaba agora de omittir opiniões completamente differentes!
S. ex.ª que não só disse claramente, mas fez escrever, que achava inopportunas quaesquer respostas dadas pelo governo aos membros da maioria, desde que esta votou a moção de desconfiança, acaba de nos dizer o contrario!
Estou,» pois, muitissimo satisfeito, porque effectivamente imagino ter concorrido para o bem geral do paiz e para a regeneração moral do sr. ministro do reino, o que é tambem um ponto especial importante.
E como s. ex.ª se referiu, ti minha linguagem fulminante respondo exactamente como s. ex.ª cada um é o que é, este é o resultado da minha organisaçao, parece-me todavia que no pequeno discurso que em outro dia fiz, não ataquei nenhuma das qualidades individuaes dos srs. ministros nada disse que podesse ferir os caracteres de s. ex.ªs se houvesse de o fazer, o que pensa a Deus não succeda jamais, fal-o-ia com justiça, não ignorando que este logar é menos proprio para isso... o logar então não seria este.
Agora devo fazer notar ao sr. ministro que os maus exemplos são perniciosos.
Entrei n'esta casa cordato e sereno; quando, porém, me habituei a apreciar os discursos tribunicios de s. ex.ª, e tantos foram elles! Quando principalmente escutei aquelle famoso discurso pronunciado em uma poética meia noite de abril enluvado na sua bella eloquencia, comprehendi que s. ex.ª antes de ser um parlamentar distincto era um tribuno admiravel.
Então senti igualmente grandes tendencias para ser tribuno, e como mestre o adoptei.
Se s. ex.ª entende que sou violento, de si se queixe o não de mim.
Como mestre o reconheço e oxalá que o obscuro discipulo possa ainda dar alguns dias de satisfação ao seu mestre illustre...
O sr. Ministro do Reino: — Não estou em contradicção com o que disse ha pouco n'esta camara. Entendo que depois da approvação da moção do dia 2 d'este mez, o governo não póde ter mais relações com a camara, se não aquellas que forem absolutamente indispensaveis para