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SESSÃO DE 16 DE JUNHO DE 1885 2313

deiro aluado em Africa, - o mais leal e o mais sincero, é simplesmente o indigena. (Apoiados.)
Esta tem sido, esta é a tradicção portugueza, nem fóra d'ella encontrámos alliança mais proveitosa e segura, mais consoante e acommodaticia aos nossos interesses coloniaes.
Mas é claro que se o eminente estadista podesse ter seguido e amparado por mais tempo o seu largo e ousado plano de política colonial; se tivesse podido, ao menos, concertar e adaptar o machinismo da administração a este movimento novo, aquelles inconvenientes e aquelles perigos, teriam sido, naturalmente, ladeados ou vencidos.
Na sua rapida passagem pelo poder, o sr. visconde de S. Januario, assentou principalmente a sua iniciativa intelligente e praticamente educada, na preparação do credito colonial, - base irrecusável, pouco estudada e pouco comprehendida, que tem de ser comtudo a base principal da nossa regeneração ultramarina; - na organisação da fazenda, - outro problema sempre adiado e sempre instante;- na continuação das explorações africanas sob a intenção ao mesmo tempo politica e economica que as circumstancias aconselham, - na systematisação definitiva do serviço das obras publicas.
Uma instituição que fôra sempre uma das nossas grandes forças de prestigio e de dominação ultramarina, procurou o illustre ministro refundir e avigorar, arrancando-a ao abatimento e á ruina, quasi completa em que a encontrou e em que melhor fôra deixal-a desapparecer, do que habilital-a a arrastar-se, como ultimamente se fez, com bem melhor intenção, de certo.
Refiro-me ás missões portuguezas, á igreja missionaria do ultramar, cuja reorganisação o sr. visconde de S. Januario promoveu. (Apoiados.)
Nomeou s. exa. uma commissão que trabalhou dedicada e valentemente, como poucas, - posso asseveral-o, - e que chegou a elaborar um conjunto de projectos importantes, para que podessemos readquirir, - temperada nas necessidades e nos exemplos modernos - aquella força que tem sido das mais productivas e póde ser das mais uteis, na conquista pacifica dos sertões barbaros: - o missionario.
Fui inesperadamente chamado por s. exa. a fazer parte d'essa commissão, para continuar n'ella o pensamento liberal e político do illustre estadista, e não, decerto, para auxilial-a com os meus conhecimentos que eram nullos e com a minha auctoridade que, se fosse alguma, até parecera suspeita.
Mas é que o sr. visconde de S. Januario vendo a invasão religiosa, emparceirada com a invasão commercial e politica, preparando-a e auxiliando-a até nos nossos territórios ultramarinos, e muito designadamente nos nossos territorios do Congo, comprehendia que o missionário era principalmente uma arma de guerra, um elemento de influencia, de prestigio, de civilisação, como o tem sido para a Inglaterra, em Africa, para a França no oriente.
Serviam-se contra nós d'esta arma; era necessario, era urgente que combatessemos tambem com ella.
Alem de que o estado da nossa igreja ultramarina, á qual se prendem tantos interesses e tantas tradições de um caracter profundamente nacional, exigia uma acção protectora e estimulante, cujo adiamento não era isempto de perigos e accumulára já muitas fraquezas e vergonhas.
Precisamente havia, e não deixou de haver, uma questão do Zaire com Roma, como havia a questão do Zaire com a Inglaterra. Creio, que nem todos sabem isto.
Dois dos projectos da commissão foram convertidos em decretos, mas nem por isso foram mais felizes do que os outros, porque esses decretos ficaram e estão por executar.
Referia-se um a Macau; organisava o outro a preparação e instrucção missionaria na India, baseando-se n'um relatorio importantissimo de um dos prelados mais distinctos e mais dedicados á causa do padroado portuguez que temos tido, o dr. Ayres de Ornellas.
Relativamente á instituição, por assim dizer, inicial, começámos por supprimir, que nem havia outro remedio serio, o que se convencionou chamar seminario das missões.
O seminario de Sarnache do Bom Jardim, produzia pouco e caro, sobretudo não produzia o missionario moderno.
Os seus alumnos custavam 9:000$000 réis cada um, recebendo apenas, ali, uma instrucção ligeira e incompleta, inferior á nossa instrucção secundaria. (Apoiados.)
Alguns missionarios dedicados e intelligentes que temos por essas colonias, podemos bem dizer que os não devemos a Sarnache.
Fizeram-se elles, honra lhes seja, com um nobre esforço de vontade e de estudo.
Sinto que o actual sr. ministro do ultramar, o meu illustrado amigo, parecesse repellir o pensamento da commissão, conservando aquelle seminario.
Os missionarios não hão de ser mais e melhores. Custarão mais caros, apenas.
O sr. Ministro da Marinha (Pinheiro Chagas): - Creio que o illustre deputado não se refere ao edifício do seminario, porque não são os muros do seminario que fazem mal aos missionarios. Eu fiz a reforma d'aquelle estabelecimento, baseando-me no parecer de uma commissão de que fazia parte o sr. bispo de Angola e do Congo, e parece-me que não sou muito digno de merecer a censura do illustre deputado.
O Orador: - Acho que o nobre ministro fez muito bem consultando sobre essa reforma um cavalheiro que é realmente de inteira confiança.
Mas que s. exa. me permitia lembrar-lhe que o parecer ou projecto d'essa commissão começava por este artigo: «É supprimido o seminario de Sarnache.»
A base era esta.
O trabalho da commissão formava um todo homogeneo, harmonico, necessario.
Em todo o caso, a commissão funccionava ainda junto do ministerio do ultramar. Não foi dissolvida por ora.
E é pena que os seus trabalhos, aquelle mesmo que foi já convertido em decreto, e que respeita á India, continuem a ser letra morta.
O sr. Ministro da Marinha (Pinheiro Chagas): - O illustre deputado sabe que temos tido pendente a questão do padroado.
O Orador: - Precisamente. Temos a questão do padroado na India, e temos a questão do padroado na Africa.
Por isso mesmo, se estas reformas se tivessem feito, talvez podessemos responder melhor ás accusações e ás injustiças da curia e da propaganda fide.
Porque o padroeiro não tem só gloriosos direitos, tem tambem deveres que são, por igual, gloriosos, e que nos são particularmente uteis. É tempo de nos compenetrarmos d'isto. (Apoiados.)
Temos deixado chegar a igreja militante do ultramar a um estado profundamente vergonhoso.
Desarmámo-nos d'esta força; mais ainda: voltámol-a contra nós.
Foi isto o que disse a commissão, composta, salvo a pequena excepção casual da minha incompetência, de auctoridades irrecusaveis.
Foi a isto que o sr. visconde de S. Januario e essa commissão procuraram dar remedio efficaz e prompto.
Eu vejo estas cousas como as pensava o honrado estadista: - pelo lado político, nacional. Exponho-as, lealmente, como me acodem da consciencia á bôca. Peço desculpa de me ter demorado n'ellas mais do que devera.
Mas é que o missionario moderno é mais alguma cousa, ou é outra cousa mais do que o precursor evangelico. Conta-se até que o percebera o instincto de um barbaro. Ao missionario segue-se o negociante, e vem depois o soldado, disse o Zulo.
E n'esta batalha do Zaire, quem n'ella andou tem mais