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2318 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nós se definira antes da conferencia, e para que lealmente se julgue quanto vale e quanto representa o resultado que conseguimos obter na batalha de Berlim. (Apoiados.)
E passo adiante, para me occupar d'ella.
Mas não deixarei de alludir a dois pontos que nesta discussão, e n'esta altura do assumpto, foram por diversas vezes tocados.
Tem-se fallado muito na influencia que a clausula do tratado anglo-portuguez, relativamente a Ajudá, teve na altitude da Franca, a primeira potencia que abriu a guerra contra esse tratado e contra a nossa jurisdição no Zaire, antepondo-lhe a proposta de uma jurisdicção internacional.
Cedendo de preferencia á Inglaterra, o chamado forte de S. João Baptista de Ajuda, se resolvessemos cedel-o a alguém, não cederíamos realmente uma grande cousa que poderosamente influisse por si, apenas, na acção da França ou da Inglaterra, em relação áquellas paragens.
A França tivera ou tinha ali um estabelecimento analogo.
Mas é certo que as duas nações se encontram n'aquella costa, ou mais propriamente em toda a região do Niger n'uma concorrencia ou n'uma hostilidade latente de influencia e de interesses, e conhecem todos, mais ou menos, os projectos francezes de penetração pelo Senegal e pelo Alto Niger.
Vem a proposito referir um facto que é pouco conhecido e que mostra como por má organisação de certos serviços publicos entre nós, succede ás vezes que os estranhos, negociando comnosco, estejam melhor informados das nossas cousas do que os nossos proprios negociadores.
Exigia a Inglaterra a cedência eventual dos direitos que podessemos ter a territorios situados entre os dois meridianos 5.° e 5.°, na costa dos Escravos.
Não encontrando ali senão o chamado forte de S. João Baptista de Ajudá, o sr. Serpa não viu, - e muito naturalmente, - que valesse a pena arriscar por tão pouco a negociação.
Valorisavamos, pela primeira vez esse arruinado predio, de que até andávamos de ha muito com manifesta vontade de nos ver livres.
Mas o que s. exa. não sabia, e não era sua a culpa, era que os francezes promoviam com muito empenho, junto do rei de Dahomé, a cedência que elle recusava, de importantes territorios em Ajudá, e que por outro lado aquelle potentado offerecia a Portugal o protectorado de todo o litoral do seu reino, - posição de uma particular importancia que nos collocava entre a expansão ingleza e franceza, na costa.
Em janeiro de 1884 seguia de S. Thomé para Ajudá, uma canhoneira commandada por um dos nossos distinctos officiaes de marinha com instrucções para tratar d'este assumpto realmente opportuno e grave.
Tenho aqui uma copia do interessante relatorio inedito d'esse official, que obtive por necessidade de serviço publico, e só lamento que as suas indicações e idéas pareçam não ter suscitado a attenção que merecem e que os nossos proprios interesses aconselham.
O sr. Ministro da Marinha: - Diz s. exa. que não se fez cousa alguma, e que o relatório do sr. Alves Branco não foi publicado. O relatório foi enviado ao ministerio dos negócios estrangeiros, e tem-se trabalhado no sentido indicado pelo sr. Alves Branco. Foi agora a Ajuda tratar disso o secretario do governo geral de S. Thomé. O relatorio não foi publicado, porque não se julgou conveniente fazer essa publicação.
O Orador: - Eu não estou accusando ninguem, e muito menos o sr. ministro da marinha e ultramar.
Quando estes factos se passavam, creio que ainda s. exa. não era ministro. E que o fosse...
O sr. Ministro da Marinha (Pinheiro Chagas): - Eu já era ministro quando chegou o relatorio do sr. Alves Branco.
O Orador: - Repito: não estou accusando ninguem.
O que me parece é que s. exa. está sob uma apprehensão que é para mim muito desagradavel e ingrata.
Sei que o relatorio foi para o ministerio dos negocios estrangeiros.
Se fui eu até quem pediu que fosse, quando parti para Berlim! N'essa occasião já o tratado anglo-portuguez tinha sido abandonado.
Fez-se alguma coisa, disse s. exa.
Pois ainda bem. Mas levou algum tempo.
De resto estimo e creio que s. exa. tenha posto no assumpto o seu esclarecido criterio.
Ha ali qualquer coisa que realmente o merece.
Mas veiu-me isto á lembrança com o outro ponto a que tencionava referir-me; com a idéa em que tanto se tem insistido nesta discussão de que não andavamos suficientemente informados da attitude e dos propósitos da política allemã, ou da politica do grande chanceller, relativamente á questão colonial.
Certamente; nós somos um pouco desleixados n'isto de saber o que se prepara ou o que está para acontecer, mesmo nos limites, que no caso sujeito não são muito largos, de uma vigilancia ou de uma previsão regular. A respeito de colonias, então, tem sido geralmente uma lastima. Nem temos as coisas dispostas, para isso. (Apoiados.)
Todos terão passado alguma vez, sobretudo n'estas questões coloniaes, nesta questão do Zaire, por exemplo, pela curiosa surpreza de ver que os estranhos e até às vezes os inimigos, andam melhor informados do que nós, do que mais nos interessava saber ou do que nos vae por casa.
Elles têem tido uma espécie de policia política muito bem organisada, e estou-me recordando agora de que um governador de Angola, o sr. visconde de Pinheiro, expunha, em 1853, ao governo, as difficuldades em que se via para esconder os seus projectos e as suas ordens, relativamente á occupação do Ambriz e de Cabinda, da insoffrida curiosidade de certo representante estrangeiro de quem se contava que recebia annualmente 3:000 libras para satisfazer aquella curiosidade.
A politica internacional como todas as cousas deste mundo, não se compõe apenas de aspectos elevados e de acções grandiosas e francas.
Experimentámol-o duramente n'esta questão do Zaire que até n'isto é lição.
A espionagem, a propaganda e a intriga, - porque não ha de dizer se, se o sentiram todos? - Fizeram por toda a parte, um bom e activo serviço... contra nós.
Mas o caso agora é muito diverso.
Que a nossa diplomacia surprehendesse em 1883 o que havia de resolver o governo allemão nos fins de 1884, parece exigencia de mais. Alem de que francamente não havia que surprehender cousa alguma.
O alargamento, a expansão progressiva da industria, do commercio, da colonisação privada allemã, por essas regiões ultramarinas alem, não tinha nada de mysterioso e occulto.
Era um facto que todos podiam palpar no estudo ou seguir nas gazetas. Mais ainda: - era uma lei.
O movimento de opinião, de propaganda, de interesses, - e tambem um pouco, de illusões, é claro, - que se manifestava na Allemanha, relativamente á formação de novos mercados, - ou á formação de uma política colonial, propria, - manifestava-se, argumentava e crescia a plena luz, aos olhos de todos, nos livros, nos jornaes, nas sociedades, nas corporações de commercio.
Vinha de longe; vinha da vespera da guerra franco-allemã
Não começara ha dois annos.
Tanto se havia de contar com elle em 1884, como em 1879, como muitos annos antes. (Apoiados.)