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SESSÃO DE 16 DE JUNHO DE 1885 2319

Precisamente em 1879 ia já bastante adiantada aquella questão de Samoa, a que se alludiu aqui: - fazia-se o tratado entre a Allemanha e o chefe indigena, e desde 1860 que a casa Godeffroy, de Hamburgo semeava as suas feitorias e fazia as suas acquisições territoriaes, no longiquo archipelago.
Na Africa, vimos já como desde 1870, pelo menos, os allemães tomavam uma parte importante na exploração das costas e dos sertões.
Ali mesmo ao sul de Angola, o Ovampo ou a Namaqua andavam trabalhados de ha muito pelos missionários de alem do Rheno.
Sabia isto toda a gente. Não era necessario conhecer o allemão ou fazer diplomacia esperta.
D'aqui porém a uma politica definida e adoptada de interferência e de acquisição official e directa de colonias, a distancia era considerável, e mantinha-se em 1884 como muitos annos antes. Folgo em levantar de sobre o nosso honrado e intelligente representante em Berlim; - espirito esclarecido e pratico, caracter nobilissimo, acrisolado no serviço da patria, - uma accusação que considero profundamente injusta. (Apoiados.)
E não só me é grato, mas fácil, cumprir este dever de consciencia.
O que o sr. marquez de Penafiel, - tendo particularmente de occupar-se da questão politica do Zaire, e extractando uma conversação official, dizia para Lisboa em 30 de outubro de 1883: - que dessa conversação inferia que o governo allemão não resolvera, ainda, adoptar aquelle movimento colonial, - dizia, ainda, quasi seis mezes depois e muito approximadamente, lord Amphill ao governo inglez, e pensava-o este, já então a braços com a questão de Angra Pequena e do Pacifico.
Não póde dar-se evidentemente ás palavras do nosso ministro a extensão que se lhe tem querido attribuir e que ellas proprias repellem.
Elle não se refere á Allemanha-nação, que conhece de ha muito, como poucos, que conhece melhor do que aquelles que o accusam, mas á Allemanha-governo que se declarava alheio, e se mostrava por largo tempo hostil, á expansão colonial sob um aspecto decisivamente politico.
O que é muito curioso é que ao lado da accusação ao nosso honrado compatriota, se pozesse o elogio, que não direi immoderado, mas sem reservas, ao «diplomata illustre, que vivia na intimidade» do grande chanceller, que o devia estar e estava com effeito muito exactamente informado,» e que no fim de contas dizia, em 1884 ao seu governo, muito approximadamente o que o sr. marquez de Penafiel communicara ostensivamente ao nosso em 1883, cinco ou seis mezes antes.
N'uma nota de 7 de fevereiro de 1885, ao novo embaixador inglez em Berlim sobre a questão do Pacifico, - diz o conde de Granville.
«Até receber o relatorio de lord Ampthill de 14 de junho ultimo, ácerca de conversações que tivera com o príncipe de Bismark... eu estava na crença de que o chanceller, era pessoalmente opposto á colonisação allemã.
«Os relatorios de lord Ampthill eram continues e decisivos a este respeito, e em 15 de março de 1884, s. exa. referindo-se á agitação sobre o assumpto que lavrava nas classes commercial e armadora da Allemanha, affirmava que era bem sabido que o principe era absolutamente opposto aos seus ardentes desejos de acquisição de colonias, pela Allemanha, e estava determinado a combater e oppôr-se á crescente influencia d'esse movimento...
«Não foi senão depois da noticia de que a bandeira allemã fôra içada em Angra Pequena... que o governo de Sua Magestade foi sciente positivamente de que a intenção do governo allemão era a fundação de um protectorado territorial.»
E n'um memorandum do Colonial office, de 7 de outubro de 1884, observa-se:
«... até uma data recente o governo de Sua Magestad não tinha idéa alguma de que o governo allemão pensava em qualquer similhante annexação de territorio... Fôra inteiramente entendido que a fundação de colónias ou protectorados politicos não era objecto da política nacional allemã, e esta crença baseava-se na informação recebida em Londres e ainda mais forte e constantemente nos despachos de lord Amphill, algumas das quaes contem memoria das suas conversações sobre o assumpto com o conde Hatz-feldt.»
E, comtudo, lord Ampbill é que devia estar, e estava, perfeitamente informado; para elle todo o encomio.
Agora o que elle dizia em 1884, posto na penna do ministro portuguez, em 1883, é que merece toda a censura... é que é assombroso e extraordinario!
Mais ainda. Só em 24 de setembro de 1884 é que o sr. Scott, o secretario da embaixada ingleza em Berlim, - porque não são sómente as nossas legações que ficam ás vezes entregues, e bem entregues, aos secretarios, - dava conta ao seu governo de que na reunião da associação colonial allemã, realisada em Eisenach, três dias antes, se revelara que o governo imperial, «que não animára originalmente a associação, adoptára agora uma política colonial pratica, saccionando o chanceller até certo ponto a politica da associação», ainda assim por fórma que o presidente, o principe Hohenhohe-Langenburg, julgou dever prevenir a assembléa contra «uma espécie de febre colonial que poderia levar a nação mais longe do que era prudente», e lembrar-lhe o adagio allemão: «Olha, antes que saltes».
Mas tem outra face, ainda, a questão.
Eram acaso victimas de uma mystificação engenhosa, ou grosseira, todos estes diplomatas?
Pois nós estamos ainda - e particularmente em relação á politica allemã, - n'esta noção romanesca das diplomacias tenebrosas, feitas de dissimulação e de mentira, que este sol da publicidade, do nosso tempo, tornaria simplesmente ridiculas?
Não póde ser.
O que o sr. Busch, - creio que foi elle; um cavalheiro estimabilissimo e serio, - dizia, em 30 de outubro de 1883 ao sr. marquez de Penafiel era o que dizia o grande chanceller, era o que pensava e fazia realmente o governo allemão.
Superabundam os documentos, os menos suspeitos e os mais decisivos.
Em 1875, por exemplo, um explorador allemão, o sr. Ernst von Weber, enviava da África austral ao príncipe de Bismarck uma curiosissima memoria em que, traçando com mão muito intelligente os resultados proximos da exploração africana, expunha as vantagens e facilidades relativas que encontraria a Allemanha em estabelecer a sua influencia ou o seu dominio no Transvaal, e em obter do governo portuguez a bahia de Lourenço Marques, e d'elle ou dos chefes indigenas diversos pontos para colonisação allemã nas costas e sertões de oeste e de leste.
Estes estudos e projectos são extremamente interessantes, e sinto não poder agora fallar d'elles mais desenvolvidamente.
Por isto é que não tem dado a nossa política ultramarina, suppondo que a temos...
O projecto não podia ser mais seductor; a questão tinha um caracter opportuno e pratico, realmente estimulante, mas o chanceller, louvando os sentimentos patrióticos do auctor, tirou-lhe todas as esperanças de que o governo allemão adoptasse uma política colonial de conta e iniciativa propria.
Em novembro de 1879, o sr. Weber, lançava as suas idéas em circulação, mas sem melhor exito, nas regiões officiaes.
E ha de notar-se que o governo inglez era prevenido desse plano, não pela sua embaixada em Berlim, mas pelo