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2320 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

governador do Cabo. Nós então, nem de uma nem de outra parte.
Na sessão de 8 de novembro, de 1883, do Reichstag, um deputado chama calorosamente a attenção do governo para o problema importante e grave da emigração allemã. Bismark promette occupar-se do assumpto, ordena um novo estudo d'elle, e faz publicar dentro em pouco o interessante relatorio d'esse estudo.
Sabem todos quanto é enorme, e como tem ido sempre em considerável augmento, a emigração allemã, 98 por cento da qual se dirige para os Estados Unidos.
É claro que uma politica fortemente disciplinada, pratica, nacionalista, como a allemã, não havia de ser indifferente a esta questão tão intimamente ligada com a economia do imperio.
D'ahi, porém, a um movimento ou a um systema colonial, a distancia é grande e o chanceller não occultava a ninguem a sua opinião contraria a que essa distancia fosse preenchida por uma aventura official.
Em 23 de junho de 1884, nessa memorável sessão da commissão orçamental, mais de uma vez citada, o governo chanceller repetia e mantinha a convicção de que não era politico para a Allemanha, entrar n'um systema de acquisição politica ou territorial de colonias.
E observava que a Allemanha não possuía homens experimentados, em numero sufficiente para servir esse systema, que elle seria muito oneroso para a finança e para a força naval do imperio, que a extensão de costa allemã era pequena e consequentemente escassa a população maritima, etc.
O que porém o chanceller entendia era que o governo imperial não devia deixar de estender a sua protecção aos estabelecimentos e territórios adquiridos alem mar por súbditos allemães, em regiões não sujeitas a uma soberania reconhecida. E pouco depois, no próprio Reichstay, o chanceller insistia nisto, e lord Amphill offerecia esta segurança ao governo inglez a 27 de junho: - que não acreditava que se podesse fazer colonias, artificialmente; - que não tinha intenção alguma em gastar dinheiro com novas colonisações; que a sua politica era deixar a creação e desenvolvimento d'ellas á energia do commercio, protegel-as, apenas, etc.
De resto, - acrescentava, e a allusão visava-nos um pouco, - «a Allemanha não deseja lançar-se numa política colonial, exclusiva e egoísta, como a de certos Estados, menores do que a Inglaterra, tinham iniciado com grande detrimento das suas proprias colonias».
Mas não posso alongar-me mais n'este thema que alem de tudo é conhecido e antigo. Tem-se dito que a attitude da Allemanha mudára.
Em que e quando?
Creio que não ha uma perfeita exactidão na phrase.
Em dezembro de 1883 os senados anseaticos eram informados confidencialmente de que o governo nomearia um commissario que iria estudar a questão da protecção dos interesses allemães na costa occidental da Africa, mas que não desejava estabelecer um dispendioso machinismo e pessoal de administração nos territorios adquiridos para o commercio allemâo, nem envolver-se em complicações internacionaes. Os direitos de terceiro seriam respeitados.
O commissario era o meu mallogrado amigo, e illustre explorador o dr. Nachtingal, e a sua attenção era suscitada especialmente para Angra Pequena, e para a linha de costa entre o delta do Níger e o Gabão.
Mas é tempo de voltar á questão do Zaire.
Escusado será relembrar a feição que ella adquirira, e as circumstancias, - entre as quaes as de caracter e influencia de política geral, - que acabaram por prendel-a estreitamente ao movimento allemão.
Ligados, por um lado á politica hesitante e fraca do gabinete inglez, achavamo-nos por outro, evidentemente ameaçados de que colligação de opiniões e de interesses, de desconfianças e de resistencias, - que encontrava na attitude da França, e logo depois na do governo de Berlim, - ou mais propriamente, na situação relativa da politica europea, o seu ponto de chrystalisação, - não parasse já nas questões de liberdade de navegação e commercio, mas passasse inteiramente por cirna de todos os nossos direitos e nos trancasse para sempre na linha imaginaria do Ambriz, pelo menos, a expansão e defesa do nosso dominio na costa occidental.
Surgiu então a idéa da conferencia.
Era uma idéa antiga e uma idéa portugueza, que não conseguira fazer-se comprehender e valer nas regiões officiaes, mas que representava finalmente o único expediente pacifico, pratico, habil, - direi mesmo salvador, - para a affirmação do nosso direito, para a revindicação da nossa honra, para a conciliação decorosa e seria da nossa dignidade com os interesses estranhos.
Principalmente habil lhe chamarei afoitamente.
Quando todos se voltavam contra nós, numa colligação mal apurada e impetuosa, nada mais pratico realmente do que chamar todos esses interesses a um confronto e discussão reciproca, em que as divergências e antagonismos, a inconsistência ou a justiça d'elles, teriam de medir-se e apurar-se face a face. (Apoiados.)
Se não era desarmar e dissolver essa colligação era exactamente offerecer-lhe o ensejo de definir-se num objectivo de interesse e de justiça commum.
Disse que a idéa era antiga.
Podia dizer que ella se annunciára ha muitos annos na sociedade de geographia de Lisboa, como o processo mais regular e seguro para a resolução da questão do Zaire.
Nem ficára apenas nas palestras e nas actas d'aquella sociedade.
Quando no congresso de geographia commercial de Paris, de 1878, tive de fazer retirar aquella moção de que poucos se lembram já, relativamente a uma interferencia e policia internacional no Zaire, alguma cousa se conversou a este respeito.
Em 20 de outubro de 1882, não estavam entaboladas ainda as negociações do tratado anglo-portuguez, a mesa da sociedade enviava ao ministerio do ultramar, um officio assignado pelo sr. dr. Bocage e por mim, em que a idéa de um accordo internacional que regularisasse a exploração africana, pozesse cobro á aventura e solvesse: n'um interesse commum de civilisação e de paz as questões pendentes, - o pensamento osteasivo da conferencia de Berlim, no fim de contas, - era largamente aconselhado e proposto.
Creio que aquelle ministerio nunca julgou conveniente communicar ao dos estrangeiros, esta idéa opportuna.
No relatorio notavel, que não mereceu os arruidos de publicidade, de outros, mais felizes, mas não mais importantes, no relatorio notavel do commandante da corveta Duque da Terceira, mandada ao Zaire vigiar os trabalhos da associação do Congo e a situação das cousas n'aquellas paragens, documento que tambem tenho aqui, e que é datado de Loanda, em 18 de setembro do 1880, aconselha-se igualmente a idéa de promovermos a reunião de um congresso internacional.
Não percebo, francamente o digo, - e deve ser erro do meu entendimento, - porque nos havemos de retrahir mais do que modestos, receiosos, ou porque nos havemos de culpar, mais do que severos, injustos, n'esta espécie de investigação erudita da iniciativa ou da prioridade d'essa idéa, no campo diplomatico.
Para mim, uma das muitas cousas que sobremaneira honram, nesta questão, o nobre ministro dos negocios estrangeiros é precisamente esta: - é ter saído tão opportuna e tão habilmente ao encontro da colligação que nos ameaçava, com a idéa, alem de tudo perfeitamente conforme com a lealdade das nossas affirmações e dos nossos propo-