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2324 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

mos exactamente com a parte da costa e das margens onde não ha um só porto, um só logar accessivel á navegação e ao commercio! É textual.
Como se na costa do sul não houvesse o Quicembo, o Ambrizette, a Musserra, a Mucula, estes pontos para onde se têem ido derivando tantas correntes de «negocio rico», como se diz no Zaire, - o Ambrizette, do qual diz o sr. Johnston que é o grande mercado de exportação de marfim, como o Ambriz é o do café.
E na margem sul, então, não se conta com a soberba e historica bahia de Santo Antonio, demandada por todos os navios que vem do norte, nem com Porto Rico, nem com Sumba e Quissanga, e Sinda, e Chichango e Congo Yalla e Pedra do Feitiço, e Mussuco e Noqui, com tantas feitorias que por toda essa margem demoram, onde concorre tanto commercio de borracha, de marfim, de outros muitos generos que principalmente compõem a exportação d'aquellas regiões.
E na costa do norte, Cabinda, Molembo, Landana e o Chiloango, os melhores pontos entre o Gabão e o Zaire; o Chiloango, repito, cujo enorme commercio se approxima do Zaire.
Não é com mais verdade tambem que se quer fazer differença da salubridade das duas margens, da sua productividade, das difficuldades da sua dominação, sempre em desfavor da do sul, aliás a fronteira natural, que mal se cuidava que podessemos obter quando partimos para Berlim, o limite necessario da nossa velha suzerania do Congo.
Fallou-se aqui da questão do caminho de ferro do Zaire, do famoso caminho dos srs. Sandfort e Stanley para o qual elles e a associação tão tenazmente, tão impertinentemente, até, lidaram por obter passagem e terminus nos nossos territorios.
Mas não está isso dizendo claramente a importancia estrategica dos nossos territorios ao norte e ao sul, para a drainagem futura do commercio do alto Zaire?
Entre as perguntas que o sr. Barros Gomes dirigiu ao governo, ha uma ácerca da qual me permitto dizer duas palavras.
É a que se refere aos suppostos limites do novo estado que s. exa. encontrou n'uma carta, traçados ou ensaiados até ao parallelo de Benguella, do lado dos sertões centraes. Perguntava então s. exa., creio eu, se nos estava vedada a expansão até ali por esses sertões a dentro.
Ora eu conheço e possuo um grande numero de cartas, - por signal que todas bastante grosseiras e incorrectas, - publicadas recentemente, a propósito da conferencia e do novo estado.
Em relação a limites, quasi tudo é fantasista e arbitrário, a começar pela famosa linha da bacia commercial que resta por descobrir na sua maior extensão. N'este ponto a culpa não é bem dos cartographos.
Mas devo observar que a incidência immediata do reconhecimento ou das convenções da associação internacional não póde naturalmente, e até segundo a praxe ou a formula consagrada, ir além dos territorios que real ou suppostamente se consideram annexados aos estabelecimentos fundados ou possuidos pela associação. Não se reconhecem territorios imaginarios.
Assim, por exemplo, o nosso limito do Quango pára, - como uma carta o indica, - um pouco a montante d'elle, onde começam os dominios independentes ou territorios abertos ainda á annexação.
Por elles adiante ou por elles a dentro, tanto póde expandir-se a associação como nós.
Logo havemos de esbarrar, nós ou ella no imperio molua, nas terras do famoso Muata, que é ainda o grande potentado central.
Elle dirá se está de accordo com esta generosa expansão civilisadora e com as deliberações da conferencia... Por esse lado pareceu-nos que podiamos ficar descansados, por ora.
Mas, conquistada, ou reconquistada, se querem, a limitação estrategica, natural, necessaria, do Zaire, ao nosso dominio do sul,- o grande empenho dos delegados portuguezes, desde que a Europa se recusava a consentir que nas duas margens, ou de um e de outro lado da embocadura do grande rio se estabelecesse um só dominio soberano, - era manter ao norte um trato de costa e de território que protegesse e assegurasse a nossa tradição e prestigio de soberania, o nosso commercio e relações com aquelle litoral, garantindo nos ao mesmo tempo uma situação politica indeclinavel na eventualidade de novas combinações ou de novos acontecimentos.
Alem de outras circumstancias, o nosso districto do norte é, por assim dizer, a sentinella avançada do nosso domínio e do nosso direito de principal potencia ribeirinha do Baixo Zaire.
Se o parenthese aberto pelo antagonismo ou pela cubica de diversos interesses economicos e politicos, que se chama o novo estado do Congo tiver de fechar-se ou imprimir-se n'uma liquidação nova, ha de contar-se comnosco. (Apoiados.)
Sobretudo se nós soubermos acertar no que nos cumpre fazer. (Vozes: - Muito bem.)
Tinha ainda a dizer muitas cousas, tinha de definir, ou mais propriamente de explicar as vantagens e as seguranças em que se resolve o artigo da convenção que nos torna extensivas as obrigações contrahidas pela associação, para com todas as mais potencias, vantagens e seguranças que desde já, e sem esperarmos pela organisação do novo estado, podemos e devemos aproveitar.
Mas a camara está decerto cançada...
Vozes: - Não está, falle, falle.
O sr. Presidente: - Eu tenho ainda de dar a palavra ao sr. Carlos Lobo d'Avila antes de se encerrar a sessão.
O Orador: - Duas palavras apenas.
O que vamos fazer?
Deixo esta interrogação na sua tristeza ou na sua singeleza completa?
O que vamos fazer?
Agora é que eu desejava a palavra eloquente, o verbo vivo e communicativo de alguns dos meus illustres collegaa para levar ao animo de todos, e lançar na consciência de cada um, porque de todos são as responsabilidades, e o futuro a todos nos ha de julgar, quanto ha de grave, quanto ha de extremamente delicado e serio, n'esta interrogação.
O que vamos fazer?
Acabo por onde comecei.
Ou vamos continuar e honrar a tradição e o nome d'este honrado povo que fez mais do que simples colonias, valerosos imperios, depois de ter aberto metade do mundo ao esforço e á civilisação da outra metade (Apoiados.) ou vamos offerecer á historia a exauctoração ignominosa do nosso património ultramarino e do nosso nome e dá nossa honra de portuguezes.
Como se diz no Rei Seleuco, eu peço sómente que «não me tomem isto por palavras, que palavras e plumas o vento as leva.»
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi cumprimentado por muitos srs. deputados de ambos os lados da camara.)
O sr. Presidente: - Agora vou conceder a palavra ao sr. Lobo d'Avila, que a tinha pedido para quando estivesse presente qualquer membro do governo.
O sr. Lobo d'Avila: - Tinha pedido a palavra antes da ordem do dia, para quando estivesse presente qualquer membro do governo. Ora o sr. ministro da marinha, único membro do governo que usa comparecer n'esta camara, entrou aqui quasi ás tres e meia horas da tarde! E se antes se não tinha entrado na ordem do dia, não foi por