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lavra que deu, os seus alliados naturaes, fallando assim ao compromisso que Ião solemnemente aqui tomou diante da camara, do paiz e da sua propria consciencia.

Visto que deu a hora, peço que se me reserve a palavra, porque desejo ainda dizer alguma cousa sôbre a generalidade do orçamento. (Vozes: — Muito bem.)

Discurso que devia ler-se na sessão n.º 25 do vol 5.° de 1857, pag. 427. col. 2ª, lin. 3.

O sr. Latino Coelho; — Sr. presidente, eu estava hontem dirigindo algumas observações ao meu honrado collega o st. barão d'Almeirim e convidando-o a que sustentasse n'esta casa as suas antigas opiniões, quando a hora veiu evitar que eu concluisse as minhas amigaveis reflexões.

Tenho necessidade de provocar da parte do meu nobre amigo as mais solemnes declarações, e de chamar a attenção da camara e da commissão de fazenda sobre os pontos do seu relatorio cuja analyse continuo hoje a fazer.

Sr. presidente, eu n'este logar hei de levantar-me sempre que for preciso para dizer a verdade á camara e ao paiz, e referir as proprias palavras daquelles que sustentaram aqui as opiniões mais orthodoxas em politica, administração e economia, e que parecem, não direi retratar hoje as suas crenças, mas dar lhes uma interpretação que eu não posso admittir.

Vejo que n'este logar onde estou é difficil conciliar a attenção da camara para o que se diz por parte da opposição quando trata de fazer reprehensões dos erros passados, ainda mesmo quando o faz, no estylo mais ameno, ainda que Ss censuras sejam acompanhadas de todas as precauções que ensina a oratoria e de todas as cortezias que impõe as regras da urbanidade.

Sr. presidente, eu não posso despresar o mandato que recebi, não posso renunciar o direito de manifestar n'esta camara as minhas opiniões, hei de cumprir o meu dever e não hei de deixar que esta camara possa aqui presencear todos os dias as contradicções mais subitaneas e flagrantes em politica, administração e economia; hei de chamar á autoria os auctores d'essas contradicções parlamentares, não para ser juiz, mas para servir de historiador, não para as sentencear pelo meu dictame, mas para as submetter em toda a sua nudez ao veredictum do paiz.

Tenho-me dado largamente ao estudo da historia parlamentar d'estes ultimos annos; tem sido este para mim um trabalho improbo, fatigante e desconsolador, tenho percorrido os factos d'esta camara, confrontando as opiniões dos seus membros mais notaveis, ou mais jactanciosos da firmeza dos seus principios; tenho sido o Quinto Curcio de muitos Alexandres parlamentares, o Tito Li vio de muitos heroes politicos, e hei de aqui ser o chronista de muitas abjurações, de muitos erros e de muitos arrependimentos intempestivos e tardios. Hei de aqui ser o narrador de factos que já hoje parecem fabulosos, e hei de compôr, com pasmo e assombro d'esta camara, de veridicos episodios, que parecem incriveis e apocryphos, a verdade pura da historia parlamentar.

Sr. presidente, eu não posso deixar de chamar a este tribunal, não digo para as censurar, mas para as robustecer e avivar, as opiniões de hoje e as antigas opiniões, doutrinas, e pensamentos largamente manifestados por todos os homens que assignaram o relatorio da-commissão de fazenda sem nota nem declaração alguma, d'onde se possa inferir que deixaram illesas as suas velhas crenças politicas e o seu honroso credo parlamentar.

Eu estava hontem dirigindo uma cathechese pastoral, e uma homilia cheia de uncção e caridade, ao sr. barão d'Almeirim, que eu julguei ser uma ovelha, não rebelde, mas apenas tresmalhada do redil das boas e genuinas opiniões da sua igreja politica.

Não, pude completar a physionomia politica do meu illustre amigo, o sr. barão d'Almeirim. porque a hora de encerrar a sessão me fez caír das mãos a palheta pouco matisada e o pincel grosseiro, com que eu estava bosquejando, sem primor mas com rigoroso fidelidade, as feições politicas do honrado representante. Permitta-me s. ex.ª que eu insista ainda hoje nas suas antigas opiniões; e que seja mesmo um pouco severo talvez, sem nunca descair em descortez. (Apoiados.) O illustre deputado foi aqui durante muitos annos o propugnador mais rigoroso das economias applicadas, sem dó e talvez mesmo sem consciencia, a todos os ramos da publica administração. Felizmente, lembra-me n'esta occasião uma phrase do illustre ministro das obras publicas, que e para mim um grande mentor. O illustre ministro das obras publicas dizia n'outro tempo, dirigindo-se a um cavalheiro que então desempenhava a pasta da fazenda. «É muito facil improvisar na politica, mas é muito difficil esquecer a historia». Eu cinjo-me sempre aos textos dos homens eminentes. É muito facil improvisar hoje uma opinião, e no dia seguinte professar uma opinião opposta á da vespera; e muito facil improvisar a opinião, de que a acquisição do caminho de ferro de leste era uma negociação torpe, indigna de ser realisada e c muito facil improvisar tambem no dia seguinte a opinião contraria, e vir trazer á approvação do parlamento aquelle nefando bónus e aquellas condições ignominiosas para as quaes não havia palavras bastantes asperas de exprobação na imprensa e na tribuna, (Apoiados.) e vir pedir a sua sancção, justificando assim plenamente o governo infesto e denegrado que os illustres ministros vieram substituir, os illustres ministros, que ainda não ha um anno se esforçavam por expor á irrisão publica, á animadversão universal os homens publicos que haviam proposto aquellas medidas, que foram aqui depois quasi unanimemente applaudidas e votadas: (Apoiados.) é muito facil improvisar em politica, mas é muito difficil esquecer a historia e principalmente a historia parlamentar. Se não houvesse a historia, se elles podessem fazer com que os fastos parlamentares se cancellassem, se sobre a pagina que contem as opiniões da vespera, se escrevessem como n'um palimpserto as opiniões do dia seguinte, de modo que a escriptura primittiva desapparecesse sob os recentes caracteres, então a vida parlamentar seria deliciosa, então o subir ao poder, o conservar-se no podér diante da opposição mais facciosa seria muito ameno, muito glorioso e muito facil. (Apoiados.)

Sr. presidente, o illustre deputado o sr. barão d'Almeirim, tinha uma tal aversão a todos os governos que não trilhavam larga e rasgadamente o caminho das economias, que o illustre deputado se comprometteu, dando quasi politicamente a sua palavra de honra, a que havia de votar contra o ministerio que não tivesse o arrojamento e a coragem de vir aqui propor as economias reclamadas pela moral governativa e pelo bem d'este paiz.

Sr. presidente, o illustre deputado, n'uma sessão d'esta legislatura, e esta historia não é antiga, esta historia é já contemporanea e está ainda fresca na memoria, o illustre deputado dizia com toda a sinceridade das opiniões de um homem chão, de um homem que não tem nunca dois pareceres, que não tem uma opinião na opposição, e outra opinião na maioria, o.sr. deputado dizia o seguinte. (Leu.) (O sr. Barão d'Almeirim retirou-se da sala.)

Era esta a rasão que o illustre deputado apresentava para justificar a negação do seu apoio ao governo que está presente.

Sr. presidente, o sr. deputado, por um acto que não me atreverei a classificar, desamparou n'este momento a sala, para não ouvir a historia das suas opiniões. Sinto não o ver presente; lamento que assim deixasse a sua causa á revelia, que deixasse, como se diz no fôro, a lite deserta e não seguida. Mas a nenhuma complacencia que leve n'este momento comigo o sr. deputado, dá me o direito e ser com ella pouco benevolente e generoso. Ausentou-se. Julga lo hei á revelia. Continuemos. O sr. deputado empenhado na honrosa em