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SESSÃO DE 26 DE JUNHO DE 1885 2629

querer significar com isto, repito, que tenho em menos conta o merecimento litterario de Camillo Castello Branco.
Tenho dito.
O sr. António Cândido: - (O sr. deputado não restituiu o seu discurso a tempo de ser publicado n'este logar.)
O sr. Azevedo Castello Branco: - Peço a v. ex que me reserve a palavra para quando terminar a discussão d'este projecto.
O sr. Simões Ferreira: - Não esperava, sr. presidente, que a simples manifestação do meu voto levantasse discussão. Parecia-me melhor que a não levantasse. Um voto de mais ou de menos não influe, agora, na resolução a tomar.
Tenho toda a certeza de que este projecto não será rejeitado pela camara, mas, tendo dito um meu prezadissimo collega e amigo, homem que estimo e que é uma das mais robustas intelligencias do meu paiz, que eu não comprhendia o alcance do projecto, preciso de accentuar com mais firmeza e inteira clareza o meu pensamento.
Ha pouco foram aqui apresentadas umas moções para que o parlamento portuguez inscrevesse na acta das suas sessões um voto de sentimento pela morte de um dos vultos mais brilhantes da França. (Apoiados.)
N'essa occasião quasi todos os meus collegas abandonaram esta sala, conservando-se apenas presentes os auctores das propostas e aquelles que as apoiavam. (Apoi dos.)
Eu fui dos que ficaram.
Perguntando-se a rasão por que não havia vontade de votar essas propostas, disse-se que o parlamento não era logar para se apreciar o merecimento litterario de ninguem.
Vejo que a maioria está hoje disposta a fazer exactamente o contrario do que sustentou então. (Apoiados.)
É ou não o parlamento o logar competente para aquilatar o merecimento litterario de qualquer individualidade nascida n'este ou n'aquelle logar?
Se muito bem cabida era a distincção que nós faziamos a Victor Hugo, porque eu não conheço no seculo actual homem cujos escriptos abranjam horisontes tão largos sob o ponto de vista, não só litterario, mas social e humanitario, já não tenho igual opinião a respeito de Camillo Castello Branco, cujos escriptos não visaram nunca a levantar o espirito publico, propagando as grandes idéas, ou os grades sentimentos que nobilitam os homens e a sociedade. Os seus escriptos têem muito merecimento, mas merecimento restrictamente litterario.
Pergunto a mim mesmo, na serenidade da minha consciencia, se, dos livros que Camillo Castello Branco tem escripto, alguns d'elles têem concorrido para levantar o espirito ou o sentimento nacional, e a consciencia responde-me que, pelo contrario, elles não têem concorrido sem para infundir a tristeza e o desalento.
A mim tem-me succedido, e não sei o que succede a outros, que ao ler um livro d'este escriptor, aliás bem escripto, me sinto tão desalentado, e, deixem-mo dizer, a aborrecido, que o fecho e largo com a tenção formada nunca mais o abrir.
Eu prefiro o escriptor cujos livros deixem uma boa impressão a quem os ler.
Será opinião unica, mas é a minha e antiga.
Por isso entre os livros de Camillo Castello Branco e de Julio Diniz prefiro estes, porque dispõem melhor a alma do povo, dando-lhe impressões serenas e boas. Sem comparar meritos litterarios, tenho por superiores, socialmente fallando, os de Julio Diniz.
E entendo que o parlamento, como representante da sociedade civil e politica, só deve apreciar os livros e os escriptores sob este ponto de vista. O merito litterario que apreciem as academias.
Por isso neguei e nego o meu voto ao projecto, não por que não seja muito o merito litterario dos livros de Camillo Castello Branco, merito que não aprecio aqui, nem deprimo em cousa nenhuma, mas porque esses livros não têem valor social de tal modo notavel e proeminente, que explique e justifique o precedente que vae abrir-se em nome da sociedade.
Pelo contrario, os livros de Camillo Castello Branco, se alguma influencia têem exercido na sociedade portugueza, é uma influencia deprimente e demolidora. São livros para destruir, não são livros para edificar ou engrandecer.
E nada mais digo, sr. presidente, para não dizer o muito mais que sinto. Não me propuz combater o projecto, mas só pensei em manifestar o meu voto. A camara tomará a resolução que tiver por mais justa e a mais sensata, ou a que mais se combinar com o seu modo de ver as cousas e as pessoas, e a opinião do paiz nos julgará a todos. Eu cumpro o meu dever como o entendo, e a camara procederá como quizer, no pleno uso do seu direito de resolver. Respeito a opinião de todos, mas não estou obrigado a seguil-a, quando é opposta á minha propria opinião.
E nada mais direi sobre o assumpto.

sr. Franco Castello Branco: - Pouco tempo tomarei á camara. Mas, tendo assignado, e muito espontaneamente, o projecto que se discute, visto o caminho que as cousas levam, entendo do meu dever confessar os motivos por que o fiz.
Não nos alonguemos em dissertações quanto á missão que aos parlamentos incumbe desempenhar. Lamentemos antes cheios da mais profunda tristeza, que n'esta manifestação de respeito e admiração por um dos mais prestantes cidadãos d'este paiz, se tenham feito ouvir discordancias censuraveis. (Apoiados.)
Nunca me passou pela lembrança, que tal podesse succeder. (Apoiados.)
Eu disse «um dos cidadãos mais prestantes do paiz, e muito intencionalmente, porque considero a lingua um da elementos mais primordiaes e fundamentaes para a existencia de uma nacionalidade. (Apoiados.)
E eu sei que na actualidade nenhum dos nossos escriptores, mesmo dos mais distinctos, se póde julgar offendido ou aggravado com a affirmação de que entre elles nenhum existe, que tanto haja feito pela lingua patria, como Camillo Castello Branco. (Apoiados.)
Para mim, repito, a lingua e um factor e uma força social de primeira ordem. E por isso de ha muito considero, que João de Barros e frei Luiz de Sousa não foram menos no desenvolvimento e na vitalidade da sociedade portugueza do que os conquistadores da África e da India. (Apoiados.)
E por esta fórma o facto recae legitimamente sob a missão do parlamento, que não póde ter expressão mais honrosa, nem emprego mais nobre da sua actividade e da sua força, do que decretando a glorificação de um homem tão eminente como Camillo! (Apoiados.)
O parlamento aproveita assim a occasião, em que outro poder do estado julgou do seu dever honrar e distinguir, por um dos meios em uso no nosso tempo, o maior dos escriptores portuguezes da actualidade, e collabora com elle em tão merecida homenagem.
Eis o fim a que visava o projecto de lei em discussão.
Só este intento moveu os signatarios e apresentantes.
E lembrando ao parlamento esta obrigação, porque o é, ao parlamento em que mais directamente deve palpitar o sentimento da nação, pareceu-me e parece-me ainda que somos antes credores de agradecimento do que de censuras. (Apoiados.)
Por isso não me arrependo do que fiz, e bem ao contrario penso, que decorridos vinte ou trinta annos, arrefecidas as crenças e mortas pelos desenganos as paixões politicas, quando eu perpassar pela imaginação tudo o que n'esta minha primeira campanha parlamentar hei passado e hei feito, talvez nada me dê tanto orgulho nem tamanha consolação, como o haver iniciado esta gloriosa mani-