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2630 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

festação, e ter combatido pela grandeza nacional do maior escriptor do meu tempo.
Vozes : - Muito bem.
O sr. Elvino de Brito : - Não desejo discutir o projecto, e pedi a palavra simplesmente para declarar que, não concordando com a doutrina n'elle consignada, voto contra.
Nem a brilhante oração do meu illustre collega e eloquente orador o sr. Antonio Candido, nem a habil defeza produzida pelo illustre deputado o sr. Franco Castello Branco, poderam demover-me do proposito que sempre tive de não lhe dar o meu voto.
É possivel que eu não tenha a verdadeira comprehensão da politica e da administração, como o meu amigo o sr. Antonio Candido disse ao sr. Simões Ferreira; mas é em nome da verdadeira politica e da verdadeira administração, como eu as comprehendo, que votei contra a dispensa do regimento para o projecto entrar já em discussão e voto agora contra elle.
E disse.
O sr. Manuel d'Assumpção : - Direi poucas palavras e tão só por me parecer necessario affirmar a idéa que, na commissão de fazenda, determinou a approvação d'este projecto. Claramente a expressei no curto relatório que redigi; mas, as observações dos illustres deputados obrigam-me a declarar de novo perante a camara que no projecto se viu unicamente um ensejo propicio para a nação manifestar pelo voto dos seus representantes o elevado apreço em que tem o talento brilhante de Camillo Castello Branco.
E a homenagem prestada ao talento e ao trabalho de um escriptor já hoje aureolado por immorredoura e illustre fama; o testemunho de que principia a nação portugueza a não esquecer os seus homens illustres; a affirmação de preito nacional por as nossas modernas glorias. (Apoiados.)
Longe estava de imaginar tivesse impugnação o projecto no parlamento; pois n'esta idade alta a que chegámos é tempo já de não trazer a eternidade de Zoilo atrelada á immortalidade de Homero.
Convençamo-nos de que o talento, atravéz das luctas cruciantes da vida, acaba por levantar a fronte onde irradia impondo-a á veneração dos povos; e resolvamo-nos a não mais esperar tambem no sepulchro, alanceados pela inveja, os cidadãos illustres de quem a pátria ha de orgulhar-se, para só então, calando o tumultuar das paixões, corrermos á levantar estatuas que perpetuem os seus nomes e a nossa ingratidão. (Apoiados.)
Ainda ha poucos mezes os redactores de um distincto jornal, publicado em Coimbra, convidaram portuguezes e brazileiros para em original mas gentil plebiscito decidirem qual era actualmente o primeiro escriptor de Portugal: feito o apuramento foi proclamado Camillo Castello Branco, nome festejado em toda a parte onde é conhecida a lingua portugueza. Orgulhemo-nos com isto.
Eu sei, sr. presidente, que é difficil alcançar justiça dos contemporaneos; especialmente quando as paixões turbam a vista e os ciumes desnorteiam os entendimentos. Difficil, muito difficil, avaliar o trabalho de um homem quando elle está ainda na lucta, e assoberba e affronta os que procuram vencei o, ou se imaginam superiores. Sempre assim foi; para reconhecer a superioridade do homem a quem o genio illumina a fronte é necessario que a morte o derrube; só então e á vontade se lhe mede a estatura: emquanto afadigado com seus trabalhos e estudos anda na terra, todos se creem da mesma altura; a estatua avulta depois que está no pedestal. (Apoiados.)
Demais, ha tão boas rasões para amesquinhar, especialmente quando se trata de trabalhos litterarios; é tão fácil, e está tanto na nossa indole, que me parece ficaremos sempre legitimos descendentes d'aquelles que deprimiam Camões para exaltar Caminha. Verdade é que ficou eterno o nome de Camões e de Caminha já ninguém se lembra. (Apoiados.)
Respeito muito os moralistas, almas pudibundas que fecham os olhos diante da Magdalena de Canova, e constantemente tremem da influencia nefasta que poetas ou artistas podem ter na sociedade. São de todos os tempos; em Roma applaudiam o desterro de Ovidio; mas emquanto o poeta nas solidões do exilio conquistava a immortalidade desappareciam no pó do esquecimento todos esses moralistas. (Apoiados.)
Tácito incommodava; e quando o enorme historiador, que ainda hoje assombra, com o estillete de aço gravava em laminas de bronze a condemnação das tyrannias do seu tempo, havia prudentes que julgavam perigosa a commemoração de taes horrores e talvez o accusassem de calumniar a Nero. (Apoiados.)
Sr. presidente, não tenho relações pessoaes com Camillo Castello Branco, nunca tive a honra de lhe fallar; mas li todos os seus livros, todos. E têem-me elles dado tantos momentos de suave entretenimento, tantas horas de instructivo recreio, tantos ensinamentos da historia e vida do meu paiz; tanto contentamento por ver como florece, falla e canta a famosa linguagem de fr. Luiz de Sousa e de Vieira, que o estimo e prezo como se preza e estima um mestre e um bom amigo. Concorrendo hoje com humilde voto para esta manifestação, sinto ufania de que na minha patria haja ainda escriptores de tão subido merecimento.
Não quero amesquinhar ninguém, nem ousaria insano deslustrar com palavras a gloria dos que passaram, pois só glorias desejava para a terra onde nasci. Lastimo, se não aproveitasse ensejo para se darem iguaes manifestações de consideração publica a Herculano, o grandissimo historiador, e a Castilho o já immortal poeta; a culpa não foi nossa nem se nos póde levar em conta. Mas, se o pejo nos assoma ás faces, quando nos recordam como temos sido mesquinhos com os nossos homens illustres; entremos em novos usos, e convençamos os estrangeiros de que Portugal envergonhado queimou a enxerga de Camões, e sabe reconhecer e honrar o merito onde elle está! (Apoiados.)
Ainda uma observação. Camillo Castello Branco não precisa de esmolas; tem o seu trabalho honrado. (Apoiados.) Se de prompto carecesse realisar a quantia necessaria para os chamados direitos de mercê, bastava-lhe lançar mão da pena, e com duas paginas que escrevesse tinha do sobra que atirar aos cofres do estado.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem.
O sr. Vicente Pinheiro: - Sr. presidente, eu quasi que vou fazer uma simples declaração do que desisto da palavra.
Vejo que felizmente a camara no seu claro entendimento está de bom grado resolvida a approvar o projecto de lei, que me honro de ter assignado.
A sua defeza está feita muito mais brilhantemente do que eu a poderia fazer.
As nações vivem sobretudo pela sua lingua.
O tempo e as lutas da vida destroem mais facilmente os outros caracteres ethnographicos.
Os povos desapparecem, as raças extinguem-se no transcurso dos seculos, só os monumentos de arte e litteratura que de si souberam legar á humanidade lhes conservam na historia os nomes e os feitos.
Os que vivem estudando e engrandecendo, na pureza das suas formas, a lingua da patria são benemeritos.
Tenho concluido.
Vozes: - Muito bem.
O sr. Carrilho: - Roqueiro a v. exa. que consulte a camara se julga sufficientamente discutida a materia d'este projecto.
O sr. João Arroyo: - Pedi a v. exa. que me inscrevesse sobre o modo de votar, porque a minha qualidade de