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SESSÃO DE 26 DE JUNHO DE 1885 2649

tido esse projecto, e que não ficará jazendo nos archivos da camara, para o anno seguinte, tanto mais que já está votado o projecto sobre a organisação do quadro dos facultativos do exercito, porventura, menos urgente do que este.
Findam aqui as considerações que tinha a fazer sobre o projecto que foi submettido á apreciação do parlamento como disse, não para o impugnar, mas unicamente para fazer uma determinada ordem de reflexões que me pareciam indispensaveis, chamando a attenção do governo para a situação em que se encontra o material e o pessoal naval as necessidades do serviço, que reclamam o augmento d'esse pessoal.
Sinto não ter podido usar da palavra por occasião discussão da lei de meios, para mais uma vez reclamar do governo a reforma da tabella das comedorias, cujo augmento de despeza, em consequencia das circunstancias do nosso thesouro, póde ser atenuada n'outras dotações, alguma das quaes eu tive já occasião de mencionar.
Faço votos para que o governo tome na devida consideração a necessidade de reorganisar o pessoal de alguns quadros, como no dos machinistas navaes o do commissariado, tanto mais quando a questão colonial vae reclamar de nós um esforço maior n'este ramo de administração publica, e de que muito importa a conservação, se não exaltação, dos nossos bons creditos. (Apoiados.)
Tenho dito.
O sr. Scarnichia (relator): - Como o projecto não foi impugnado, nada se me offerece a responder, achando todavia judiciosas as reflexões feitas pelo illustre deputado.
O sr. Presidente: - Vae votar-se, visto que ninguem mais se inscreve.
Lido o projecto foi approvado na generalidade, e na especialidade.
O sr. Presidente: - Está sobre a mesa um requerimento do sr. Antonio José d'Avila por parte da commissão de guerra.
Vae ler-se.
É o seguinte:
Requerimento
Por parte da commissão de guerra roqueiro a v. exa. que consulte a camara sobre se permitte que seja aggregado á commissão o sr. deputado José Maria Borges.= Antonio José d'Avila.
Approvado.
O sr. Presidente: - A ordem do dia para ámanha é a continuação da que estava dada, começando-se pela discussão do projecto relativo aos melhoramentos do porto Lisboa.

Está levantada a sessão.

Eram seis horas da tarde.

Discurso proferido pelo sr. deputado Antonio Candido, sesão de 20 de junho, e que devia ler-se a pag. 2483, col. 2.º

O sr. Antonio Candido: - Sr. presidente, por poucos momentos tomarei a attenção da camara. Não venho discutir doutrinariamente este projecto de lei, nem exibir todas as justas considerações politicas que a materia d'elle inspira.
Por felicidade propria, e por felicidade de quem me ouve posso dizer resumidamente o que penso, e, n'este momento, a minha intenção é apenas marcar, com o stygma uma reprovação sincera e justa, este documento em que se prendem, n'uma solidariedade irritante, a responsabilidade do governo e a da illustre commissão do orçamento. (Muitos apoiados.)
Não me passa pela cabeça a idéa de fazer um discurso; não sinto no coração a necessidade do uma indignação vehemente. Não podendo reagir efficazmente contra o que faz, contra esta falta de caracter politico que se nota em tudo, contra a sophismação permanente é ousada de todos os principios constitucionaes, limito-me a não cooperar nas cousas parlamentares, ou a cooperar n'ellas, como agora, sem prevenção, sem alento e sem esperança ... E sinto o que o meu espirito não seja grande, que o meu pensamento não seja fecundo e luminoso, e que a minha palavra; não seja prestigiosa e eloquente, para que a subtração e, das minhas faculdades ao interesse do governo e á commodidade do parlamento podesse valer como um castigo, ou, pelo menos, como protesto do alguma valia!
Não, não é conveniente que se opponha aos desatinos d'esta situação, que se atreve a tudo e que não respeita nada, palavras de sciencia, argumentos de doutrina, textos de lei, conselhos de prudencia, ou movimentos de paixão! (Muitos apoiados.) Para que? Qual seria, a final, o resultado util?...Cada processo tem o seu tempo; e hoje, seguramente, n'esta hora triste da politica portugueza, a eloquencia grave, demonstrativa, inspirada por um patriotico ardor, moldada pelos melhores exemplares da arte parlamentar, seria quasi um anachronismo, e, em todo o caso, uma prova de mau gosto... E eu, pela minha parte, digo que já me ha de ser muito difficil levantar ainda uma vez as ondas vivas e puras da minha consciencia contra estas cousas falsas, hypocritas, desacreditadas e impudentes, a que se chama, por ironia, as instituições parlamentares do paiz! (Muitos apoiados.)
Não digo isto de coração leve; digo-o com sincero, profundo e entranhado pesar.
Outra tribuna que tive, e a que me não refiro nunca sem palavras de muito respeito e de muita sympathia, deixei-a quando, em minha consciencia, entendi que era dessa honra usar d'ella contra o espirito da sua instituição, ou
exploral-a em proveito proprio, sem convicções e sem lealdades. (Vozes: - Muito bem.) Esta, para que vim com tanta fé com tantas convicções, com tão sincero e fervoroso enthusiasmo... esta, presinto que ma não servirá por muito tempo, porque ou é demasiadamente estreita para os ideaes do meu espirito, ou é excessivamente ampla para o pequeno volume dos meus interesses e das minhas ambições.
Na sessão de hontem o sr. Franco Castello Branco, n'uma illusão que lamentei, fez aqui o elogio dos costumes politicos da nossa terra.
Que bello talento o seu! Que eloquente palavra, facil, prompta, viva! Desde a sua estreia, que foi brilhante, até ao ultimo discurso, exhibiu aqui as mais raras provas de um alto merecimento, que não póde ser discutido. (Muitos apoiados.) Eu applaudi-o sempre, com intimo gosto, por que o estimo desde que o conheço, e porque uma das poucas cousas que ainda fazem vibrar a minha sensibilidade, na politica, é a manifestação do verdadeiro talento na arte e na sciencia da palavra!
Mas fez-me tristeza o que lhe ouvi ante-hontem. O meu illustre amigo considera bons os costumes politicos; da nossa terra, e adduz, prova, o facto de conservarem sempre os seus logares os srs. deputados, dentro dos respectivos partidos, não havendo deserções a notar, em quantidade e qualidade apreciavel, desde os ultimos annos.
Já hontem o illustre e talentoso deputado, meu querido amigo, o sr. Carlos Lobo d'Avila, combateu o principal argumento do sr. Franco Castello Branco, mostrando que similhante theoria contradiz os principios do regimen parlamentar, e reduz, ao minimo valor, a missão d'aquella tribuna; e recordando a proposito, factos recentes da Inglaterra e da Allemanha, provou que, n'estas duas grandes nações, as cousas eram entendidas muito diversamente da opinião do eloquente deputado da maioria.
Gladstone, o velho e glorioso Gladstone, viu-se ainda ha pouco desamparado dos seus amigos, dos que o auxiliaram na sua grande campanha eleitoral contra Disraeli, dos que o sustentaram na difficil e perigosa questão da Irlanda, e