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SESSÃO DE 26 DE JUNHO DE 1885 2651

Por isso não a discuto.
(Interrupção que não se ouviu.)
Limito-me a protestar; abster-se é um velho preceito moral, muitas vezes necessario, e indicado n'este momento.
Uma voz: - E muito commodo.
O Orador: - Não é muito commodo; é menos do que parece, quando ha sincero desejo de servir o paiz.
No decorrer d'esta discussão, tem-se dito e repetido que, tendo a questão de fazenda sido tratada muitas vezes, estava perfeitamente dispensado o exame do orçamento.
Esta rasão impressionou-me extraordinariamente.
A questão de fazenda estava tratada, sim, mas não sob o aspecto orçamental,que é o mais util, o mais pratico, o mais analytico; a questão de fazenda estava tratada, mas não ha inconveniente em que seja versada muitas vezes, porque é difficil, porque é embaraçosa, porque está num ponto gravissimo, porque ella é o verdadeiro problema capital e momentoso da nossa dignidade politica e da nossa conservação nacional; (Apoiados.) a questão de fazenda estava tratada, mas a lei manda que se discuta o orçamento, e quando a lei não é cumprida, sem que a sua violação seja imposta pelos interesses da justiça, que lhe é superior, toda a confiança politica desapparece, toda a moral publica se desfaz e resolve em fumo, o prestigio das pessoas e das cousas deixa de existir, e não ha nada que suspenda a decadencia dos povos, que soffrem isto. (Apoiados.)
Ia faltando ao meu programma... Estava quasi a indignar-me. (Riso.) Tive tentações de citar os artigos da carta, de ler o regulamento de contabilidade, de trovejar aqui umas grandes ameaças, que ficariam sem echo, de reproduzir citações de auctores celebres, que já ninguem respeita...
Havia de arrepender-me, com certeza...
Vou concluir.
O sr. Eduardo José Coelho, meu illustre correligionario e bom amigo, tão notavel pelo seu talento, pela tenacidade do seu trabalho e pela sua invejavel fé politica, (Riso.) offereceu outro dia á camara o exemplar de uma mensagem, que deveria ser dirigida a Sua Magestade El-Rei, no caso de continuarem assim os attentados contra o regimen parlamentar do paiz.
Não sei, sr. presidente, se virão dias em que seja necessaria essa mensagem, ou cousa similhante. Oxalá que não venham! Mas, emquanto não vierem - se têem de vir, emquanto não chegam, desejo indicar a um dos mais distinctos apologistas da administração financeira do actual gabinete, o sr. João Arroyo, que hontem com a sua palavra alegre desfiou galhardamente aqui todo o rosario das bellas obras d'esta sessão parlamentar, desde a lei das alfandegas até á votação, que vem ahi, do caminho de ferro de Ambaca, e desde a proposta das reformas politicas até á reforma d'essa proposta, que está em gestação adiantada; desejo indicar ao meu illustre collega e amigo um facto da historia parlamentar franceza.
Era em janeiro de 1848. Thiers, com a sua adoravel voz moderada e eloquente, punha em relevo as más condições financeiras da França, aggravadas pelos orçamentos de 1846 e de 1847, e no seu discurso repetia muitas vezes estas palavras: Si un accident arrivait!...
O accidente não se fez esperar; foi a revolução de fevereiro. .. A phrase do glorioso cidadão era prophetica!
O que succedeu então é de recente memoria. Dispenso-me de o contar por isso, e porque prometti tomar pouco tempo á camará. (Muitos e repetidos apoiado.)
Vozes: - Muito bem, muito bem.

Discurso proferido pelo sr. deputado Antonio Candido, na sessão de 23 de março, e que devia ler-se a pag. 868, col. 2.º

O sr. Antonio Candido: - Pedi a palavra ante-hontem, quando fallava o nobre presidente do conselho de ministros, e pedi-a na esperança de lhe responder immediatamente.
Não pense a camara que eu tive a veleidade de querer defrontar-me á prestigiosa eloquencia d'este eminente parlamentar. Nos desvanecimentos do infinito favor com que tenho sido recebido n'esta casa, nas poucas vezes que me levantei para fallar, não perdi nunca o instincto do caminho que leva á minha consciencia, sempre severa no julgamento de si mesma, e só fácil e sympathica na apreciação dos outros.
Não me tenho em grande conta, e sabia que me havia de ser difficil conciliar a attenção publica, depois de dois discursos que não podiam deixar de erguer, na admiração d'esta assembléa, culminações inaccessiveis á humildade do meu pensamento e á modestia da minha linguagem.
O que me fez pedir a palavra foi o desejo de levantar e discutir algumas affirmações do sr. presidente do conselho, que me pareceram menos justas ou menos exactas, e de contrapor uma nota grave e sentida ao tom geral do seu discurso, em que o faceto desceu mais do que devia descer, e o epigramma roçou um pouco pela injuria. (Muitos apoiados.)
O sr. Fontes Pereira de Mello habituou desde muito o parlamento portuguez ás suas idéas velhas e ás suas maneiras antigas; já que não muda de idéas, será bom que não mude de maneiras. (Muitos apoiados.)
Tencionava ante hontem ser breve; não serei hoje muito extenso. Consta-me que vae ser encerrada a discussão sobre o bill, e não quero, pela minha parte, oppôr ás impaciencias da maioria a resistencia de um longo discurso, que a incommodaria a ella, e caíria sobre mim em manifestações do desamor pelas minhas intenções e pela minha palavra.
Lamento que a discussão seja encerrada tão cedo. A sua extrema gravidade devia pôl-a a coberto d'estes processos violentos, que não acreditam nunca as assembléas que os empregam. (Apoiados.)
O sr. presidente do conselho que estava, na sessão de ante-hontem, com veia litteraria, lembrou-se do seu Shakspeare, e citando a conhecida phrase do Hamlet, disse que, politicamente, para o governo, esta questão era de ser ou não ser.
Em assumptos de tanta magnitude, a compressão parlamentar antes de tempo não será um crime, mas é uma falta. E tem applicação agora o dito de Talleyrand. (Riso.)
A accusação ao governo tem sido impertinente e demasiadamente aggressiva ?.. Mas nos bancos do poder estão talentos de primeira grandeza, que certamente não fizeram voto de mudez completa n'esta discussão; mas esta maioria, uma das mais intelligentes que tem apoiado situações regeneradoras, e em que a arte da palavra já fez colheita de nomes que ficam, de nomes que não passara, tem oradores distinctos, de sobra, para se succederem na estacada, pugnando pela porção de verdade, pequena ou grande, que lhe pertence n'esta campanha parlamentar. (Apoiados.) .
Procurar-se-ha insinuar que a opposição tem estado aqui, não a cumprir um dever nacional e partidario, mas a embaraçar e a obstruir por todas as fórmas a missão d'esta camara e a vida politica do ministerio? Mas seria soberanamente injusto? Cada um dos meus nobres collegas da minoria trouxe ao interesse d'este debate uma contribuição ponderosa, individual, caracteristica, desde o orador que a iniciou com unica palavra limada e precisa, que lembra os mais distinctos exemplares da eloquencia latina, até ao nobre estadista que precedeu o sr. Fontes, e que habituou desde muito o parlamento a receber, em cada discurso seu, uma amostra de boa eloquencia parlamentar e uma clara lição de doutrina. (Apoiados.)
Quererá o governo economisar tempo para as reformas politicas? Mas elle sabe que o partido progressista não cooperará n'essas reformas, limitando-se a marcal-as com o