2274 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Mas eu ía dizendo que a Inglaterra:
(Leu.)
Marchemos agora para o sul e vejâmos:
(Leu.)
Porque é que no mesmo paiz, com a mesma educação agricola, com as mesmas escolas o com systemas que não são muito diversos, a producção não é igual em todas as regiões?
O sr. Antonio Maria de Carvalho: - S. exa. esquece-se de que no sul da Franca é onde mais desenvolvida está a cultura da vinha e por tal fórma, que os melhores terrenos são applicados a ella, e por isso seria necessario que, depois das medias que s. exa. indicou com respeito ao confronto das duas producções, se lembrasse que essas producções no sul da França não são em terrenos arborisados, são nos melhores terrenos.
O Orador: - Os melhores terrenos são applicados á cultura da beterraba. No norte a beterraba está para o trigo, como no sul a vinha está para o trigo.
Vamos á Italia. Na Italia a producção é de 11 a 12 hectolitros por nectar. Ora, porque 6 que a Italia tão illustrada e cujos campos são perfeitamente cultivados, não produz senão 11 a 12 hectolitros por hectar?
(Aparte do sr. Antonio Maria de Carvalho.)
Quem tira 40 sementes da cultura do trigo está riquissimo.
(Aparte do sr. Antonio Maria de Carvalho.)
Pois então se elles semeiam trigo em terrenos onde não o devem semear, para que se queixam de que a cultura não é remuneradora?
Quem cultiva mal, queixe-se de si proprio, e não venha pedir protecção aos poderes publicos.
Com tudo ha muitas terras em Portugal boas para a cultura do trigo. O Egypto que tem o calor e o fresco é uma excepção.
Sobre outros pontos que o illustre deputado tratou, passarei muito rapidamente.
O illustre deputado queria uma fabrica que tivesse um subsidio qualquer para moer trigo nacional.
Vamos a ter duas ordens de fabricas para isso. Primeiro são as azenhas, as turbinas, e os moinhos de vento, ás quaes se concedo a isenção do imposto industrial conforme os desejos do congresso agricola; segundo, que é um importantissimo elemento de concorrencia a fabricação por conta do estado, porque vão abranger não só o exercito, como a armada e todos os estabelecimentos dependentes dos ministerios do reino e da justiça, o que ha de fazer um grandissimo consumo aos cereaes nacionaes.
Aqui tem já s. exa. um elemento poderosissimo de concorrencia contra os moageiros, dizendo perante a camara o que disse perante a commissão, de que se os lavradores têem commettido erros e culpas, e algumas acaba de confessar o illustre deputado, os moageiros têem commettido muito maiores.
Não chego a comprehender que havendo tantos lavradores ricos, não se lembrassem de montar uma fabrica de moagem. (Apoiados.)
Se aquella industria é boa, os proprios lavradores ricos deviam concorrer com ella para moerem o trigo nacional.
Desde o momento que deixaram descer o preço do trigo abaixo de um certo limite, hão de ser assoberbados pela concorrencia das farinhas americanas.
O interesse do moageiro é manter o preço do trigo dentro do limite fixado na lei ou mesmo um preço acima d´ella, e esse limite é muito inferior ao actual.
Repito, isto não foi renovar a discussão dos cereaes, foi dar uma explicação ao illustre deputado.
(Interrupção do sr. Antonio Maria de Carvalho.)
O illustre deputado quer que annulle tudo quanto ha de theoria da renda da terra; queria para todas as terras o mesmo valor. Isto não é possivel.
O que o estado deve ter é nos seus caminhos de ferro tarifas baixas, e influir com as companhias dos caminhos de ferro para terem tambem tarifas baixas; mas dar subsidio aos lavradores para transportarem os seus productos, parece-me que excede os limites de tudo quanto se póde permittir. (Apoiados.)
D´esta fórma não sei porque não se ha de conceder tambem aos industriaes que estão longe de Lisboa o transporte dos seus productos, e até a viagem aos viajantes. (Apoiados.)
Porque o illustre deputado, que é proprietario em Evora se quizer vir de Evora para Lisboa com tudo quanto lá fabricar, ponha tambem todos os lavradores, o industriaes e toda a gente no Terreiro do Paço para o governo lhes pagar o transporte! (Apoiados - Riso.)
Desde que s. exa. se mette n´esse caminho, vá mais longe. Peça a Deus que modifique o clima e verá como temos em Portugal excellentes searas de trigo.
Não peça ao governo o que não couber nas suas posses, isto é, que annulle as distancias, porque isso é impossivel. (Apoiados.)
Vozes: - Muito bom.
(S. exa. não reviu as notas tachygraphicas.)
O sr. Miguel Dantas: - Apesar de não estar presente, nem o sr. ministro da marinha, que me dizem estar doente, nem o sr. ministro das obras publicas, a quem especialmente tenho de me dirigir, vou dar conhecimento á camara e ao governo, representado pelo sr. ministro da fazenda, de mais um naufragio, succedido na barra de Caminha, em 16 d´este mez.
Por cartas particulares e por um jornal da localidade tive conhecimento de que n´aquelle dia naufragou ali um barco de pesca tripulado por onze pessoas, as quaes teriam sido todas victimas, se não lhes valessem os soccorros inesperados de um barco hespanhol, ancorado n´aquelle porto e do um escaler de sargaceiros, pertencente a Francisco Lourenço do Poço, que se achava na insua.
Aquelles benemeritos cidadãos tiveram a coragem de arriscar a sua vida para salvarem todos os desgraçados naufragos, que, sem a sua intervenção humanitaria, teriam perecido inevitavelmente.
Este naufragio foi a repetição de muitos outros que se têem dado n´aquella barra, onde, ha bem pouco tempo, naufragou um barco inglez, de cuja tripulação, composta de doze ou quatorze pessoas, tivemos a lamentar a perda completa.
Sr. presidente, eu faltaria ao meu dever, se não chamasse a attenção do governo para estes graves acontecimentos, vindo recordar mais uma vez os meus successivos pedidos, perante o sr. ministro das obras publicas, para que torne effectiva a promessa que s. exa. me fez o anno passado, mandando proceder aos melhoramentos indispensaveis e inadiaveis n´aquella barra, para os quaes já existem estudos, ha muitos annos approvados pela junta consultiva.
É incontestavel que o estado de abandono em que se encontra aquella barra, é a causa dos repetidos e constantes naufragios que ali occorrem, em prejuizo do commercio e da humanidade; e não devendo, portanto, continuar este estado de cousas, urge tomar providencias, que me não cansarei de pedir.
É preciso que melhoramentos d´esta ordem não fiquem eternamente adiados, para não termos de referir mais tarde outros naufragios e lamentar mais perdas de vidas.
Sr. presidente, quando se deu o naufragio do barco inglez a que ha pouco me referi, reclamei do sr. ministro da marinha um barco salva-vidas, ou pelo menos um cabo de vaivem para soccorrer os naufragos em casos extraordinarios. Havendo em quasi todos os portos aquelles recursos, é justo que Caminha os possua tambem, e que não continuo esquecida de tudos os melhoramentos.
Um barco salva-vidas, ou pelo menos um cabo de vaivem são de pouquissima importancia, custando aquelle apenas