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2794 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

melhor. Deseja que o sr. Guerreiro lhe diga se não receia que a força da corrente ao longo do caes marginal seja uma dificuldade para a atracação.
«Não nega que se atraque mais facilmente a um caes do que a uma ponte; do que não está porém convencido é de que essa maior facilidade seja compensação suficiente da grande despeza da construcção de um caes tão avançado e de tal extensão, quando as pontes bastariam para os grandes navios, e os fins que se pretende conseguir obter-se-íam do mesmo modo e com menos despeza, levando o caes marginal por uma linha de agua menos profunda, convenientemente estudada, com caes fluctuantes para passageiros, porque o movimento commercial estaria concentrado onde disse. A grande despeza provém da profundidade a que se quer levar o muro, e que não é necessaria para regularisar a margem nem para a salubridade, porque a formação dos depósitos não se dará só por ser menor a altura do caes. Julga desnecessarias as docas de fluctuação para os grandes navios, parecendo lhe que as pontes-caes satisfazem para a descarga destes, e que não offerecem inconvenientes para o regimen do rio, visto que o obstáculo á corrente é pequeno, e os depositos que podem formar-se são tão pouco importantes, que facilmente se dragam.
«Bem sabe que as pontes-caes são menos praticas, e reconhece que o caes é melhor. Mas o que não vê é bastantes rasões para justificar a grande despeza que este exige.
«Na construcção da ponte syphão de Sacavem, quando o trabalho das fundações chegou a 30 de metros, fizeram-se descer alguns mergulhadores portuguezes, mas nenhum d'elles pôde resistir; mandou-se vir um de Inglaterra, mas quando chegou áquella profundidade perdeu os sentidos, sendo necessario içal-o.»
Repare a camara para este parecer, que é tão consciencioso, como insuspeito, e que é de um engenheiro, conhecedor deste género de trabalhos.
São realmente concordes todos os homens práticos na impossibilidade ou quasi impossibilidade de fundações para a construcção das obras, por ser nalguns pontos preciso profundar abaixo de 30 metros.
Ora, quando um engenheiro tão distincto, com tanta pratica de serviços análogos, e tão conhecedor das difficuldades de obras hydraulicas, alem de considerar desnecessária obra tão dispendiosa, reconhece a impossibilidade das fundações para assentar a obras de apparato, e argumenta com a sua pratica, especificando mesmo o facto de que na construcção da ponte syphão de Sacavem, quando o trabalho das fundações chegou a 30 metros, e se fizeram descer alguns mergulhadores portuguezes, nenhum póde resistir, e que, mandando-se vir um de Inglaterra, quando chegou áquella profundidade, perdeu tambem os sentidos, sendo necessario içal-o! é preciso estudar de novo o assumpto, e examinal-o com a maior attenção, para não ficarmos depois sem as obras, e apenas com os réis 15.000:000$000 às costas do paiz.
Não terá rasão no que diz este distincto engenheiro?
Talvez.
Mas em todo o caso era preciso averiguar com a mais desvelada attenção, e submettendo o caso ao parecer de especialistas, se esta e outras observações, no mesmo sentido feitas na associação dos engenheiros civis, eram ou não procedentes, em vez de se dar andamento rápido a uma providencia, em que é certo gastarem-se 15.000:000$000 réis, e incerto o resultado das obras.
Nestas condições nenhum governo, medianamente prudente, deixaria de proceder a novos estudos, e de sujeitar a novas provas as conclusões do parecer da commissão nomeada em 1883, aliás composta de homens illustres e distinctos, antes de comprometter o paiz em enormes sacrifícios de uma utilidade problemática.
A questão dos melhoramentos do porto de Lisboa não se resolve com expansões de enthusiasmo, nem á sombra de intuitos partidários, mais ou menos legítimos.
É preciso appellar para a rasão fria, e não dar um passo sem perfeito conhecimento de causa.
Ouçâmos agora outro digníssimo membro da associação dos engenheiros civis, que tambem tomou parte na discussão.
Refiro-me ao sr. Mattos.
Dizia elle:
«Relativamente á construcção do muro de caes têem-se levantado graves apprehensões, e elle orador é victima de uma d'ellas.
«Segundo as sondagens do sr. Lima, a camada de lodo junto á margem do rio chega a ser da 28 metros, o que obrigaria a levar as fundações em alguns pontos a cerca de 33 metros abaixo da baixamar para as assentar na rocha.
«Com tão considerável profundidade ha fortes motivos para desconfiar da sufficiencia dos processos de fundação até hoje empregados.
«Em Anvers os caixões desceram a 24 metros, onde assentaram em terreno que se julgou offerecer a resistência necessária, composto de areia fina e compacta.
«Se a 24 metros, que foi já uma profundidade excepcional, o trabalho é já difficil, não imagina como poderá praticar se a 33 metros, onde a grande pressão deverá tornar impossível ou muito dificultosa a respiração dos operários.
«Seguindo o methodo de Anvers, ha na parte inferior a camara de trabalho onde os homens vão escavando e ligando a esta superiormente uma especie de caixão sem fundo onde se vae fazendo a alvenaria a secco; este caixão tem de ser içado depois, por meio de andaimes especiaes, que devem ter pelo menos uma altura igual á differença de nivel entre o máximo baixamar e o tecto da camara de trabalho, e se esta tiver de descer muito fundo não sabe como possa fazer-se uma tal operação, construindo andaimes de altura correspondente.
«Pelos motivos apontados parece-lhe que é arrojo querer empregar um processo similhante para uma profundidade tão considerável.
«Emquanto ao nivel na doca de fluctuação conserva as mesmas duvidas.
«Parece-lhe difficil mostrar que não se dará a communicação através do terreno.
«A questão é a agua passar ou não; se ha duvidas, não vale a pena fazer tão grande despeza, porque uma porte das vantagens da doca de fluctuação póde conseguir-se n'uma simples doca de marés.
«Os assoriamentos hão de dar-se fatalmente, em maior ou menor grau, e as dragagens hão de ser indispensáveis. Mas é preciso que o movimento commercial de para. isso, porque a despeza é importante.
«Para abrigar os navios temos as docas de marés e a face interior do muro de caes, o que já é talvez bastante. Quer-se ainda mais, e pretende-se uma doca de nivel constante.
«O que é preciso é que haja a certeza de o conseguir, e parece-lhe que ha motivos para duvidar.
«Se no inferior de um caixão a pressão diminue, a agua sobe logo, e suppõe que um phenomeno análogo deverá dar-se na doca, quando diminuir a pressão na agua do rio em relação á da doca por effeito das differentes alturas da agua.
«Parece lhe que a construcção desta doca póde deixar-se para mais tarde, e que não convém deixarmo-nos seduzir desde logo pelas vantagens que se lhe attribuem.
«Quando veiu do estrangeiro tinha enthusiasmo pelas docas e quiz estabelecel-as no Douro; mas teve de renunciar á sua idéa em consequência da pequena amplitude das marés. Pensou em substituil-as por pontes caes, mas não se chegaram a fazer.
«O projecto da commissão é muito caro, e isto póde ser a causa da sua morte. Deve portanto procurar-se tornal-o o mais barato possível.