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SESSÃO DE 2 DE JULHO DE 1885 2795

«As docas de fluctuação são sobretudo de grande conveniencia nos portos em que as marés têem grande amplitude. Em Gravelines esta é de 13 metros; em Londres e Liverpool a amplitude das marés é tambem muito grande, e n'estas circumstancias as docas de nível constante são indispensaveis para a regularidade do serviço da carga e descarga dos navios.
«Em Lisboa, porém, a amplitude maxima das marés é de 3",90, e isso mesmo é só nas syzygias, porque nas marés ordinarias a variação de nivel pouco excede 2 metros.
A vantagem das docas de fluctuação torna-se assim muito menor, e por isso só deveriam ser adoptadas se a sua construcção fosse barata, o que não acontece. Pela sua parte não a reprova, mas acha-lhe o inconveniente de exigir grande despeza de construcção, sobretudo pela rasão da grande profundidade a que será preciso descer as fundações das suas reprezas ou eclusas.
«Outro ponto, tambem muito importante, é a difficuldade de execução do muro de caes, pela necessidade de levar os alicerces a grande profundidade. É preciso que não haja duvida alguma sobre a possibilidade de levar essa obra a effeito, sob pena de se correr o risco de grandes decepções.
«Sendo provavel que as profundidades de 15 e 24 metros marquem os limites dentro dos quaes terão de ser fundados os alicerces dos caes, a construcção d'estes parece, pois, possível e não sair dos limites da pratica corrente. Com estas alturas a construcção é possível, mas muito despendiosa. Para attenuar a despeza tem-se lembrado deixar de encher o caixão, construindo o macisso dos alicerces em arcos, mas assim augmentaria muito a pressão na parte correspondente aos pilares, o que é inadmissível, porque uma das principaes condições a attender é que a pressão não exceda certo limite.
«Nas sessões passadas discutiu-se entre outros pontos a necessidade da doca de fluctuação, que elle orador disse não julgar indispensavel, por serem pequenas as amplitudes das marés. Insiste n'este ponto, por ver que estamos j muito longe do que se dá em Inglaterra, em que a variação do nível chega a ser de 9 e 10 metros, e onde não poderiam por isso fazer-se docas de marés porque os navios tocariam no fundo por occasião da baixamar. No Havre e em Marselha as docas de marés são bastantes, porque a amplitude das marés é muito pequena. No nosso porto temos 3m,90 nas aguas vivas, e nas marés ordinárias 2 a 3 metros, pouco mais ou monos. Com uma variação d'estas não fica sensivelmente alterado o serviço das descargas, sobretudo empregando n'estas os meios aperfeiçoados que hoje se conhecem. Os guindastes hydraulicos de Armstrong na pratica tão facilmente elevam as mercadorias a 2 metros como a 4 metros. É esta uma das rasões porque não acha muito importante a doca de fluctuação, que aliás não reprova, mas sómente acha muito cara em relação á sua utilidade. Parece-lhe mesmo que não convem adoptal-a porque a dificuldade das fundações eleva muito o seu custo. Entretanto, é possível que modifique a sua opinião, se lhe mostrarem que não serão excessivas as despezas que deverão provir da sua construcção.
«Offereceram-se-lhe, porém, certas duvidas, a que mais ou menos completamente se tem respondido; só lhe resta uma, a que se refere á doca de fluctuação. Reconhece que é de uma grande commodidade, mas compensará a despeza da sua construcção? É ahi que está a questão, porque no tocante às docas de marés ninguem contesta a sua necessidade. O que não sabe muito bem é quaes serão os navios que irão á doca de fluctuação.
«Os paquetes vão á bóia, e largam depois de pouca demora. Os navios que trazem carga, esses entrarão nas docas, mas não vê rasão para preferirem a doca de fluctuação às de marés; e mesmo talvez acostem á face exterior dos caes, e ahi descarreguem, porque aquella face ha de ser bastante abrigada, e portanto a ondulação ahi deverá ser pequena.
«Depois, ha o inconveniente das perdas de agua por infiltrações das docas de fluctuação; mas como este ponto é duvidoso, não quer insistir n'elle. Por outro lado ha a attender á grande despeza proveniente das reprezas ou eclusas, sendo preciso levar a soleira d'estas 6 metros abaixo do zero hydrographico; e uma eclusa de 30 metros de largura numa extensão de mais de 150 metros é muito cara. No Havre a soleira da doca de fluctuação da Citadelle está a 4 metros de profundidade, e é construída sobre areia consistente. Cá o fundo é de todo; póde construir-se um muro nessas condições, mas uma soleira nestas condições parece-lhe extremamente difficil, por obrigar a processos especiais e muito despendiosos. Atendendo á natureza do terreno cré que a despeza a fazer com as soleiras, portas, etc., ha de ser muito consideravel. Por outro lado afigura-se-lhe que as vantagens que se pretendem obter com a doca de fluctuação são menos importantes que nos pôrtos de grandes amplitudes de marés.»
Aqui tem a camara um engenheiro distinctissimo, declarando-se tambem victima das graves apprehensões do publico a respeito da construcção do muro de caes, e julgando impossíveis ou pelo menos difficilimas as fundações pelos processos até hoje empregadas e conhecidos.
nem ainda se sabe até que profundidade terão de descer as fundações para satisfazer em toda a sua largura ao pensamento da commissão nomeada em 1883, que propõe o avançar o muro de caes acostavel pelo Tejo dentro, do modo que os navios de maior lotação tenham na maior baixa-mar o calado de 10 metros de agua.
Ora, similhantes obras, ainda quando necessarias, são de realisação difficilima.
Nem o governo se preoccupa com uma das difficuldades mais importantes que póde surgir n'este grave assumpto, difficuldade que aliás preoccupou a associação dos engenheiros civis, inclusive o illustre relator da commissão de 1883, que vem a ser a questão dos assoriamentos.
Qualquer que seja a distancia a que avance o caes podem apparecer os assoriamentos.
É o proprio auctor dos trabalhos da commissão de 1883, engenheiro tambem muito distincto, e verdadeiramente insuspeito neste caso, que não responde por que não haja assoriamento qualquer que seja a distancia do avanço do caes. Diz elle:
«É claro que n'estas cousas não ha rigor mathematico; não póde affirmar-se que a qualquer distancia da margem deixe de haver assoriamentos; é certo, porém, que quanto mais longe estiver o caes, mais difficil se torna a formação de depósitos. E certo que, como disse o sr. Loureiro, as dragagens hão de ser talvez necessárias, e de quando em quando, em alguns logares como diante da alfândega, etc. mas a com missão pensou que quanto mais longe fosse o caes, menores seriam os assoriamentos.»
Bons annuncios de despeza para a conservação das obras, que provavelmente nem darão para estas despezas!
Sendo, pois, do conhecimento de todos a tendência para o assoriamento na margem direita do Tejo, não se atrevendo ninguém a affirmar, nem o proprio auctor da obra grandiosa, que deixe de haver assoriamentos, qualquer que seja a distancia a que se leve a construcção do caes, como quer o governo, sem novos exames, e sem novas indagações, seguir avante com o seu projecto? Ousa recorrer ao expediente das dragagens?
Mas as despezas da construcção do muro, sommadas com as da dragagem, em que preço nos ficam?
Onde nos leva o custo dos trabalhos, sommado com a despeza de conservação das obras? (Apoiados.)
Julgam o governo e a camara que o paiz está a nadar em dinheiro?
O tempo os desenganará, e talvez mais breve do que se pensa.