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SESSÃO DE 2 DE JULHO DE 1885 2797

Portanto, os engenheiros, sem faltarem aos seus deveres de homens da especialidade, viam-se obrigados inquestionavelmente a guardar conveniencias e considerações para com os collegas que tinham o voto já empenhado sobre o assumpto, e principalmente para com o governo que tinha já apresentado a proposta, e bem assim para com as duas commissões d'esta camara que a tinham approvado.
Pois sem embargo de se ter pedido a consulta da associação dos engenheiros civis, só depois do governo ter pronunciado a sua opinião com a apresentarão da proposta, e de se terem associado a ella duas commissões d'esta camara, uma das quaes, a commissão de obras publicas, com voto preponderante pela competencia especial dos seus membros, ainda a associação dos engenheiros civis emittiu a sua opinião com a clareza e desassombro sufficientes para deixar perceber que as obras projectadas são, na sua base, obras de mero apparato para um porto como o do Tejo, e que outro resultado não poderão dar senão sobrecarregar o paiz com mais 15.000:000$00 réis, se não prejudicarem tambem as condições de navegabilidade da barra de Lisboa.
Vou agora ler á camara as considerações feitas na associação dos engenheiros civis, pelo distincto engenheiro o sr. Adolpho Loureiro, cuja opinião é muito attendivel, porque este cavalheiro, tendo viajado muito peia Europa e pela Ásia, deu noticia á associação dos engenheiros civis do que tinha visto neste género de obras hydraulicas tanto n'uma, como n'outra parte do mundo.
O seu parecer é imparcialissimo porque contou o que viu e o que presenceou, sem revelar paixão por estes ou por aquelles melhoramentos.
Diz elle:
«Os portos, que teve occasião de visitar no estrangeiro, fornecem comtudo muitos exemplos valiosos para o estudo do assumpto de que se trata, e vae citar alguns que poderão esclarecer a questão.
«Tenciona dar uma noticia desenvolvida da sua visita a esses portos n'um relatório que talvez seja impresso, assim como tem muito gosto em poder dar á associação todas as informações ao seu alcance.
«Por agora só fallará em these, e sem applicação designadamente ao porto de Lisboa.
«Nos portos que viu, tanto no continente europeu como no asiático, muitos dos quaes são extremamente notáveis e dos mais importantes do mundo, encontrou do tudo; concluindo que não podiam estabelecer-se princípios fixos e absolutos para o que se chama o aménagement de um porto.
A disposição das differentes obras e partes de que é composto um porto commercial depende das condições da localidade e varia com a quantidade e natureza das mercado rias que compõem o seu trafico, com as operações a que estas têem de ser submettidas, e com muitas outras circumstancias.
«Ha portos com docas de fluctuação e sem ellas, o que depende principalmente da maior ou menor amplitude das marés: e assim como ha portos que são completamente desprovidos de docas de qualquer especie, assim ha outros em que todas as operações de cargas e descargas de navios só são effectuadas em docas de marés ou de fluctuação.
«Se em these as docas de fluctuação são magnificas, a pratica contínua sempre os seus bons serviços por forma muito apreciável. Se no nosso porto são ou não necessárias, não o póde dizer, nem sobre o assumpto póde ter opinião formada. Nos portos sem marés, como os do Mediterrâneo e Adriático, as docas de marés dispensam as de fluctuação e satisfazem plenamente. Estas docas são indispensáveis quando os navios toem difficuldade de acostar aos caes, ou estes não têem. a profundidade necessária para os navios de grande tonelagem e arqueação. Nos portos onde as marés têem grande amplitude, é indispensável adoptar as docas de fluctuação, que são insubstituiveis. O que vê é que, hoje, a primeira condição a que procura satisfazer-se em um porto é, primeiro a da tranquilidade e da area sufficiente para todas as operações dos meios, depois a da facilidade e promtidão da carga e descarga.
«Com as docas perde-se tempo por causa da manobra das portas, e as despezas para o commercio e navegação são maiores, e d'ahi a repugnancia que os navios geralmente têem em entrar n'ellas, preferindo, se n'isso não corre risco a sua segurança, acostar aos caes.
«Emquanto á disposição dos caes e terraplenos, o que actualmente está admittido, nomeadamente em França, é que tenham grande largura e disponham de grandes areas.
Mas a verdade é que via, como disse, de tudo: caes largos e caes estreitos, armazens de todos os feitios, altos e baixos, serviço hydraulico, eu não; e até deposições perfeitamente excepcionaes, como em Calcutá e Bombaim, onde, apesar de haver guindastes magnificos, grande parte das cargas e descargas se faz por meio de barcos, isto é, fora dos caes. E que lá têem o coolie, elemento barato que falta noutras partes. E por isso quando notava que em portos de tão grande movimento e actividade, e com obras tão importantes e custosas, se fizesse o serviço d'aquella fórma, respondiam-lhe os engenheiros que não podiam desprezar-se os elementos especiaes que ali se encontram. No dizer d'estes, com o serviço dos barcos e dos coolies realisavam se economias, e por aquella fórma se procedia nos importantes portos de Colombo e de HongKong, e em Calcuttá e Bombaim se recorria áquelle expediente.
«No porto de Lisboa a insufficiencia dos caes é a rasão que, a seu ver, justifica a construcção das docas, e não a necessidade de abrigar os navios, porque julga que um bom navio, de grande tonelagem e bem provido de ferros e correntes, não tem aqui a arrecetar-se dos temporaes. Os barcos pequenos de cabotagem e de serviço do porto é que carecem de abrigo; mas esses exigem docas de pequenas dimensões, e a commissão a isso attendeu convenientemente.
«Em Colombo não ha caes; estabeleceram um molhe muito curioso e bem feito, e julgaram que da parte interior elle permittiria a acostagem; mas as vagas passavam por cima do molhe, e os navios não podiam ali conservar-se.
N'estas condições, todas as cargas e descargas eram feitas em pleno porto por indo de barcos nativos, o que não obsta a que este porto seja de uma animação e movimento extraordinários.
«O novo porto de Batavia, Priok, é um porto artificial aberto era fundos de coral. De uma grande bacia exterior passa-se para as interiores, bordadas de caes acostáveis, e todo o serviço deve ser feito directamente para os caes, que serão providos de hangars, armazéns e vias ferreas.
«Hong-Kong, que é um porto de movimento verdadeiramente extraordinário, e que é o emporio do commercio da China com a Europa e a America, não tem docas, mas sómente caes acostavel às pequenas embarcações.
«As condições nativas d'este porto são magnificas, normalmente; é muito abrigado, e apenas soffre algumas vezes com o cyclone.
«Todos os grandes navios que o frequentam fazem as suas operações no meio do porto por intermedio dos pequenos barcos e juncos chinezes.
«Se alguma cousa acha grandiosa ou exagerada no plano de melhoramentos do porto de Lisboa, é a altura de agua que se quer dar aos muros de caes, e que podia deixar de ser 10 metros. A rasão que se dá para isso é comtudo bastante convincente, isto é, que pouco se pouparia ou economisaria na construcção, dando ao caes só 8 metros de agua, e sacrificando-se as vantagens que o projecto offerece. Em todo o caso, entende que deve contar-se que ha de haver dragagens a effectuar na construcção e manutenção do porto, mas não devem recear se porque em toda a parte são admittidas hoje como indispensáveis, e como uma necessidade fatal dos portos.