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SESSÃO NOCTURNA DE 2 DE JULHO DE 1885 2827

caminhos de ferro, não virão aqui receber algumas toneladas de carga soffrendo a menor demora.
Para esta navegação haverá um só e único systema de embarque e desembarque: por meio de fragatas ou barcaças, que esperem os navios proximos dos fundeadouros, não lhes fazendo perder o menor tempo.
É mesmo este o modo, por que elles recebem actualmente o carvão.
Ora, em 1881 a navegação de escala, como já disse, representava 38,5 por cento da arqueação total, e em 1883, como a propria commissão o affirma, n'uma arqueação de 3.615:000 toneladas, 1.300:000, isto é 36 por cento, pertenciam á navegação de escala.
Pois nem ao menos estas descontou! Nem ao menos se recordaram de que uma boa parte d'ella vem dos portos do Brazil, inficionados de febre amarella! Até esta, louvado Deus, entrará na doca ou acostará!?
Logo em relação á natureza commercial do porto de Lisboa, quer derive da situação geographica, quer decorra do movimento das mercadorias, o systema de obras que tenha por elemento uma doca de fluctuação, não é admissivel; nem poderá alguem, a meu ver, produzir uma só rasão para construir esta dispendiosissima obra n'um porto como o nosso.
Vejâmos, porém, se em Lisboa se realisam algumas das condicções especiaes e, permitta-se-me a expressão, topographicas, que podem ainda aconselhar a construcção das docas de fluctuação.
Estas condicções podem reduzir-se a quatro:
1.ª Falta de capacidade no porto.
2.ª Grande amplitude das marés.
3.ª Abrigo e segurança para os navios.
4.ª Facilidade de carga e descarga.
Em alguns portos, pelo desenvolvimento do trafego commercial, a superficie dos estuarios e das aguas fluctuaveis tornam-se insufficiente; então manifesta-se a necessidade de alargar os portos conquistando terras para as aguas; ninguem de certo affirmará que similhante rasão se dê no porto de Lisboa.
A amplitude das marés, que em alguns pontos se eleva a 12 metros e mais, difficultando consideravelmente; ou mesmo impedindo a carga e descarga, póde tambem exigir a construcção de docas de nivel constante ou de fluctuação, não será por certo o nosso tejo, com marés de 4 metros nas syzygias e 1,5 nas quadraturas, isto é, com uma amplitude media de 2,75 metros, que impedirá as operações maritimas junto os caes ou ás pontes, aonde aliás deverão existir bons a apropriados apparelhos.
Emquanto á segurança dos navios, por Deus não calumniem o pobre Tejo, que de quando em quando apenas se lembra de se enfurecer, afundando algumas fragatas, que no dia seguinte são postas a nado quasi sem estrago!
Nos nossos dias notam-se dois ou tres naufragios de navios, quasi todos provenientes da incuria das tripulações. O ultimo, por exemplo, o do Insulano, se o nome me recorda, vio-o eu proprio n'um dia magnifico. O navio garrou, por mal ancorado, e foi espetar-se no ariete do Vasco da Gama.
Os dados climatericos que acompanham o relatorio da commissão de 1883 demonstram á saciedade a serenidade do Tejo, a respeito do qual se póde dizer que mata menos gente annualmente do que qualquer dos nossos poeticos rios, o Lima, o Mondego, por exemplo.
Mas, se effectivamente esta rasão fosse decisiva para abrigar os navios, bastavam docas abertas, isto é, sem eclusa.
Alguns portos importantes t~eem apenas dicas abertas; em Clasgow, por exemplo, a melhor doca, a Queen's dock, não tem eclusa.
Uma doca aberta de 8 metros de agua nos baixa-mares, dará abrigo, se for preciso, aos maiores navios commerciaes do mundo. Se querem, levem-n'a mesmo a 10 metros, porque não é difficil dragar nos ledos.
Uma voz: - E a eclusa?
O Orador: - O empreiteiro ha de querer construir a eclusa; nós não, porque a eclusa custar-nos-ha, segundo, o calculo de Cood, pelo menos 1:700:000$000 réis, alem da difficuldades do paredão impermeavel, que este mesmo engenheiro orça em 2.092:000$000 réis.
A simples supressão da eclusa, poder-nos-ha produzir uma economia de 3.000:000$000 réis.
Emquanto á facilidade da carga e descarga, se a doca de fluctuação o proporciona, tambem se alcança ella por meio de caos acostáveis, de docas abortas, ou ainda por meio de pontes.
Tenho, sr. presidente, brevemente apresentado as rasões, por que não posso concordar com um projecto de obras, que envolva uma doca de fluctuação.
Não quero melindrar alguém. Todos, que me toem escutado, sabem que respeito os meus collegas, e sobretudo, na tribuna parlamentei, jamais me ouviram discutir senão idéas, e apreciar senão opiniões. (Apoiados.) Portanto, o que eu vou dizer não póde envolver a menor censura a quem quer que seja.
Acerca dos melhoramentos do porto de Lisboa existe um trabalho muito importante, que receio muito possa influir profundamente sobre os que tenham de estudar e projectar as obras definitivas. É o trabalho da commissão de 1883.
A commissão adoptou systema de doca de fluctuação; e n'este projecto em discussão diz-se que se deve ter em vista o projecto de 1883. D'aqui deriva o meu receio. Quem sabe se o engenheiro portuguez, francez ou quem quer que seja, encarregado de estudar estas obras, não seguirá, e muito resoavelmente na apparencia, aquelle projecto, um dos mais completos, e que, áparte os seus defeitos, honraria qualquer engenheiro, que o assignasse? (Apoiados.)
Vejâmos agora, para terminar com este assumpto, qual é o unico argumento que a commissão de 1883 adduz em favor da doca de fluctuação.
Chamo a attenção da camara para este ponto.
«Como vimos, escreve a commissão no seu relatorio, considera-se como indispensavel 1 metro corrente de caes para 400 toneladas de movimento de arqueação, entradas e saídas sommadas: ora, tendo todo o nosso porto em 1883 a tonelagem total de 3.615:167 toneladas, seriam necessarios 9:033 metros de caes para lhes satisfazer, faltando-nos, portanto, 3:033 metros de caes acostaveis, os quaes se obtêem por meio de docas e bacias no interior do caes marginal, como veremos.
«E note-se que este computo é muito pequeno, pois os transatlanticos ou navios de escala, que decarreguem poucas mercadorias e apenas recebem c«mantimentos, objectos de grande velocidade e malas de correio, precisam de grandes espaços para acostarem, não só pelo seu grande comprimento, mas pela necessidade de lhes deixar á pôpa e prôa campo para poderem manobrar.
«A tonelagem de saída e entrada d'estes navios foi proximamente de um terço do movimento total, ou 1.300:000 toneladas, e como ha dias em que se accumulam seis d'elles nos ancoradouros do nosso porto, será necessario reservar-lhes 2 Kilometros, dando 300 metros para cada um; quer dizer, só o movimento de escala precisaria de 2:000 metros de caes marginal acostavel, ou proximamente toda a extensão disponivel desde o Bem Successo até ao caneiro de Alcantara; sendo necessario, portanto, juntar mais esta extensão ao comprimento dos caes nas docas.»
Mais adiante continua a commissão: «quando tratámos da extensão do caes acostavel, que ficava livre á navegação, vimos que faltavam 3:033 metros para que houvesse 1 metro de caes para 400 toneladas de arqueação entrada e saída; mas como demos quasi 1 kilometro a mais para a navegação de escala, segue-se que nos faltam 4:000 me-