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SESSÃO DE 9 DE JULHO DE 1885 3011

§ 1.°, e que ao artigo se acrescente «sendo auxiliado n'estas funcções por um coadjutor, incumbidos alternadamente do serviço da missão religiosa na zona da sua parochia. Este serviço depende da determinação do prelado da diocese.»
Não era meu proposito entrar n'este debate circumstanciadamente, e não o era, porque conheço a magnitude do assumpto, que é para mim completamente alheio, no que toca e se refere a administração colonial, e exige conhecimentos, que não tenho, porque a orientação dos meus estudos não é esta; mas encontro disposições taes no projecto, que não me agradam, e, portanto, devo dizer ácerca d'elle o que sinto e o que penso.
Circumstancias, porém, ha, que me obrigavam, ainda que não tivesse tenção de expor rapidamente a minha opinião sobre o assumpto, a pedir a palavra e a entrar no debate, e essas circumstancias são as que resultaram de uma proposição aventada n'esta casa pelo meu amigo o sr. Azevedo Castello Branco na sessão nocturna, em que teve principio o debate ácerca d'este projecto.
Eu vou ler á camara as palavras, que s. exa. proferiu, e que me servirão de base para eu fazer considerações geraes e especiaes ácerca do assumpto, que é questão completamente grave, séria e digna da attenção dos poderes publicos.
Disse s. exa. fallando das missões religiosas no ultramar:
«As missões nada valem nem produzem, porque a intelligencia do preto não se presta a comprehender a religião.»
Se eu não ouvisse, se não prestasse attenção ao discurso do illustre deputado, não acreditaria que no parlamento do meu paiz se proferira uma tal proposição! Se não ouvisse, affirmaria convicto que as palavras do illustre deputado, e a idéa que ellas significavam, não podiam ser as que realmente soltára no parlamento de Portugal, que tem por principal de suas glorias, de suas tradições a missão religiosa nos paizes ultramarinos, pois que, onde outrora parava a audacia dos soldados de Albuquerque e do Gama, começava a humilde mas intrepida peregrinação do missionario, que não temia a morte, porque tinha a fé, que fortalece a vontade, e tinha a sciencia, que dá ao que a possue o prestigio supremo.
Ao ouvir tal proposição proferida do alto d'aquella tribuna senti o coração apertado como por cinta de ferro, e na minha intelligencia se agruparam factos, que bem demonstram a importancia do que se amesquinhava, factos que bem apregoam ser a missão religiosa um dos poucos factores, e o mais importante da civilisação e do progresso.
Ao avançar-se similhante principio, assim tão absolutamente affirmado por aquelle nosso intelligente collega, julguei eu, que foi sua intenção protestar solemnemente contra o procedimento, que nas questões coloniaes têem tido as nações mais civilisadas da Europa, como a Allemanha, a Inglaterra, a Italia, a Hespanha e a França, e julguei, digo-o francamente, que aquella proposição era uma heresia social, era o esquecimento da nossa historia patria, o desprezo das glorias, que se prendem á cruz, que hasteada n'aquellas remotas plagas chamava á civilisação pelo Evangelho tantos milhões de almas, que são cidadãos pacificos, e desde este momento não podia deixar de protestar pela minha parte e solemnemente contra esta affirmativa, e ir a fonte insuspeita, a essas nações em muitas das quaes não se encontra, o culto catholico, que eu professo, buscar testemunhos insuspeitos, que convencessem a camara e o illustre deputado, de que realmente era uma heresia social, uma insurreição menos justa o que viera affirmar aqui, onde as glorias da patria se não devem esquecer, antes tornar patentes, as glorias da patria, que paiz nenhum tem iguaes, da patria, a quem devemos amor, porque é ella a terra sagrada, d'onde nos vem o sangue, que gira em nossas veias, o templo sagrado, onde se perdeu a primeira oração, que a nossa alma elevou até Deus, e onde se perderá tambem o ultimo suspiro saído do nosso peito; da patria, digo, cuja historia é a nossa propria historia, cuja honra é a nossa propria honra. (Apoiados.)
Essas nações, a que me refiro, e que vão na vanguarda da administração colonial, não lerão sem espanto o que os annaes parlamentares do meu paiz consignarem na sessão nocturna, em que aquella proposição foi proferida.
Passemos, porém, adiante.
Quaes são essas testemunhas insuspeitas, a que me refiro?
Uma auctoridade insuspeita, um notavel escriptor allemão, do qual dá testemunho o mais louvavel um distincto membro d'esta casa, o sr. Consiglieri Pedreso, affirma terminantemente a vantagem das missões religioso-catholicas, pois que Deiitzsch confessa que «a influencia, que a missão protestante no sentido mais amplo alcança nas Indias orientaes, comparada com o dominio ali obtido pela igreja catholica, é realmente assás mesquinho.» Hoffmann declara na mesma ordem de idéas e no sentido de ligar á missão religiosa toda a importancia «que parece que a igreja catholica, quer no dominio das missões, quer na historia da Europa, tem por tarefa quebrar as resistencias oppostas pelas nações ,selvagens contra o Evangelho, conseguindo-o por meio do seu ardentissimo zêlo de conversão, e firmissima organisação, devendo por estes meios abrir novos horisontes ao derramamento da palavra divina».
Dois importantes vultos da Prussia, distinctos pela sua illustração, zêlo e talento, o tenente Werner e o capellão Kreyher, na expedição prussiana, que fizeram á India, ao Japão, á China e a Sião, fallando das missões protestantes por insufficientes, confessam toda a utilidade das missões catholicas. E acrescenta aquelle official do exercito prussiano «que os missionarios catholicos procuram convencer os seus discipulos da perfeição da religião christã, mostrando assim que o christianismo e a civilisação caminham a par e inseparadamente. E é este no meu entender, diz elle, o unico caminho recto». E a pag. 124 do seu livro A expedição prussiana á China, ao Japão, etc., diz: «O verdadeiro zêlo apostolico, o sacrificio heroico e a intelligente direcção dos indigenas só se encontra entre os missionarios catholicos».
Note a camara que é um protestante, inimigo intransigente da igreja catholica, que affirma que os missionarios catholicos são os únicos capazes de dar uma direcção intelligente aos indigenas na Africa.
Mas ha mais ainda que oppôr.
Gotz, allemão, escriptor notavel, na sua obra Viagem em torno do mundo, diz a pag. 343 o 346 : Os missionarios catholicos, com sacrificio pessoal, penetram no interior dos povos idolatras, assimilam-se com o povo, no meio do qual querem operar, e estabelecem um germen de conversão para esses povos; e por isso, quando, pelo inverso, encontro um missionario evangelico commodamente estabelecido, confesso que me cubro de vergonha».
Cobre-se de vergonha, e sabe a camara porque?
Porque os encontra completamente descurando os negocios, para que foram para ali enviados. Porque o seu fim unico é satisfazer interesses temporaes, porque os não afervora o zêlo da causa, que se dizem defender. E é por isso que o Madras Times(Chilianeum pag. 439) diz: «Encontrâmos que os resultados tirados pelos missionarios catholicos são espantosos nos paizes idolatras. Se investigarmos a causa, achâmos que os padres catholicos em regra são homens praticos e energicos, que não só fundam missões, mas possuem uma grande força de convicções, e isto de modo que conseguem conversões que aliás seriam difficeis. Estes padres não abandonam com frequencia as estações, onde exercem o seu ministério».
O Times quiz tambem por sua parte invalidar o mau juizo, que possa fazer-se do missionario catholico, e como que prevendo, que alguém houvesse, que com ou sem reflexão, de
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