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este enthusiasmo com o mais solemne triunfo da bandeira portugueza, que foi içada em todas as cabanas daquelles chefes, incluindo a do mambuco, preferindo-a á bandeira ingleza, que para aquelle mesmo fim havia sido ampla, e profusamente espalhada.

É pois necessario que o sr. ministro da marinha decida quanto antes pela diplomacia uma questão, que tão favoravel se apresenta hoje para Portugal por palie do, naturaes do Ambriz e Cabinda. E é nas vistas de auxiliar o sr. ministro nessas suas negociações, que eu tomo a liberdade de offerecer á consideração de s. ex.ª as observações em que vou entrar, se as julgar dignas da honra a que as proponho.

Parece-me de todos sabido, que a minha posição nesta camara me não dá por certo, esperanças de ser politica e officiosamente consultado pelos srs. ministros, tanto sobre este, como sobre outros pontos de interesse publico. Conseguintemente parece-me, que se me não deve levar a mal o mostrar agora, no meio deste isolamento politico, em que de facto me acho collocado, um certo zelo patriotico, que, como portuguez tenho pelas cousas deste paiz, subministrando, ou desejando subministrar no actual governo todos os esclarecimentos, que por ventura possa ter collegido sobre este objecto, na certeza de que isto não é uni serviço pessoal, feito aos srs. ministros; mas sim um serviço feito ao paiz. E este um dos trabalhos, a que me entreguei durante o tempo que exerci o logar de chefe da repartição da provincia de Angola, e sempre com a confiança dos srs. ministros, que serviram na repartição da marinha por espaço de 9 annos continuos, não obstante as graves vicissitudes politicas, porque durante elles passamos, e a opinião arreigada que havia, de que era, pelo menos, para muitos delles, adverso á sua politica. Se esta confiança me honra, ella não é menos honrosa para os dictos srs. ministros, porque em fim, convencidos, e certamente muito mal, de que lhes podia ser util e no paiz, cujos destinos a Soberana lhes confiara, só attendiam ao bem do serviço, sem lhes embaraçar essa consideração pelas chamadas conveniencias politicas, que a tantas, e a tão consideraveis indiscrições, e até mesmo contrariedades, tem arrastado muitas das mais altas notabilidades do nosso paiz. Feliz, pois, se nas considerações que vou fazer podesse ministrar ao sr. ministro da marinha (que simultaneamente o é dos negocios estrangeiros) algum efficaz auxilio para as..tias negociações diplomaticas, auxilio que contente lhe prestarei, como um serviço que nisto faço igualmente á terra que me viu nascer, a que chamo patria com ufania.

Os dominios de Portugal no continente de Africa occidental ao sul do equador compreendiam (segundo o testimunho de varios auctores, entre os quaes figura o nosso contemporaneo José Acursio das Neves nas mas Considerações politicas e commerciaes) todo o territorio que vai desde o Cabo Lopo Gonçalves, situado em 1 gráo de latitude meridional, até Cabo Negro, situado em 16 gráos da mesma latitude. Nestes limites se achavam incluidos, como ainda hoje estão para a parte do sul de Loanda, a importante foz do Coanza, Novo-Redondo, Quicombo, Benguella e Mossamedes. Este ultimo ponto o segurou para Portugal a administração transacta, não só nas vistas de o colonisar, mas sobre tudo de o manter como portuguez, por meio do levantamento de um forte, assegurando por este modo os dominios da corôa por aquelle lado, violo que delle para o sul todo o mais territorio são extensos e desertos areaes, que nada servem para o comercio, e nada para a agricultura. Compreendiam aquelles territorios para a parte do norte de Loanda as tinas, que ainda hoje temos no Bengo, o no Dande, com a costa que se nos contesta no Ambriz, Loanda, foz do Zaire, Cabinda, e a enseada de Alvaro Martins, ou Majumba.

O mesmo Gutherie parece-me comprehender na sua geographia, debaixo da denominação de cosia de Angola, todos aquelles mesmos territorios, a começar em Cabo Lopo Gonçalves, onde existiam, ainda não ha muitos tempos, manifestos vestigios das nossas antigas fortalezas. Todos estes territorios os possuiu, pois, Portugal sem contestação alguma, desde o primeiro momento da descoberta em 1484 até ao começo da pirataria, practicada alli pelos hollandezes, e em muitas outra» partes dos dominios da corôa de Portugal, durante o tempo da nossa ominosa e funestissima escravidão á Hespanha.

Em 1648 foram os mesmos hollandezes expulsos de Loanda pelo intrepido o decidido capitão Salvador Corrêa de Sa Benevides, que igualmente os expulsou, ou fez expulsar de Benguella, da costa de Loango, da foz do Zaire, e por conseguinte da villa de Pinda, existente já dentro da mesma foz (e onde Portugal teve n'outro tempo alfandega) e finalmente de Cabinda, e de todo o mais resto da costa, onde assim mantivemos por quasi 2 seculos o nosso então inquestionavel dominio. Mas como a par de tão indisputaveis prova» de soberania as fortalezas se não mantiveram no devido pé, dando se com esta circumstancia a da successiva decadencia do nosso commercio, destes nossos descuidos se aproveitaram logo os estrangeiros, que na foz do Zaire, e nos mais pontos da cosia ao norte, e ao sul deste rio se deram em commercear por tal fórma, e tão impunemente o fizeram, que os proprios inglezes chegaram até a levantar um fortim em Cabinda, donde todavia foram expulsos em 26 de outubro de 1723, pelo capitão do mar e guerra, José de Semmêdo Maya, que destruiu o fortim, com a apprehensão de 35 peças de artilheria, e 2 navios rendidos. A não ser Cabinda um territorio portuguez, não sei que podesse ter passado este facto sem reclamação alguma por parte da Grã-Bretanha, que nenhuma me consta ter dirigido ao governo portuguez.

Este glorioso feito de anuas deu provavelmente logar a que o senhor D. João V ordenasse por alvará do mesmo anno do 1723, que se levantasse uma fortaleza no Gabão, com a expressa prohibição dos estrangeiros alli commerciarem. Tudo isto porém, foi efémero, porque de realidade só apparece confirmado pelos factos, que infelizmente hoje observámos, o mais completo despreso da metropoli, levando atraz de si o do governo geral da provincia de Angola. Continuando pois a fazer-se impunemente por contrabando o commercio estrangeiro na foz do Zaire, e nos mais pontos da cosia ao norte, e no sul deste rio, começaram a ser-nos logo em seguida contestados os nossos direitos naquelles pontos, por se não verem alli fortalezas, nem auctoridades algumas portuguezas, mas apenas algumas feitorias commerciaes de nossos compatriotas. Effectivamente naquelle tempo assim devia succeder, porque além do trafico da escravatura, para que bastava a actual provincia de Angola, todas as especulações commerciaes, e quem as emprehendia,