O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

— 32 —

Viagens de tal fórma, que a navegação se reparta com a maior igualdade por todos os officiaes de marinha.

O serviço das estações tambem se podia e tambem se devia fazer do tal fórma, que se navegasse mais do que se navega. Assim se combinarmos o servido das estações com o da navegarão, o que se for diminuindo, por exemplo, o das estações do que resulta até não se estragara saude das guarnições, consegue-se mais practica da navegação, o por consequencia melhores officiaes da marinha.

Ha outra cousa que tambem concorre para não termos melhores ou vejo alguns officiaes de marinha mais idosos, mais cançados em commissões mais activas, o vejo o officiaes de marinha novos, fortes em commissões menos activas. Um parece-me que para estas commissões menus activas, como são, por exemplo as de terra, deviam chamar-se de preferencia os que já estão mais cançados e idosos. Não vejo comtudo esta distribuição. Vi inclusivamente até officiaes de marinha feitos administradores de concelho. Estão officiaes de marinha empregados em administradores do concelho.

Eu já disse que votava por este projecto. Referindo estes factos, todo o meu fim é, como já disso, chamar a attenção do sr. ministro da marinha, para s. ex.ª ver se com effeito é exacta a descripção que eu fiz; estimarei comtudo, que pelo menos não seja tanto como acabei de descrever; porque desta fórma melhor havemos de conseguir o que tanto desejo que se obtenha, que é — o melhoramento da nossa marinha pelos nossos meios, e pelos meios, que vamos buscar aos paizes estrangeiros.

Quando se passar á discussão da especialidade, offerecerei um additamento ao artigo 1.º

O sr. Palmeirim: — (Sobro a ordem) Pedi a palavra para apresentar o seguinte parecer da commissão de fazenda (Leu o parecer sobre a proposta do governo, que estabelece a dotação de S. M. El-Rei o Senhor Dom Pedro 5.º, e da Familia Real).

Mandou-se imprimir.

O sr. Arrobas: — Como ninguem se inscreveu contra este parecer n.º 110, parece-me que é completamente tempo perdido continuar a discussão. Por isso peço a v. ex.ª consulte a camara sobre se a materia está sufficientemente discutida.

Julgou-se discutida e foi approvado o projecto na generalidade.

O sr. Santos Monteiro: — Peço que se entre na discussão da especialidade.

Assim se resolveu.

Entrou em discussão o art. 1.º

O sr. Celestino Soares: — Sr. presidente, tendo hontem apenas tomado assento na camara; e ignorando qual fosse a ordem do dia para hoje, por que a camara logo se dividiu em commissões, mal poderei tornar a palavra sobre o objecto que se discute; mas ouvindo, que o sr. deputado, que acaba de fallar, lançou um certo desfavor sobre a escóla naval, que tenho a honra de dirigir e sobre a falla de instrucção dos nossos officiaes de marinha, que ella habilita, é dever meu rectificar os factos a que s. ex.ª alludiu, e mostrar que a escóla satisfaz completamente o objecto da sua creação.

O sr. deputado disse que os nossos officiaes são pouco instruidos: enganou-se s. ex.ª Os nossos officiaes habilitados conforme a lei teem toda a instrucção theorica necessaria para o desempenho dos seus arduos devores; e se o sr. ministro propõe que elles vão servir nas marinhas estrangeiras, não é para aprenderem mais theorias: os nossos officiaes sabem quanto lhes basta, e na escóla naval se lhes ensina o que póde e devo saber o melhor homem do mar. Os nossos officiaes sabem quanto hoje se sabe nas melhores e mais acreditadas marinhas; o que lhes falla, é a disciplina dos navios de linha, a tactica e as evoluções navaes das esquadras, porque nós ha muito tempo não as lemos: nós não temos náos nem fragatas, onde este serviço, se aprende; e a disciplina e a obediencia do verdadeiro militar maritimo não se aprende a bordo de curvetas, de brigues, ou de escunas; os marinheiros desses navios armados, o a sua officialidade podem comparar-se ás guerrilhas de terra, relativamente aos corpos da primeira linha do exercito. Por isso o governo faz o que deve para completar a instrucção dos nossos officiaes de mar, ordenando que elles vão practicar a bordo dos navios de linha das nações estrangeiras que mantêem grandes esquadras em actividade. Agora precisámos destas lições por falta do náos e fragatas, pois apenas temos um navio de cada uma destas classes.

O sr. Presidente: — Observo ao sr. deputado, que agora tracta-se unicamente da dicussão na especialidade.

O Orador — Mas, sr. presidente, é verdade que ou devia dizer tudo isto na occasião do se discutir a generalidade do projecto; mas perdôe v. ex.ª; eu tinha a palavra, que me foi cortada, quando me cabia defender a escóla a que tenho a honra de pertencer; e agora espero da benevolencia da camara me permitta não deixar subsistente um certo desfavor que o sr. deputado lhe lançou.

O sr. Presidente: — Eu consulto a camara sobre se permitte que o sr. deputado continua a fazer algumas considerações, que tinham cabimento na discussão da generalidade.

A camara resolveu affirmativamente. O Orador (Continuando): — Sr. Presidente, neutro tempo não prestou a nossa marinha de mendigar instrucção a bordo das esquadras estrangeiras, por que até cs nossos officiaes é que foram servir de instructores dessas marinhas. José Sanches de Brito foi pedi lo pela imperatriz da Russia para instructor da sua marinha, o lá foi honrar o nosso paiz, lovando ás suas ordens os guardas-marinhas, Manoel Ignacio Martins Pamplona, que morreu conde do Subserra, e o marquez de Alorna, o qual depois quando regressou a Portugal, creou a legião de, tropas ligeiras, chamada a Legião de Alorna, e lhe introduziu o uso do apito para as manobras, do mesmo modo que o linho aprendido a bordo dos navios de guerra; o daqui é que se generalisou o apito nas evoluções dos corpos de caçadores: uso transmittido da marinha portugueza desse tempo.

Mós tinhamos officiaes tão distinctos que saindo do Lisboa a esquadra com a familia real para o Brazil, depois de um temporal medonho, que dispersou a nossa esquadra e a ingleza que a acompanhava, tempo tal que deitou varias peças do convez da náo Conde Henrique ao mar sem se dar por luso: vindo o almirante Sidney Smith na sua náo á falla da náo Principe Real sabor de suas altezas, e magoando-se de não lhe poder mandar um premente que lhe era destinado, por causa do máo tempo, o nosso almirante Souto Maior pediu licença ao Principe Regento para o ir buscar e receber debaixo de uma manobra, sem auxilio de escaler, a qual foi concedida; e guinando para a náo Hiberoia de Sidney Smith, disse-lhe que mandasse o presente para o láes da sua verga grande, que lá o mandaria buscar. Com effeito sem receio de comprometter a sorte dos destinos do seu paiz, e do Brasil que d: mandava, manobrando daquella maneira debaixo do tamanho temporal a tocar com os láes das vergas das duas náos um no outro, tez isso de modo com tamanha ousadia o pericia, que recebeu o presente sem a menor avaria, passando elle de láes a láes, e por cima daquelle abysmo que se abria entre uma e outra náo! Então tinhamos destes officiaes, e ainda hoje talvez os tenhamos, porém a generalidade ignora o serviço da esquadra, que differe muito, e é mais complexo do que o de um navio escoteiro. Entendo portanto que bem faz o governo em pedir a camara esta auctorisação, e o corpo legislativo em lha conceder; mas nunca debaixo do ponto de vista encarado pelo sr. deputado, que não faz justiça á escola nem avalia o que nella se aprende.

Na escola aprendo-se o que raras vezes se póde aprender no mar, o que, se se chega a aprender, é sempre por qualquer sinistro, e do qual todos fogem. Sabe a camara o que é vestir ou despir um mastro? Pois esta faina só se faz a bordo no porto, pela mestrança do arsenal, ou depois de sair a barra quando um navio desarvora; e ha homens do mar, ha officiaes velhos, que nunca viram um desarvoramento dos mastros reaes.

Ora esta faina faz-se todos os seis mezes no modêlo da companhia dos guardas marinhas; o mastro despede-se e veste-se, tira-se-lhe o cesto de gavea, os curvatões,