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SESSÃO N.° 1 DE 8 DE JANEIRO DE 1896 13

dade e o fogo devastador das Kropatchek e das peças de fogo rapido juncou de cadaveres o campo e susteve a arremettida dos vátuas, que com tanto impeto tinham investido que muitos guerreiros vieram morrer apenas a quarenta passos da frente das nossas tropas! Em menos de tres quartos de hora, os guerreiros até ali invenciveis, que contavam entre os seus regimentos, um que se intitulava "os que não viram costas", fugiam desalentados.

Esta memoravel acção, todos estes heróicos feitos, sr. presidente, não podiam deixar de commover, como commoveram, toda a nação portugueza, que, tendo um passado tão glorioso, póde agora esperar com confiança um futuro digno d'esse passado.

E agora, sr. presidente, não posso deixar de me referir elogiosamente ao sr. ministro da guerra pela maneira acertada e energica com que tem sabido exaltar o prestigio e manter a disciplina do exercito.

Não são menos dignos de louvor todos os que n'este periodo tão melindroso têem gerido a pasta da marinha, que se acha agora a cargo de um dos homens mais esperançosos da moderna, geração. Os officiaes da marinha de guerra rivalisaram em valor e dedicação com os seus camaradas do exercito de terra.

Têem igualmente direito á gratidão nacional todos os funccionarios que pelo dever dos seus cargos collaboraram zelosamente na organisação das expedições que ultimamente têem partido para o ultramar, e todos os que denodadamente as dirigem, entre os quaes se conta um membro da familia real, um principe da dynastia que fundou a nacionalidade portugueza, que lhe reconquistou a independencia e á qual está ligada a nossa existencia entre as nações. Não ouso mencionar outros nomes, só não posso calar o do valente capitão Mousinho que coroou por um acto de inaudito arrojo uma serie gloriosa de feitos de armas, dignos dos tempos heróicos da nossa nacionalidade, e demonstrou praticamente quão completa e decisiva foi a victoria de Coolella.

Resta-me sómente dizer, e é superfluo declaral-o, que a proposta que v. exa. apresentou é d'aquellas que se votam por acclamação. N'este ponto não póde haver dissensões entre os portuguezes, e muito menos entre os dignos pares do reino. (Apoiados geraes.)

Vozes: - Muito bem.

O sr. Jeronymo da Cunha Pimentel: - Sr. presidente, permitta-me v. exa. e permitta-me a camara que eu, tomando ainda ha poucos momentos novamente assento nesta casa, onde agora me trouxe a honrosa nomeação regia que recebi, inicie a minha nova vida parlamentar associando-me com todo o meu enthusiasmo a uma manifestação em que vae o sentir da nação inteira. (Apoiados.)

Este enthusiasmo é em mim tanto mais sincero, mais ardente, mais vivido, quanto, a despeito do meu temperamento naturalmente frio, e do meu genio profundamente concentrado, elle irrompe espontaneamente, impulsionado pelo mais elevado e grandioso de todos os sentimentos que vibram na alma civica: o amor da patria. Sentimento que abrange, que comprehende, que devora mesmo todos os outros sentimentos e que, como dizia um illustre patriota "se assimilha á lava candente, que devora tudo o que encontra, .quando o vulcão a vomita, alagando a superficie da terra".

Quem ha hoje n'esta terra de Portugal que não se sinta avassallado pelo mesmo enthusiasmo, enlevado pelo mesmo sentimento? Quem ha hoje neste berço de heroes, que avocando ao coração as passadas glorias da patria, não se sinta orgulhoso de ver hoje reverdecer os louros que outr'ora enfloraram a bandeira das quinas?

Em toda a parte, de um extremo ao outro do paia, este enthusiasmo manifesta-se fervido como palpitações anhelantes do coração da patria.

Todos conhecem os factos que ultimamente se deram alem mar, e todos sabem que o Deus dos exercitos que outrora bafejára as armas portuguezas, se dignou mais ima vez proteger, e por um modo quasi miraculoso, os nossos valentes soldados.

Lamento sinceramente que á minha palavra, sem prestigio e sem auctoridade, sem enlevo e sem eloquencia, falte até o calor, incompativel com o meu temperamento com a minha voz, para commemorar como desejava os Feitos gloriosos do nosso exercito no ultramar.

Mas não posso, nem devo sacrificar a essa deficiencia a manifestação dos meus sentimentos, que são por certo os desta camara e de todo o paiz. Vae n'isso o cumprimento de um dever que a todos impõe o amor da patria e a gratidão para com aquelles que levantaram tão alto o prestigio do nome portuguez.

As circumstancias que todos conhecem forçaram o governo, para manter o nosso dominio africano, a mandar preparar expedições que fossem castigar os regulos rebeldes, que punham em grave risco a tranquillidade d'aquellas vastas paragens.

Sem embargo dos sacrificios que isto importava para o estado das nossas finanças, e da incerteza dos resultados, que a muitos se afigurava grande, attentos os perigos e as dificuldades da empreza, o governo não hesitou.

A despeito de tudo era forçoso dar aquelle passo, que se a alguns mais pessimistas parecia aventura arriscada, outros o julgavam indispensavel para mostrar que tinhamos força para manter o nosso dominio colonial.

O governo, com uma energia que lhe faz honra e com um tino que o engrandece, não se poupou a sacrificios e envidou os seus melhores esforços para que as expedições partissem com uma rapidez desusada nas nossas cousas.

Com uma cousa contava o governo: era com o patriotismo, com a valentia e a boa vontade do nosso exercito de terra e mar. E não se enganou.

O soldado portuguez de hoje era ainda o heróico descendente daquelles valentes que arrancaram o crescente arvorado nas ameias cinzeladas das cidades mouriscas, para ali hastearem a cruz do Redemptor; que com a lança no riste e o montante afivelado no punho, cegavam louros de heroes e palmas de martyres.

Era ainda o herdeiro dos que retalharam do manto grandioso de Affonso VI de Lyão o pedaço de purpura, modesto, mas auspicioso, que lançaram aos hombros de Affonso Henriques, como apanagio da realeza, que lhe outorgaram.

Era ainda o representante dos que achando depois limitado o berço em que os arrolaram os brados guerreiros do grande homem, que os fizera nação, se estenderam com um arrojo inaudito das orlas extremas do occidente aos mais remotos confins da Asia; que fizeram espumar de raiva, diante da sua ousadia, o oceano submisso, a sua força, e que desde o Euphrates até ao Ganges e ao Não fizeram echoar o grito da victoria, diante do qual fugiam espavoridos os povos e as tribus que avassallavam.

Nas suas veias girava ainda o mesmo sangue, que animava os heroes, que fizeram recuar os vencedores de lena e Austerlitz.

É que o soldado portuguez conserva no seu espirito valoroso as tradições do velho soldado lusitano, e comprehende o patriotismo com aquelle ardor de fé e convencimento do proprio valor, que é o melhor estimulo das grandes audacias.

As expedições partiram, e os soldados, deixando a patria, a familia, os amigos, a vida folgada dos quarteis e tudo quanto na vida lhes podia ser mais caro, íam satisfeitos sem se arreceiarem dos perigos da guerra nem das inclemencias do clima; íam contentes, porque levavam no coração o amor da patria, e tão grande, que até lhes suffocava o sentimento da saudade!

O que lá se fez, n'essas regiões longinquas e inhospitas,, todos o sabem, e ha pouco ainda o digno par que me pre-