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SESSÃO DE 8 DE JANEIRO DE 1890 7

gem de respeito e de amisade particular a um patricio meu dos mais illustres.

Não quero deixar de acompanhar nas suas palavras sen tidas e eloquentes o meu illustre amigo, o sr. Hintze Ri- beiro, que em termos tão dignos e levantados se referiu á morte de um homem proeminente na politica portugueza Refiro-me ao sr. marquez de Tlomar meu comprovinciano.

É incontestavel que a Beira Alta, minha e sua patria tem produzido sempre homens eminentes, cujo concurso no; negocios publicos de Portugal tem sido valioso e excepcionalmente digno de benemerencia da patria, nas letras, nas armas e na politica.

Entre elle sobresáe o vulto, severo talvez, mas certamente respeitavel, do marquez de Thomar.

E tanto mais a minha voz é insuspeita, quanto é certo que não filio agora a minha sympathia na minha affinidade politica ou partidaria com o estadista illustre cuja morte deplorâmos.

Fez a sua apologia politica com traços magistraes o digno par o sr. Hintze Ribeiro, e fel a com tão eloquente confrontos e tão significativas approximações, que podia parecer filha de affininade de caracter politico, senão fora o final da sua commemoração.

Passaram os tempos das luctas a que elle se viu forçado, luctas nem sempre incruentas, para a plantação das nossas liberdades, e praza a Deus que não voltem. Não voltarão.

Em verdade, a prova da brandura dos nossos costumes, visto que é consagrada esta phrase, está em que passadas as luctas, as grandes luctas, politicas ou parlamentares, todos nós nos esquecemos das injurias e aggravos, e depois de muitas vezes sermos apunhalados em scena, na conceituosa phrase do digno par que me antecedeu, appare-cemos em convivio fraternal nos bastidores. É bom? É mau? É dos nossos costumes, e aqui o estamos provando.

Eu associo-me do intimo do alma ao sentimento de saudade manifestado pelo sr. Hintze Ribeiro pelo fallecimento do nobre marquez de Thomar, e commigo, quantos me ouvem. (Apoiados.}

Eu era ainda bastante creança na occasião em que as luctas da politica de então, do tempo do sr. marquez de Thomar, traziam agitado o paiz, e lembro-me que me associava ás ovações que se fazim aos adversarios politicos do nobre estadista cuja memoria e cujos meritos commemorámos.

Então não podia mais, fiz o que pude, e comtudo hoje venho acompanhar os que mais sentem a morte do sr. marquez de Thomar, fazendo a sua apologia funebre.

Está presente o sr. Antonio de Serpa, que não era seu partidario; está presente o sr. Bocage, que tambem seguia diverso caminho. Estão muitos dos que foram seus partidarios e todos hoje acompanham as nobres palavras do digno par, com verdadeiro sentimento de saudade que se deve á memoria do sr. marquez de Thomar. (Apoiados.}

Sr. presidente, feita esta menção funebre, quero acrescentar ainda o nome do sr. visconde de Benalcanfor, um dos nossos mais distinctos collegas e que nos deixa, alem da sua falta, uma profunda saudade.

Elle não era só um politico distincto e um elegante parlamentar, era uma illustração nas letras patrias, (Apoiados.) um caracter lhano, bom, agradabilissimo, um amigo leal e um dos mais admirados escriptores. (Apoiados.)

E não nos esqueça o sr. Lobo d'Avila, modesto, cheio de merecimentos, adquiridos, muitos d'elles, por diuturna experiencia em commissões no ultramar, onde sempre nobilitou o seu nome e honrou o seu paiz. (Apoiados.}

Vamos assistindo a este desfilar funebre dos que vão adiante de nós, para um futuro, por tenebroso desconhecido. Não podemos senão fazer votos á Providencia para que, quando nos chegar tambem a nossa vez, se lembrem de nós bondosamente, não só aquelles que applaudimos, como os que combatemos, e que continuemos com aquella brandura dos nossos costumes, que tem sempre sido o nosso apanagio.

Agora, sr. presidente, deixemos os mortos e fallemos dos vivos, e com isto, com esta phrase, vem á vossa reminiscencia o nome invocado pelo digno par o sr. Hintze Ribeiro, o do nobre marquez de Pombal "enterrar os mortos e cuidar dos vivos".

Sr. presidente, encontrâmo-nos n'este momento n'uma situação, que ao meu espirito se afigura gravissima; não a quero exagerar, nem esta é a occasião de dizer o que sinto e me parece a tal respeito, mas desejo ponderar a v. exa. que a camara dos dignos pares não pôde, por fórma alguma, prescindir de conversar com o governo de seu paiz. Digo a camara dos dignos pares, porque a dos senhores deputados ainda se não acha constituida, e d'este modo somos os unicos que podemos, n'este momento, tratar e discutir a administração publica e politica portugueza.

Nós somos n'este momento os unicos que podemos tratar e discutir os gravissimos negocios da politica portugueza, quer internos, quer externos, me parece.

Se eu fosse n'este momento ministro, não esperaria que um par do reino me lembrasse esta necessidade de ser preciso apresentar-me no parlamento para dar conta exacta, até onde fosse possivel, do que se estava passando com uma nação estrangeira que comnosco contende, ou com quem nós contendemos, (por ora não sei), nas possessões ultramarinas.

Eu li hontem alguns telegrammas, que me deixaram profundamente impressionado com respeito á corrente que segue este assumpto e que vejo tomar caracter bastante serio, embora o não julgue ainda perigoso.

Eu li, por exemplo, que o governo portuguez tinha recebido segunda nota comminatoria, segunda nota commi-natoria!! do governo inglez e que estava encarregado de responder a esta nota immediatamente o sr. ministro da negocios estrangeiros, que sinto não ver presente.

Esta informação não me parece curial, porque, quem está encarregado de responder, não por qualquer pessoa ou por qualquer individualidade, mas pela propria lei ás notas dos governos estrangeiros é o sr. ministro dos negocios estrangeiros.

A crer n'esta noticia assim redegida, este encargo foi entregue ao sr. ministro dos negocios estrangeiros por alguem, que não sei quem é, e é preciso que a camara o saiba.

Seriam os seus collegas? É já uma novidade, que pela sua estranheza não quero acreditar.

Mas, pois que estas cousas se dizem e se escrevem assim em jornaes ministeriaes, e sem correctivo ou explicações, entendo que era e é conveniente que o paiz tenha, com urgencia, conhecimento official de ser ou não verdade o que se diz e escreve. Outros telegrammas acompanhavam aquelle, e que tambem não deixavam de ser graves.

Um dizia que a Inglaterra pretendia trazer-nos á rasão!

Em primeiro logar devo dizer a v. exa. que tenho firme intenção n'estas questões com a Inglaterra, assim como em todas as questões em que entrem nações estrangeiras, de ter a maxima prudencia e a maxima reserva. Mas, n'este momento, não ha perigo nem inconveniencia nas minhas palavras, porque eu não estou discutindo notas do governo inglez, estou simplesmente fallando com respeito a telegrammas que não têem nada de official e aos quaes o governo póde negar absolutamente a veracidade, sem que nada isso me espante; basta-me a sua palavra, mas preciso d'ella. Emfim, este telegramma é pouco tranquillisador, por acrescentar que nos querem tomar o nosso porto de Lourenço Marques em refens.

Esta expressão, refens, ainda me deixou menos satisfeito, porque me parece que, a ser isto verdade, o que u não creio, começa para nós a situação do Egypto,que

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