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22 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

que, podendo ter uma interpretação que não estava no seu animo, trazia complicações ao nosso paiz, que convem sempre acautelar.

Mando para a mesa a minha moção.

O sr. Presidente: - Vae ler-se a proposta que o sr. Jeronymo Pimentel acaba de mandar para a mesa.

Foi lida na mesa e é do teor seguinte:

Proposta

A camara dos pares vê com satisfação que se mantem a paz e a tranquillidade na Africa meridional. = Jeronymo Pimentel.

O sr. Presidente: - Os dignos pares que admittem esta proposta, á discussão tenham a bondade de se levantar.

Foi admittida.

O sr. Conde de Tnomar: - Sr. presidente, pedi a palavra para repor as cousas no seu logar.

Lamento que tanto por parte do nobre presidente do conselho, como do sr. Jeronymo Pimentel se classificasse esta proposta como podendo melindrar interesses internacionaes. Pois que, sr. presidente, já se quer dar fóros de potencia á companhia Sul Africana?!

É essa companhia uma potencia?

É a essa companhia que ha medo de melindrar, quando um grupo de flibusteiros invade um paiz, quando o seu modo de proceder é completamente reprovado por todos os governos da Europa, quando o proprio gabinete de Saint-James condemna o procedimento do dr. Jameson?!

Sr. presidente, dizem os prudentes, não façâmos cousa alguma, porque a companhia Sul Africana é uma potencia!

Lamento, que de um homem tão illustrado e que eu ha muito respeito, como é o sr. presidente do conselho, viesse a declaração de que em assumptos internacionaes era necessario haver toda a prudencia.

De accordo, sr. presidente, mas, porventura a minha moção envolvia ou se referia a algum paiz que nos podesse crear difficuldades internacionaes?

Não, de certo.

Eu posso encarar bem ou mal uma questão, mas no caso sujeito, declaro bem alto, que a moção se refere a um bando de flibusteiros que fazem parte de uma companhia e não de um estado.

Qual é a potencia que nós vamos offender?

Que consideração é essa que a camara quer dispensar a um homem de quem o nobre presidente do conselho foi talvez uma das maiores victimas?

Que extremos são esses para com Cecil Rhodes, o homem que mais dificuldades nos creou em Africa?

Pois, tem a camara receio de offender a susceptibilidade d'este homem?

Pois, não vê a camara que os attentados commettidos por esse homem são de um gravidade tão evidente, que a propria opinião publica e honesta em Inglaterra se insurgiu contra elle, e que o governo obrigou a demittir-se, embora aquella nação ganhasse ou podesse ganhar com o resultado dos feitos por elle praticados?

Fosse qual fosse o resultado ou a vantagem que a Gran-Bretanha tirasse dos actos praticados por Cecil Rhodes, o facto é que se viu obrigada a condemnar o procedimento de Cecil Rhodes e a demittil-o. N'estas circumstancias, é que propuz a minha moção de felicitação para corresponder como era dever, á côrtezia que a presidente da republica do Transvaal usou para com El-Rei, felicitando-o pela maneira brilhante por que tinhamos concluido a campanha de Africa.

Tenho dito.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Sr. presidente, permitta-me e digno par que lhe diga que s. exa. collocou a questão n'um terreno em que eu não posso, nem devo acompanhal-o.

Longe de mim, sr. presidente, o proposito de me oppor a que esta camara preste ao presidente da republica do Transvaal um testemunho de consideração, que seja ao mesmo tempo um reconhecimento pelas felicitações que elle dirigiu ao nosso paiz.

A deferencia devida ao presidente da republica do Transvaal está no sentimento de nós todos. (Apoiados.)

Approvar ou discutir propostas que nos envolvam na apreciação de factos ou questões de caracter internacional, a que nos devemos conservar estranhos, isso é que reputo inconveniente, dada a situação de absoluta neutralidade em que nos devemos manter.

"Se o digno par quizer substituir a sua proposta por uma simples moção, em que a camara consigne o voto que faz por que se mantenha a paz e a tranquillidade na Africa meridional, a este pensamento nenhuma duvida terei em me associar. Mais longe do que isto, nem eu, nem a camara devemos ir.

Aprecie o digno par para si, como quizer; eu conheço bem as responsabilidades do meu cargo, e estas me levam a indicar o unico caminho que devemos seguir, qual o de olharmos pelos nossos proprios interesses, abstendo-nos de discussões inconvenientes, n'este momento inopportunas"

O sr. Conde de Thomar: - Agradeço ao sr. presidente do conselho o convite para modificar a minha proposta, que a camara não admittiu á discussão. Qualquer substituição que apresentasse para ser approvada pela camara, seria um acto de menos correcta cortezia para com o digno par Pimentel, cuja proposta em substituição á minha acaba de ser acceita e votada pela camara. Nada mais posso dizer.

O sr. Thomás de Carvalho: - Sr. presidente, direi apenas duas palavras, visto como de maneira alguma desejo contrariar, e menos maguar, o meu collega e amigo sr. conde de Thomar, cujas idéas, na maior parte, eu adopto e sigo.

Neste caso, porém, desejava unicamente que s. exa. me fizesse a mercê de reflectir no que vou dizer.

A proposta do digno par contem ou mais ou menos do que as palavras de El-Rei, que respondeu, não como um particular, mas como chefe da nação portugueza.

As palavras de El-Rei são exactamente as mesmas que o nosso digno collega sr. Jeronymo Pimentel acaba de consignar na sua proposta e a que tambem se referiu o nobre presidente do conselho.

Portanto, digo eu: ou a proposta do digno par sr. conde de Thomar diz mais ou diz menos. Se diz menos, não valia a pena fazel-a; se diz mais, então precisámos saber o que é, porque nós não podemos votar uma proposta que possa contrariar as palavras do chefe supremo da nação, que respondeu ao presidente da republica do Transvaal pela fórma que todos conhecemos.

Não sei se ha ou se póde haver complicações internacionaes; não me importa saber isso. O que digo é que a camara dos dignos pares, sendo, como é, uma assembléa politica, não póde nem deve dizer mais nem menos do que o chefe superior do estado, que representa a nação portugueza.

Tenho dito.

Posta a votos a proposta do digno par sr. Jeronymo Pimentel, e approvada.

ORDEM DO DIA

Eleição de um vogal para a commissão administrativa e de de dois dignos pares que, juntamente com o sr. presidente, não de redigir a resposta ao discurso da corôa.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Mando para a mesa, em nome dos meus, collegas ministros do reino, justiça e marinha, differentes