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12 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

seu campo, pelo bem do paiz, é triste, e custa-me muito ver aqui n'um d'elles as armas ensarilhadas, e fóra dos seus postos soldados tão experimentados e de tanto valor, quaesquer que sejam os motivos que para isso tenha havido, e que eu nem approvo nem censuro.

Sr. presidente, é grande o meu sentimento quando vejo baixar ao tumulo, como agora, os homens que, na posição social e politica a que os elevaram os seus talentos e os seus meritos, mais bem serviram a patria, e maiores provas deram da sua honra e do seu civismo. É, porém, tambem grande o meu sentimento quando vejo, na vida, as paixões politicas (refiro-me ás de todos os partidos), pretenderem amesquinhar, deprimir, aviltar e empregar todos os meios para inutilisar e afastar da governação publica os homens mais importantes e distinctos.

Sr. presidente, não é só nas outras nações que ha politicos, estadistas e sabios notaveis. Temol-os tambem na nossa, grande mercê de Deus.

Lá fóra, porém, consideram e respeitam os seus grandes homens, porque levantando a gloria d'elles levantam a gloria do seu paiz.

Nós cá procedemos de modo differente. Ou porque as paixões partidarias são aqui mais vivas e produzem effeitos mais violentos e arrebatados, talvez por causa do nosso temperamento meridional, ou porque, em um paiz tão pequeno, não cabem tantas ambições ao fastigio da politica e ás honras do poder, ai d'aquelles que, nos differentes partidos, se salientam mais pelos seus talentos e merecimentos politicos, move-se logo por parte dos seus adversarios uma campanha de descredito e não poucas vezes de diffamação contra elles, e até se aproveitam as difficuldades internacionaes, as infelicidades e os revezes da patria, não para nos unirmos todos na defeza d'ella e mostrarmos o nosso patriotismo, mas para aggredir os ministros, e dar por este modo força aos estrangeiros.

Nas grandes difficuldades por que tem passado e está ainda passando a Hespanha, todos os partidos, todas as classes sociaes e até o povo, unindo-se ao governo para o auxiliar, deram um exemplo de abnegação, de patriotismo e valor civico que lhe têem conquistado o respeito e a admiração de todo o mundo.

Em Portugal, quando a Inglaterra nos desrespeitou, a primeira cousa de que se tratou foi de aggredir os ministros e de os derribar do poder; e o mesmo se tem procurado sempre fazer posteriormente, salvas algumas excepções, em quasi todas as difficuldades internacionaes porque temos passado.

Alem d'isso, sr. presidente, é tal a liberdade com que entre nós se desprestigiam, se mettem á bulha e até se ridicularisam os depositarios dos poderes publicos, e vem-nos d'ahi tal falta de respeito pelo principio da auctoridade no paiz, e tal descredito perante as outras nações, que infelizmente já chega a escrever-se que precisâmos trazer de fóra uma commissão estrangeira para nos governar.

Illustre conde do Casal Ribeiro, é grande a saudade que nos deixaste, e immensa a falta que fazes n'esta casa, onde os echos da tua palavra sempre eloquente, sempre patriotica e vibrante, nos faziam recordar os tempos aureos da politica e da mocidade portugueza, que sempre generosa e altiva, e não poucas vezes inflammada por ti, sacrificava ás suas crenças e aos seus ideaes politicos tudo, tudo e até a propria vida; mas, illustre conde, não tenhas pena de ter morrido, porque te poupaste ao desgosto e á vergonha que necessariamente havias de ter com estas heresias e attentados contra a dignidade e brio da patria.

E em verdade, sr. presidente, antes Deus nos leve a todos, os que ainda tiverem sangue nas veias, honra no caracter e amor da patria no coração, do que nos conserve a vida para a arrastarmos por ahi amaldiçoados pelos nossos pães e cobertos de opprobrio e de vergonha perante as outras nações.

Mas não se apoderem de ninguem, assim como não se apoderam de mim estas fraquezas e desanimes.

Estamos acostumados desde muito a ouvir sempre dizer ás opposições «tudo está perdido, já não temos remedio nenhum»; e aos ministeriaes «tudo está bem»; e depois ás opposições quando sobem ao poder «tudo está bem»; e aos ministeriaes quando descem d'elle «tudo está mal». Mas feitos os descontos devidos ao que dizem uns e outros, ainda fica bastante, graças a Deus, para fundamentar as nossas esperanças de salvação.

Alem d'isso, podem as paixões e as represalias da politica, podem as exigencias e as necessidades da civilisação, o desejo de gosos e de prazeres e os desastres da vida affectar e enfraquecer alguns caracteres da sociedade portugueza, como tem acontecido e acontece nas outras nações e como ha de acontecer sempre e em toda a parte.

Mas assim como a arvore gigante, quando lhe cortam ou lhe seccam alguns ramos não enfraquece nem se despia, antes muitas vezes adquire mais força, do mesmo modo a alma nacional que para ahi se levanta tambem gigante nas bençãos da historia, no bronze das estatuas e na gratidão não menos duradoura dos nossos corações, não enfraquece tambem nem se despia unicamente porque algumas das suas fibras, que não affectam o todo, adoeceram moralmente e deixaram de pulsar e bater com o vigor, energia e proveito de quem está são.

E que importa isso?

Por esse reino fóra, por esta capital e por todas as nossas provincias ha ainda muitos e muitos portuguezes dignos d'este nome e da herança que receberam dos seus maiores, e que não duvidam, assim como eu, dar o seu sangue e a sua vida para a zelarem e conservarem honrada, e para a desafrontarem de tudo e de todos, quando seja necessario.

Onde quer que appareçam Gungunhanas, hão de apparecer Mousinhos de Albuquerque, Galhardos e officiaes e soldados de Coolella e Chaimite, porque ainda não se extinguiu, nem se extinguira nunca esta raça de heroes em terras portuguezas.

Illustres estadistas do meu paiz, e entre outros, duque de Loulé, Anselmo Braamcamp, Sá da Bandeira e Fontes Pereira de Mello, cuja honra e valor civico estão ainda hoje, e hão de estar sempre no nosso respeito e na nossa memoria, levantae-vos nos vossos tumulos e, com a auctoridade que eu não tenho, vinde pedir aos vossos successores nos differentes campos politicos, que se respeitem e considerem uns aos outros para decoro proprio e proveito e dignidade da politica portugueza; que não offendam uns a constituição do estado, e que não deixem outros o parlamento onde devem pedir a reparação de todas as injustiças e o desaggravo de todas as affrontas, e que todos não chamem para os cargos do estado senão a honestidade e a consciencia, estejam onde estiverem; que não sacrifiquem os dictames da justiça ás paixões da politica, e os interesses do paiz aos interesses do partido, e finalmente que não se esqueçam nunca de que descendem de tantos martyres e de tantos heroes que sellaram a honra da patria e a gloria das suas bandeiras, uns no campo da batalha cem o seu sangue, e outros com o seu bom exemplo nas luctas do parlamento e da imprensa, na inteireza e abnegação do seu caracter, e na firmeza sempre constante e inabalavel das suas crenças politicas e dos seus ardores patrioticos.

Tenho concluido.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O sr. D. Luiz da camara Leme: - Sr. presidente: sinto não ver presente o sr. ministro da marinha, porque queria perguntar a s. exa. se eram exactos os telegrammas que têem apparecido na imprensa ácerca de um facto que acaba de se dar em Lourenço Marques.

E note v. exa. que eu quero todo o rigor da lei para