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28 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Relativamente ao projecto do descanso dominical ha uma reclamação do operariado, que lhe parece se deveria satisfazer.

Manda, pois, para a mesa a renovação d'esta iniciativa.

Já que está com a palavra desejaria falar perante o Sr. Ministro das Obrai Publicas, mas como S. Exa. não está presente e o assumpto é urgente, pede a qualquer dos Srs. Ministros presentes o favor de transmittirem ao seu collega o que vae dizer á Camara.

Recebeu um folheto que, embor, anonymo, consta-lhe ter sido escripto por um homem de merecimento. O folheto intitula-se: " Brado em favor d'um monumentos.

Crê que já está preparada a picareta para atirar a terra um monumento nacional:- é o convento das Carmelitas de Aveiro, edificio que outr'ora foi o palacio dos Duques de Aveiro.

Ha uma representação dirigida a Sua Majestade El-Rei, em que os habitantes de Aveiro vêem confiadamente, perante Sua Majestade, pedir que "no seu esclarecido zelo pelos interesses economicos e moraes dos seus subdito haja por bem obstar á execução d'um projecto que corre pelo Ministerio da Obras Publicas e constituirá motivo de maior desgosto para os signatarios, se porventura for executado. Para alargamento d'uma rua, que na maior extensão tem apenas 144 metros, pretende-se demolir o convento das Carmelitas, d'esta cidade, exactamente na parte em que se encontra mais solido e mais bem conservado, e mutilando o edificio de modo a deixar o restante sem ordem nem applicação razoavel".

Na representação descreve-se o monumento, accrescentando que não será exagero calcular em 60 contos de réis a parte do convento que se presta a um aproveitamento immediato sem ca recer para isso de reparações fundamentaes.

E para que se arrasa?

Para alargar uma rua curtissima da cidade, n'um dos bairros mais tranquillos, onde o movimento é frouxo e nunca será grande, porque os bairros populosos e de trafego commercial estão por condições naturaes obrigados a outra situação.

Julga que a cidade de Aveiro teria mais vantagem em conservar aquelle edificio, do que em ter uma avenida ou praça mais larga.

Creia S. Exa. e a Camara que os estrangeiros que nos visitam não se en-thusiasmam nada com o alargamento da rua, ou que a praça tenha o nome d'este commendador ou d'aquelle conselheiro.

Preferem ver no seu logar os monumentos que demonstram o nosso alto valor historico. E o que os traz cá.

Entende por seu lado que se não devia consentir n'essa demolição sem que o Sr. Ministro das Obras Publicas consultasse o Conselho dos Monumentos Nacionaes e aguardasse uma resposta.

Por estes motivos insta com o Sr. Ministro das Obras Publicas, afim de que S. Exa. não descure o assumpto, nada mais dizendo hoje, esperando que algum dos illustres Ministros se digne communicar as suas palavras ao seu collega o Sr. Ministro das Obras Publicas.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: - As notas de renovação de iniciativa apresentadas pelo Digno Par serão remettidas ás respectivas commissões.

Está nos corredores d'esta Camara o Sr. Conselheiro Manoel Affonso de Es-pregueira, ultimamente nomeado Par do Reino. Convida a introduzirem S. Exa. n'esta sala os Dignos Pares Srs. Sebastião Telles e João de Alarcão.

(Introduzido na sala, prestou juramento e tomou assento o novo Digno Par).

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): - As considerações que o Digno Par Sr. Conde de Bertiandos acaba de fazer á Camara, sobre as de molições que se estão effectuando em Aveiro, serão communicadas por elle, orador, em resumo, ao seu collega das Obras Publicas.

O Sr. Conde de Bertiandos : - Crê que ainda não se estão fazendo as demolições, mas preparam-se para isso.

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): - E tambem não se esquecerá dizer que S. Exa. deseja que a Com missão dos Monumentos Nacionaes seja ouvida a tal respeito.

O Sr. Conde de Sabugosa: - Viu hontem n'um jornal que uma commissão se dirigira ao Sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros pedindo-lhe que nas negociações dos nossos tratados de commercio attendesse ás condições da industria corticeira, e que essa commissão tinha sido benevolamente recebida pelo Sr. Ministro. E sobre este, e ainda sobre outro assumpto que tem relação com elle, que elle, orador, pediu a palavra para fazer breves considerações.

N'uma reunião que se realizou ha poucos dias em casa do Sr. Conselheiro José Luciano de Castro, disse S. Exa. que a presente sessão legislativa, tanto n'esta como na outra Camara, devia ser principalmente uma sessão de negocios; quer isto dizer, uma sessão de utilidade para o paiz, e de pouca rhertorica. De acordo com esta indicação reprimirá o mais possivel, as suas considerações, e visto S. Exa. ter dito que a sessão havia de ser de negocios e de utilidade para o paiz, vae chamar a attenção do Governo para dois assumptos, que são altamente importantes para a economia social da nação. Um d'elles é a abundancia da producção do vinho, e o outro é a quantidade de cortiça que ha no nosso paiz cortada para vender, e que ainda não encontrou mercado.

Nota aqui dois factos que parecem paradoxaes, contradicções economicas que tantas vezes acontecem na vida dos paizes, e que em vez de serem causa de beneficios e nos trazerem vantagens, são ameaças de crise. Esses dois factos são: a melhoria dos cambios, e a abundancia de producção. Tratemos primeiro d'este ultimo. Os vinhos, de que ha dois ou tres annos a colheita não foi muito grande, mas regular, venderam-se bem, e tiveram preços remuneradores; porem desde que no anno passado a sua producção foi abundantissima, a procura não se deu, aquelle que se vendeu teve preços diminutos, e d'ahi a crise da abundancia. Os nossos vinhos só podem ter tres applicações: ou o consumo no paiz, ou a venda nos mercados estrangeiros, ou a distillação, e como as nossos mercados se abastecem com uma pequena parte da producção, este anno ficou todo .o resto nas adegas, em tal quantidade que já ouviu a um lavrador dizer que seria agora para nós uma felicidade se houvesse um mau anno vinicola. Isto, que parece uma monstruosidade, tem a sua razão de ser, porque se houver, como parece que haverá, um novo anno de abundancia de vinho, onde se ha de metter esse vinho; e se se puder guardar que applicação lhe daremos?

De que nos servirá termos vinho em abundancia?

Da mesma sorte se alguem tiver as suas arcas cheias de ouro, mas não tiver pão para comprar, de que lhe servirá o ouro? Pode morrer de fome junto das suas riquezas.

Portugal pode afogar se em vinho se não o puder vender fora.

É por isto que a elle, orador, se afigura que um anno mais de abundancia pode acarretar uma crise e muitas desgraças sociaes.

Sabe muito bem que não é facil resolver o problema, nem depende apenas da vontade do Governo.

Não se dirige ao Sr. Ministro das Obras Publicas, e sim ao Sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros.

O problema tem de ser resolvido, indirectamente, pela negociação de tratados de commercio com os paizes que