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14 DIARIO BA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

menos ter o beneficio da accusação, - queriam ser herdeiros a beneficio de inventario.

Comtudo, os srs. ministros não tomam os encargos do seu partido, nem das injurias por elle assacadas, porque se é verdade que tudo se póde dizer n'um systema liberal e de publicidade como o nosso, tambem é herdade que se póde fallar e escrever sobre tudo e sobre todos de modo que se não offenda.

Ameaçavam tudo, ameaçavam tambem a camara dos pá rés, e por isso eu dizia então ao governo: Sereis vós o marechal d'Angerau, sereis Bonaparte no XXVIII Brumario ou sereis Cromwell?! (Apoiados.)

Sr. presidente, eu digo tudo porque não sou cortezão e porque não me bandeio com os que se apoiam nos applausos e assuadas das galerias.

Entendo comtudo que se não deve atacar o soberano na sua vida particular; porque o soberano, como toda a outra gente, tambem tem a sua vida particular, e mais respeitavel ainda porque se não póde desaffrontar como outra qualquer pessoa.

Sr. presidente, eu não tenho a honra de pertencer a nenhuma das commissões d'esta camara, porque os srs. ministros tiveram a bondade de me excluir, emquanto que sr. Fontes, sabendo que eu era opposição, praticou exactamente o contrario.

O partido progressista porém não tem nada de tolerante, porque é progressista só no nome, e diz a respeito dos outros partidos tudo que lhe vem á bôca, como disse a rés peito do partido do sr. duque d'Avila,-que era um par tido que dava vontade de rir. Quem o disse foi o redactor de um jornal amigo do governo, o Commercio de Portugal.

Já que se alludiu a negocio que tem relação com a politica, e este de certo a tem, e como eu disse, fundado nos factos, e só nos factos, que não me animava a esperança em melhoramento algum d'esta ordem, por isso, secundando os votos do sr. Miguel Osorio, entendo dever exprimir as rasões que me determinam a fallar assim.

Gruizot, e este nome, se bem que não é de nenhum progressista nem de homem pertencente ao nosso paiz, creio que póde ser citado, Guizot, embora conservador e tivesse praticado erros no ministerio da monarchia de julho, escrevia na Revue des deux mondes, em julho ou agosto de 1856 um artigo sobre a caridade. "Á caridade, dizia elle, é preciso dar-se completa liberdade e ao mesmo tempo a fiscalisação administrativa."

Eram estas as idéas de mr. Guizot.

As misericordias são uma grande instituição, uma instituição verdadeiramente portugueza, e que acredita e honra o nosso antigo patriotismo e a manifestação das nossas crenças humanitarias ou de caridade. Empreguemos a palavra caridade, que ella não está ainda proscripta nem dos nossos codigos, nem dos nossos bons livros, nem dos nossos costumes.

Por isso eu digo tambem: Á caridade é preciso dar-se ioda a liberdade, mas ao mesmo tempo é preciso que as auctoridades a fiscalisem de modo que os legados que os nossos antecessores deixaram em seus testamentos para misericordias e hospitaes sejam applicados em beneficio do povo e só do povo, porque os ricos não carecem da protecção d'esses estabelecimentos.

Os homens menos abastados, os operarios cada vez mais carregados de tributos, esses que não podem fazer economias, esses, sim, precisam-n'a.

Os operarios têem sido joguete de todos os que se aproveitam d'elles nos dias da adversidade para depois os desprezarem nos dias de fortuna e gloria; mas hão de desenganar-se.

Assim como devemos dizer a verdade ao rei, devemos igualmente dizel-a ao povo.

É preciso fallar com desassombro. As misericordias têem ervido de arma politica. Tomam-se ou não se tomam contas ás administrações das misericordias e dos hospitaes, conforme servem ou deixam de servir aos interesses dos influentes eleitoraes dos governos.

Quando tive a honra de merecer a confiança do nobre duque d'Avila, sendo nomeado governador civil de Braga, não appellei para partido algum, appellei para o povo que é quem eleve merecer mais consideração da parte da auctoridade; os poderosos não a precisam, esses defendem-se a si.

O pobre que não tem caldo, o operario que não póde ter o aninho da familia nem os carinhos de alguem, e que muitas vezes se vê abandonado de todos, precisa do abrigo da caridade, e esse abrigo é o hospital.

Cumpro que se falle esta linguagem verdadeira, a linguagem que deve empregar o representante do povo, quer n'esta, quer n'outra casa do parlamento, porque nós, tanto n'esta como na outra casa do parlamento, representâmos os interesses populares.

A responsabilidade dos actos praticados nas eleições cabem quasi sempre ás auctoridades, que, para obterem votos, não põem duvida em proceder menos regularmente, dizendo depois que a representação nacional está perfeitamente representada, e que a liberdade da uma foi completamente mantida. Ora, isto não é assim, e por isso digo que não sei quando teremos eleições verdadeiramente genuinas e que sejam a expressão sincera da vontade dos povos.

Sr. presidente, penitenceiem-se os srs. ministros, e entendam que a verdade é uma só, tanto quando estão os regeneradores no poder como quando sáem.

Esta é que é a verdade. Portanto, se o governo pensa, ou tem tempo para pensar na caridade, proceda a um inquerito, como eu já tive occasião de propor quando estive administrando o districto de Braga. E o sr. visconde de S. Januario, que apesar de ser ministro, não deixou comtudo de ser meu amigo, comquanto s. exa. pertença ao partido progressista, a que eu não pertenço nem espero pertencer; s. exa., digo, a quem tenho sempre feito justiça, como desejo fazel-a a todos, e que conheço ha muitos annos como um distincto cavalheiro, sabe perfeitamente o valor dos bens pertencentes ás confrarias e misericordias que existem no districto de Braga. Eu, quando ali estive, tratei sempre de cumprir o meu dever; não quero elogios por isso.

E o sr. Braamcamp, apesar de ser meu adversario politico, veiu a esta camara, e fez-me justiça, que lhe agradeci, pelos serviços que eu tinha prestado como governador civil de Braga.

Com relação aos hospitaes, creio que o sr. marquez de Sabugosa se lembrará de uma composição que ha muitos annos se fez com o hospital de S. José. Essa composição foi de 30:000$000 réis, e foi feita em consequencia de uma denuncia.

Aqui está tambem o sr. Carlos Eugenio de Almeida, actual provedor da casa pia, filho de um digno par de quem fui amigo, e que por muitos annos exerceu aquelle cargo, que de certo sabe que eu muitas vezes aqui disse, como ligo agora, que d'este estabelecimento de beneficencia se podia tirar grande proveito, porque podia ser uma escola de artes e officios.

A este respeito farei mais largas considerações quando se tratar mais detidamente da beneficencia publica.

Os srs. ministros, excepto o da guerra, que me conhece ha pouco tempo, sabem perfeitamente que eu tenho trabalhado e lido bastante, e que, portanto, conheço o que se em feito nos outros paizes a respeito de beneficencia. E agora lembro-me, por acaso, do que se fez ha muitos annos sobre este assumpto em Vienna de Austria.

Tenho lido e trabalhado muito, porque entendo que os homens que têem assento n'esta casa, quando discutem, e guando votam, devem ter conhecimento da materia de que se trata.