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52 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

que por motivos politicos tiveram que separar-se d'elle, esses, ao recordarem o que foi aquelle homem de tanto, merecimento, tambem lhe rendem preito, como ha pouco lh'o rendeu o sr. conde do Casal Ribeiro.

Póde durante a vida, na lucta das idéas, n'aquella arena em que todos ali se debatem, pôde um sentimento de occasião fazer com que mais severamente se impugne o homem que no fundo do coração muito apreciâmos; porém desde que a vida se lhe apaga, desde que a justiça começa, não ha apotheose mais solemne, mais levantada, mais sublime do que é aquella que nasce, não das palavras, mas do sentimento, aquella emfim que se inspira nos actos do vulto que se sumiu na eternidade, e que, como Fontes, deixou após si um rasto de luz tão vivo e brilhante.

No parlamento, ainda lhe parece estar ouvindo a voz vibrante do grande estadista, quando, combatido por uns e defendido por outros, mas combatido viva e acremente, nos seus actos, nas suas medidas e até mesmo nas suas intenções, ali se levantava, e a serenidade com que replicava e a cortezia com que a todos se dirigia, podem fazer escola entre nós.

Se formos a essa escola colher exemplos de parlamentarismo, por certo que entre nós as instituições parlamentares se conservarão largo tempo.

O orador passa depois a historiar os serviços de Fontes Pereira de Mello desde 1851 para cá, terminando por asseverar que a sua palavra era o verbo ardente que arrastava as multidões, que fôra elle quem levantará o paiz do grande abatimento em que outr'ora jazia, e que, finalmente, a sua morte deixára no seio do partido regenerador um grande, senão insupprivel vacuo, porquanto aquelle extraordinario vulto, na constellação politica, representava uma estrella de primeira grandeza.

Vozes: - Muito bem.

(O discurso de s. exa. publicar-se-ha na integra, quando o haja revisto.)

O sr. Barjona de Freitas: - Sr. presidente, tambem eu não tencionava tomar a palavra n'esta occasião.

A proposta que está sobre a mesa foi assignada por todos os collegas, nos ministerios, do ante-successor de v. exa. n'essa cadeira. Tinha sido apresentada por quem devia ser, isto é, por dois dos seus mais antigos collegas, os srs. Antonio de Serpa e conde do Casal Ribeiro; e s. exas. fizeram-no por tal modo, que eu de certo me julgaria dispensado de tomar a palavra, se não visse que muitos outros dos meus collegas foram levados por uma necessidade intima do seu coração a prestar homenagem ao grande vulto, eu não entendesse tambem dever associar-me a esta manifestação, offertando tambem o meu tributo de amisade e admiração.

Eu sei bem que não são de certo as minhas palavras que podem augmentar a consideração por aquelle grande homem; sei isso perfeitamente.

Não se trata aqui de fazer a apotheose de um chefe de partido; mas podemos tratar do grande orador, tomando por base de apreciação os seus discursos.

Ouvimos muitas vezes esse grande orador, e se os seus discursos não eram, como muitos outros, brilhantes pelas flores de rhetorica, tinham, pelo menos, o grande valor de sempre convencer.

Sr. presidente, podemos tambem tratar do eminente estadista, porque os estadistas e os oradores não são d'este ou d'aquelle partido, são do paiz.

Esse estadista tinha sobre tudo a rara intuição das cousas e dos homens e o mais acrisolado amor pelas liberdades publicas!

Sr. presidente, podemos tambem fallar d'aquelle que, tendo occupado por largos annos as cadeiras do poder, desde 1851 até 1886, morreu cercado da estima e consideração de todos os seus amigos e do respeito dos seus adversarios.

Raras vezes acontecem simultaneamente estas duas cousas! Mas, sr. presidente, tudo isto está explicado em eloquentes phrases, e eu entendo que não devo acrescentar mais nada.

Deixemos Fontes Pereira de Mello no logar que o seu merito lhe conquistou na historia, porque ainda hontem acompanhámos o seu cadaver ao cemiterio, e já hoje é um vulto tradicional, como ha de ser sempre uma gloria do paiz, uma saudade immorredoura para muitos, e um exemplo proveitoso para todos. (Apoiados.)

(O orador não reviu.)

Leu-se na mesa a proposta apresentada pelo digno par o sr. Antonio de Serpa, que é do teor seguinte:

Proposta

Propomos que o busto, em marmore, do ultimo presidente vitalicio d'esta camara, Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello, seja collocado na sala das sessões, e que a mesa da presidencia seja encarregada de executar esta deliberação.

Sala das sessões da camara dos pares, em 20 de abril de 1887. = A. de Serpa Pimentel = Conde do Casal Ribeiro = Barjona de Freitas = João de Andrade Corvo = Thomás Ribeiro = Antonio Maria do Couto Monteiro = Hintze Ribeiro = José Vicente Barbosa du Bocage = Antonio Augusto de Aguiar.

Posta á votação, foi approvada unanimemente.

O sr. Presidente: - A seguinte sessão terá logar na sexta feira, 22 do corrente, a ordem do dia será a continuação da que estava dada, a eleição de dois dignos pares para conjunctamente com o presidente constituirem a commissão de resposta ao discurso da corôa, e a discussão de pareceres sobre a admissão de dignos pares eleitos.

Está levantada a sessão.

Eram quatro horas e meia da tarde.

Dignos pares presentes na sessão de 20 de abril de 1887

Exmos. srs. João de Andrade Corvo; marquezes, de Fronteira, de Rio Maior; condes, de Alte, de Bertiandos, de Bomfim, de Campo Bello, do Casal Ribeiro, de Castro, de Gouveia, de Paraty, de Valbom; bispo de Bethsaida; viscondes, de Arriaga, de Azarujinha, de Bivar, de Borges de Castro, de S. Januario, de Soares Franco; Aguiar, Couto Monteiro, Serpa Pimentel, Costa Lobo, Telles de Vasconcellos, Barjona de Freitas, Cau da Costa, Carlos Bento, Sequeira Pinto, Pinheiro Borges, Hintze Ribeiro, Cardoso de Albuquerque, Costa e Silva, Francisco Cunha, Margiochi, Ressano Garcia, Van Zeller, Henrique de Macedo, Melicio, Holbeche, Gusmão, Lages, Baptista de Andrade, Coelho de Mello, Castro Guimarães, Andrada Pinto, Castro, Silva Amado, Luciano de Castro, Lobo d'Avila, Ponte e Horta, José Pereira, Mexia Salema, Silvestre Ribeiro, Bocage, Camara Leme, Seixas, Villas Boas, Vaz Preto, Franzini, Osorio Cabral, Thomás de Carvalho.