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168 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

refrega tinham sido mortos dois officiaes das nossas tropas.

O sr. presidente do conselho respondeu que não tinha conhecimento d’essa facto, e eu então pedi a s. exa. que se dignasse communicar ao sr. ministro da marinha as referencias que eu acabava de fazer, e acrescentei que me congratularia se s. exa. podesse vir dizer á camara que as minhas informações eram completamente destituidas de fundamento.

Certamente negocios de outra importancia têem difficultado a presença do sr. ministro da marinha n’esta camara, para dar explicações ácerca de um assumpto que, a ser verdadeiro, me parece de alta gravidade.

Succede, porém, que em alguns jornaes de hontem, eu vi reproduzidas e ampliadas as noticias a que me referi, pois que se disse que ha effectivamente dois officiaes mortos, o sr. capitão Albuquerque, que era commandante de uma expedição, e outro official chamado Semedo.

Sr. presidente, eu desejo saber se effectivamente o facto occorreu, e o que representava aquella expedição.

Era uma expedição civilisadora, ou teria sido organisada com o fim de conjurar quaesquer decorrencias desagradaveis em Angoche?

Seria porventura necessario reforçar as tropas que nós já lá tinhamos?

Essa refrega é o resultado unico e exclusivo de um ataque do gentio, ou prende com outro acontecimento?

É certo, sr. presidente, que ha tres mexes tambem houve o que quer que fosse em Angoche, e tanto assim é, que o governo entendeu dever mandar para lá a canhoneira Tamega, que conduziu a seu bordo uma força de oitenta praças de caçadores n.° 1.

Sr. presidente, por menos confiança que nos possam merecer as informações que nós chegam d’aquellas paragens, embora, por via particular, parece me que o governo devia apressar-se a indagar se ellas eram fundadas ou infundadas, a fim de esclarecer devidamente os membros do parlamento.

Se porventura o governo até o dia em que eu vim dar contas do que me consta, não tinha a tal respeito informações, devia solicital-as immediatamente, visto que se tratava de um ataque do gentio contra as tropas nossas, ataque em que se diz terem succumbido dois officiaes nossos, e creio que, decorridos oito dias, já devia poder dizer-nos alguma cousa.

Parece-me que o governo devia ter aproveitado o tempo e pedir informações ao governador de Moçambique, a fim de estar habilitado, não só a responder ás minhas perguntas, como tambem a informar com promptidão a camara, do facto que se diz ter occorrido em Angoche.

Portanto, eu reproduzo as minhas perguntas.

Houve effectivamente ou não houve acontecimentos graves em Angoche, dos quaes resultou a morte de dois officiaes?

O que representa a expedição commandada pelo capitão Albuquerque, que se diz ter fallecido?

O que determinou, anteriormente aos successos que se diz terem occorrido, o reforço de caçadores n.° l, enviado para Angoche na canhoneira Tamega?

Aguardo a resposta do governo, e folgarei de ver que as noticias que li em alguns jornaes de hontem, noticias que não só reproduzem, mas ampliam as informações que eu tenho, são completamente destituidas de fundamento.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Ministro da Instrucção Publica (Arrojo) Pedi a palavra, sr. presidente, para dizer ao digno par que, com tristeza minha, não posso dar resposta alguma com referencia aos assumptos por s. exa. referidos, porquanto não correm pela pasta que tenho a honra de gerir.

No entanto, se não me é possivel n’este ponto satisfazer o digno par, julgo poder afirmar a s. exa. que por certo o meu collega da marinha não deixou de attender com especial cuidado a esses assumptos de tanta gravidade.

Mais devo dizer a s. exa. que, como sabe, as communicações telegraphicas com as possessões da costa oriental de Africa se achara por emquanto limitadas a Lourenço Marques e Moçambique, não sendo, portanto, de estranhar que haja muita difficuldade em obter informações officiaes de certas paragens, com a desejavel rapidez.

Em todo o caso, eu communicarei ao meu collega da marinha as observações do digno par.

Eis o que posso dizer.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Coelho de Carvalho: — Sinto, sr. presidente, que oito dias após as perguntas que n’esta casa dirigi ao governo, ouça dizer d’aquellas cadeiras que nada se sabe!

Sendo grave o assumpto, como o proprio sr. ministro acaba de confessar, porque não recorreu o governo ao telegrapho para interrogar o governador geral de Moçambique?

Diz o sr. ministro que não ha telegrapho para Angoche, e só para Lourenço Marques e Moçambique; mas, por muito distante que Angoche fique d’esta ultima possessão, desde que vieram as noticias até ao dia em que eu aqui dirigi as primeiras perguntas ao governo, o governador de Moçambique deveria ter tido tempo para se informar com exactidão do que se passava em Angoche sem ser necessario o telegrapho, e se o governo ha oito dias lhe tivesse perguntado o que havia a respeito dos boatos que circularam aqui com insistencia, senão no dia seguinte, dois, tres ou quatro dias depois, devia estar habilitado com informações officiaes.

Se assim se tivesse feito, com certeza que me não seria hoje respondido que o governo nada sabe.

O sr. Ministro da Instrucção Publica (Arroyo) (interrompendo): — Eu não disse que o governo nada sabia; e sim que eu não podia responder ao digno par, e que ignorava se o meu collega da marinha estava ou não informado dos successos por s. exa. apontados.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Coelho de Carvalho (continuando): — Pois aguardarei as explicações do sr. ministro da marinha.

No entanto, permitta me v. exa. uma observação.

Eu perguntei quaes foram os acontecimentos occorridos ha tres mezes em Angoche, que motivaram a remessa de tropas para ali.

S. exa. disse-nos que este assumpto não corre pela sua pasta; mas parece-me que, sendo s. exa. ministro da marinha na epocha em que tiveram, logar os acontecimentos aos quaes venho de referir-me, podia lembrar-se do facto que citei, e dizer se elle tem ou não relação com outros anteriores.

São estas, apenas, as observações que faço.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Ministro da Instrucção Publica (Arroyo): — Tenho simplesmente a dizer que no tempo em que eu tive a honra de gerir a pasta da marinha nenhum facto extraordinario succedido em Angoche chegou ao meu conhecimento, isto é, nenhum facto occorreu de natureza d’aquelles a que o digno par se referiu.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Conde da Arriaga: — Pediu a palavra para dar alguns esclarecimentos sobre o assumpto a que se referiu o digno par o sr. Coelho de Carvalho.

Não tem ouvido fallar no facto por s. exa. citado, nem leu nos jornaes nenhuma noticia a tal respeito; mas póde dizer ao digno par e a todos os seus collegas, para os tranquillisar, que, a ter-se dado qualquer circumstancia anormal, não póde ter sido de importancia.

Angoche é um pequeno porto que fica entre Quelimane e Moçambique e nunca fui occupado pelos portuguezes.

Modernamente é que se mandou para ali um governador; mas para o pôr a coberto de qualquer insurreição da