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SESSÃO N.° 6 DE 19 BE JANEIRO DE 1892 3

Seria triste que no estado actual das cousas fosse ainda este governo uma decepção: isso importaria o mesmo que juntar a um desastre financeiro e economico a bancarota geral da nação.

Todavia estou certo de que assim não succederá e de que o governo saberá merecer o apoio da opinião publica, e de que, por isso, tambem eu o poderei acompanhar sempre com o meu voto leal. (Apoiados.)

(O orador não reviu.)

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. conde de Valbom.

O sr. Conde de Valbom: - Sr. presidente, a gravidade das circumstancias, que todos os distinctos oradores que me precederam com justa rasão invocaram, impera naturalmente sobre o meu animo para eu entender que é dever de todos os homens publicos pôr completamente de parte n'este momento toda a paixão politica e envidar todos os seus esforços para conjurar a crise que afflige o paiz. Firme n'esta convicção, não serei eu que pela minha parte trate de crear embaraços ao governo; antes, pelo contrario, procurarei, quanto em mira caiba, facilitar-lhe o desempenho da sua ardua missão.

Na resolução de todas as graves questões financeiras, economicas, internacionaes e de ordem publica lhe darei apoio.

Nos seus actos politicos espero ter de o applaudir. Escusado é dizer que tambem eu reputo dignos do maior respeito os membros do novo gabinete: todos pelo seu caracter e intelligencia, e muitos pelos seus serviços.

Portanto considero todo o gabinete digno da confiança publica. Faço votos para que a esperança lisonjeira que em relação ao governo existe em todos os animos se converta em uma completa realidade.

E, fazendo assim justiça a todos os srs. ministros, eu singulariso o meu prezadissimo amigo, o sr. Oliveira Martins, homem de um talento privilegiado, um coração de oiro, um bello e distincto caracter e eminentemente versado, tanto nas questões economicas, como nas financeiras, e do qual ha muito a esperar. ,-

Estou certo que elle ha de envidar os seus esforços e todas as suas faculdades, que são poderosas, para conjurar as crises que nos ameaçam, crise economica e crise financeira, porque são ellas que constituem as questões principaes, as questões de momento, que devem sobrepujar, que devem sobrelevar todas as outras.

Tambem peço que me seja permittido especialisar o meu antigo amigo, o sr. José Dias Ferreira, advogado distinctissimo, homem experiente da vida publica, dotado de faculdades robustas e muito apto para tomar a responsabilidade que pesa sobre os seus hombros, e para arcar com as difficuldades da situação critica que atravessâmos.

Estou certo de que s. exa. ha de inspirar-se nos seus deveres civicos, para guiar com o maior acerto a politica ministerial, e quelha de saber comprehender a melhor direcção do governo para a boa solução dos negocios, como exigem as altas conveniencias publicas que estão entregues ao seu superior criterio.

Estou certo, repito, que s. exa. ha de desempenhar-se brilhantemente da missão que lhe foi confiada, porque tem a auxiliai-o a confiança da corôa e a opinião publica, e digo a opinião publica, porque não vejo nas declarações apresentadas, tanto n'esta, como na outra casa do parlamento, a menor divergencia, nem mesmo vejo dissentimento importante no modo por que a imprensa recebeu o nova gabinete.

Se é critico, o momento actual, eu estou convencido de que s. exa. ha de envidar todos os esforços tendentes a salvar o paiz da crise temerosa que sobre elle impende.

Sr. presidente, permitta-me v. exa. que eu faça um voto.

Unamo-nos no pensamento commum da salvação da patria.

Tenho a convicção profundissima de que, unidos todos os esforços dos verdadeiros portuguezes, que sentem palpitar-lhes o coração na ancia de um acrysolado patriotismo, Portugal ha de sair da crise que está atravessando, como tem saido de outras igualmente temerosas.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. Antonio Candido.

O sr. Antonio Candido: - Sr. presidente, na apresentação de um novo ministerio é costume sómente fallarem os chefes dos partidos ou aquelles que por qualquer rasão se julguem interpretes de um grupo, de uma classe ou de uma opinião importante.

Evidentemente eu não estou n'este caso.

Mas a summa gravidade d'este momento leva-me a pedir a v. exa. e á camara que me permitiam deixar na memoria d'esta sessão o testemunho do sentimento que o ministerio me inspira, e expor seguida e despretenciosamente algumas considerações que presentemente me surgem.

Eu digo a v. exa. que se podesse adivinhar que a palavra me ficava para hoje, não a teria pedido.

Pensei que a inscripção se esgotasse. Custa-me realmente a perda de algum tempo, quando todo é pouco.

Digo desde já a v. exa. e á camara que tenho no actual ministerio inteira e completissima confiança.

Póde o ministerio contar n'esta casa do parlamento, unica esphera da minha acção politica, com o meu mais decidido apoio e com a mais leal e util cooperação que as minhas forças possam prestar-lhe. E, procedendo assim, cumpro o meu dever e cumpro-o, sr. presidente, com a consciencia que manda collocar-me ao lado de quem se sacrifica pelo bem publico, e com o coração que me faz querer e desejar a legitima gloria d'aquelles que pelo seu talento ou virtudes merecem respeito e acatamento. N'esta cordialissima declaração incluo todos os ministros actuaes, sem excepção.

Um, que tenho a fortuna de contar como meu amigo pessoal, tem o meu respeito a minha admiração pelo seu talento e pelos seus serviços.

Sr. presidente, eu creio que ainda se não formou em Portugal um ministerio a quem a opinião publica exigisse tanto como foi este.

As nossas questões sociaes, existentes desde muito, aggravadas de dia para dia, assumiram agora o seu periodo agudo.

Se não as resolvermos em alguns mezes, não as resolveremos nós. Isto tem-se dito muitas vezes, mas agora é mais que nunca uma absoluta verdade.

O tempo que nos resta já não é muito.

Este ministerio, trazido ao poder por uma força superior, independente e composto de homens de tão notavel merecimento e de idéas tão radicalmente profundas em relação ás praticas de administração e de politica, obriga-nos a todos, e ainda aos menos crentes, a esperar d'elle alguma cousa nova e boa.

Eu espero tudo que melhor se póde esperar n'este momento; e será grande o luto da nação se agora não se fizer finalmente o que se deve fazer.

Se muito se exige ao novo governo, é porque elle realmente muito póde, e um governo, nas condições do actual, tem, quanta força precisa para se desempenhar da sua missão, sem haja negregada coragem que lhe ponha embaraços, porque é um ministerio de salvação publica. (Muitos apoiados.)

O programma do novo ministerio que hontem aqui nos apresentou o sr. presidente do conselho de ministros, n'aquella vibrante claridade em que se gera sempre o seu pensamento e a sua eloquencia, é o mais momentoso que tem vindo ao parlamento. Mas podia deixar de vir? Não.

Esse programma não é a summula de uma escola, nem o lemma de um partido, mas o anhelito de uma nação ante os perigos que a assombram.

Sr. Presidente, ter que chamar os credores do estado