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4 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

para que elles contribuam para a regeneração financeira é duro, e duro é tambem que os vencimentos dos empregados publicos, tão desproporcionados ás necessidades da vida, sejam aggravados.

Ter-se-ha que pedir á pobreza publica do paiz novos sacrificios, quando a agricultura definha, o commercio se retrahe e a industria dificilmente caminha.

Mas é preciso e deve-se tudo á patria, quando a patria está em perigo.

Creio, sr. presidente, que a mesma gravidade do perigo ha de proporcionar o meio de o combater, e por isso digo ao meu nobre e querido amigo, o sr. Oliveira Martins, que agradeça á sua boa estrella havel-o trazido ao governo n'este momento angustioso.

Veiu era boa hora a parte do programma que diz respeito á sua futura gerencia. Se fosse apresentada mais cedo levantaria taes imprecações e doestos, que certamente não iria por diante.

Hoje não ha ninguem que não conheça que são impreteriveis para a solução da questão economica e financeira as providencias que o governo annunciou ao parlamento.

Sr. presidente, eu desejo dizer ao nobre ministro da fazenda que fique s. exa. certo de que o meu affecto e a minha fervorosa admiração por s. exa. o hão de acompanhar sempre n'esta principal prova das suas brilhantissimas faculdades.

Diz-se que os homens de letras, como politicos, como homens de administração, não offerecem muitas garantias.

Ora isto será verdade até certo ponto; sela verdade num determinado genero de homens de letras.

Certamente que para a politica ardilosa, astuciosa, ambiciosissima, a largueza de espirito de certos homens de letras não tem dado bons resultados, mas ata não é a politica de ha muito tempo, que menos póde ser a de agora.

Por isso, eu folgo de ver no actual governo as mesmas grandes faculdades com que Thomás Macaulay elevou a politica ingleza, com que Thiers e Guizot levantaram a politica da França, com que Canovas del Castillo tanto engrandeceu a politica hespanhola.

Sr. presidente, o gabinete acha-se presidido por um notavel parlamentar, por um insigne jurisconsulto, que ha muito tempo na sociedade portuguesa é um dos homens mais elevados na politica.

Está tambem nos conselhos da corôa o nobre visconde de Chancelleiros, honra e brazão d'esta camara, que é um espirito fulgentissimo, capaz da mais elevada comprehenção das cousas, e que pelos principios que sempre tem proclamado é uma segura garantia de que a resolução da questão financeira ha de encontrar em s. exa. um prestimoso auxiliar.

A pasta da marinha está confiada a um homem de provada experiencia nos negocios do ultramar, o sr. Ferreira do Amaral.

Estou certo de que s. exa. ha de acrescentar um novo capitulo á longa historia dos seus serviços publicos, de tanta utilidade para o paiz.

N'estas condições e com estes elementos creio eu que o ministerio ha de poder cumprir a sua alia missão. Tem força em si, e externamente não existem obstaculos que lhe seja impassivel vencer.

Ha de ter por certo alguns embaraços. Apparecem sempre.

A inveja ha de latir, tarde ou cedo. A intriga ha de tentar desunir, enfraquecer os srs. ministros, e é bem possivel que os interesses feridos se conjurem para os aggredir. Mas, apesar d'estas dificuldades, o ministerio tem uma grande fortaleza de animo e triumphará seguramente.

Por ultimo deixe-me v. exa. lembrar aos nobres ministros que a gratidão dos povos para com os homens que os servem politicamente, leva muito tempo á produzir-se, a manifestar-se; mas a consciencia do dever Cumprido antecipa o goso da gloria, e eu não conheço maior gloria do que a de salvar uma nação arriscada, ameaçada, de ruina imminente no seu credito, na sua dignidade moral e talvez em alguma cousa mais.

(O orador não reviu.)

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. Barros e Sá.

O sr. Barros e Sá: - Cedo da palavra.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. Thomás Ribeiro.

O sr. Thomás Ribeiro: - Depois de ouvir o discurso do meu illustre amigo que acaba de occupar a tribuna parlamentar n'esta camara, eu quasi podia dispensar-me de fazer quaesquer declarações em relação ao novo ministerio; mas o dia de hoje ainda é para dar parabens, segundo vejo. Por consequencia, consinta v. exa. que eu venha juntar-me ao cortejo de felicitações que tem acompanhado este governo desde que entrou no parlamento.

Devo dizer a v. exa. que esta estranha, extraordinaria unanimidade de sentimentos me está assustando um pouco e que, se eu me encontrasse nas cadeiras ministeriaes, teria não sei que tristeza intima de tantas alegrias externas.

Sr. presidente, conta-se (ignoro se com verdade) uma anecdota dos tempos heroicos da velha Roma e que por vezes me tem lembrado n'esta apotheose constante feita por todos os dignos pares, como hontem por todos os srs. deputados da nação portugueza. Conta-se, repito, que nos tempos heróicos do antigo imperio romano houve um homem refinado em festas, em pompas, em galanterias. Esse homem era imperador e chamava-se Nero.

Peço á camara que não queira ver em nenhum dos seus membros retratada esta personalidade historica á qual me vejo forçado n'este momento a fazer referencia. No facto não ha Ilusão a pessoas, não vae n'elle escondido nome proprio nem appellativo, é elle unica e simplesmente, é facto que vou relatar.

Um dia o excentrico imperador convidou para a sua mesa muitos dos seus antigos commensaes e tambem muitos novos.

Passou-se entre musicas e alegrias essa festa imperial da velha Roma, e ao terminar caiu na sala, onde se dansava e se cantava, uma chuva de flores em tal abundancia que os convidados morreram asphyxiados debaixo de tanta galantaria. (Riso.)

Sr, presidente, longe vá o agouro da minha prophecia, mas é certo que estremeço tanto a existencia do actual governo que me arreceio de tamanha benevolencia e de tantas flores que lhe juncam o caminho.

Se tambem passarmos da historia profana para a historia sagrada, não devem os srs. ministros esquecer que poucos dias depois do domingo de Ramos vem a sexta feira da Paixão.

Sr. presidente, eu sinto em minha consciencia ter que lançar esta nota, não de todo escura mas de cor violeta, nos aureos e roseos campos que se juncaram para a passagem do governo.

Por isso que o estimo, por isso que sou sinceramente seu amigo lhe venho trazer estes longinquos receios, não que o afflijam a elle, mas que me iam consumindo a mim.

Ha poucas dias (é preciso não deixar passar as cousas sem reparo), ha poucos dias ainda o digno par sr. José Luciano de Castro perguntava ao governo que caiu, qual era o estado da situação d'este paiz. E dizia-nos o governo transacto que todas as cousas iam, senão pelo melhor dos mundos, não de cesto pelo peior. Então não havia as grandes difficuldades, tinhamos muitas, é verdade, mas tudo se havia de vencer com facilidade. Caiu o governo que nos tinha dito que era preciso não arguir exageradas situações para não nos desacreditarmos mais no conceito dos outros paizes.

Queriamos saber o que por direito tinhamos obrigação de saber.

Caiu depois o governo e pelas suas proprias declarações