SESSÃO N.° 6 BE 19 DE JANEIRO DE 1892 5
soubemos que por tres vezes o ex-ministro da fazenda, se não tinha dado a volta ao mundo, havia obstado a que o paiz sossobrasse na bancarota.
E vem hoje, sr. presidente, dizer a esta camara o ex-ministro dos negocios estrangeiros que não nos illudâmos que ajudemos o governo, que envidemos todos os esforços, porque o momento é de perdição. (Apoiados.)
Então por que é que quando s. exas. governavam o paiz nada d'isto diziam, e vem hoje apresentar estas difficuldades quando se organisa um novo governo? Era então melhor ter menos finura e mais franqueza, ou, agora, teimais logica na prudencia de hontem alliada com a prudencia de hoje. (Apoiados.)
Tem muito que fazer o actual governo, mas tem principalmente que olhar por si e não pensar em lisonjas que lhe podem ser fataes.
O que hoje se diz devia ter-se dito hontem ou callado hoje.
Já tenho ouvido dizer que o governo não têem partido. É essa uma das suas fortunas. E eu, que não lisojeio ninguem, declaro que é ainda minha opinião que os partidos que actualmente existem n'esta paiz já não tem força nem auctoridade, nem podem fazer o que póde fazer um governo que está no poder desacompanhado de todos esses partidos.
Se o paiz póde alguma cousa, entendam-se com o paiz. Se elle está adormecido, acordem-no e digam-lhe que cumpra elle com o seu dever, que de um ponto de apoio a quem quer governar, porque sem isso não é possivel fazer-se nada. Se o paiz está acordado, convencionem com elle, porque elle tem absolutamente necessidade de um governo que diga a verdade, e que governe com a verdade. Elle tem necessidade de um governo que faça justiça e que governe com a justiça.
Eu quero todas as liberdades porque nasci liberal, de pães liberaes; e prezo-me de o ser; mas eu invoca Uma trindade á parte. A minha trindade é: - libertação, verdade e justiça. - Ha muito tempo que vivemos alheiados de tudo isto, porque tendo-se fallado muito da liberdade em prosa e verso, nunca a pobre se tornou em realidade.
oje estou contente porque se realisou uma das minhas previsões. Dou por testemunha o sr. ministro das obras publicas qne póde dizer se não o procurei uma vez e lhe fallei de uma solucção exactamente como a que hoje se apresenta.
O sr. Ministro das Obras Publicas (Conde de Chanchelleiros): - Apoiado.
O Orador: - S. exa. póde testemunhar se sim ou não eu lhe disse que estavamos chegados ao ponto de resolver-se a questão pelo modo por que agora se resolvei Mas não basta que o governo se creasse; no meu entender é preciso tambem que elle se mantenha, porque não é n'um dia nem n'um mez que se hão de curar os muitos males que devem curar-se.
Eu bem sei que o governo que está formado não ha de procurar a sua gloria na sua longevidade, porque se os homens não se medem aos palmos, tambem a idade do governo não se mede pelos mezes e pelos annos. Ha mezes que valem por muitos annos; ha horas que valem mezes; e eu estou certo de que este governo folga de viver o tempo que é preciso viver para consumar a sua obra, mas de modo nenhum quer ir alem d'isso.
Faça um partido seu, refundindo tudo o que existe, por que não ha elementos hoje bastantes para que cada um dos partidos que existem possa dar um governo.
Eu sei que isto vae levantar contra mim as animosidades de todos, mas não mendigo sympathias de nenhuma especie embora muito as deseje e a minha obrigação n'este logar é dizer o que sinto diante dos proprios partidos e tenho-o dito.
Sr. presidente, se eu pertencesse a algum grande partido, n'este momento provavelmente apresentava-me diante do actual gabinete a dizer-lhe que podia contar commigo e com todos aquelles que a minha, voz podesse chamar ou aggremiar, trazendo-lhe as suas felicitações. Infelizmente não tenho atrás de mim, nem diante, nem a meu lado nenhum grupo que queira, com essa isenção e sem attender a conveniencias, dizer o que estou dizendo; por isso é pouco o que venho offerecer.
Não quero mencionar nenhum dos nomes dos cavalheiros que estão no actual governo, não quero fazer a apologia especial deste ou d'aquelle, nem referir sympathias particulares, quero só declarar que o governo tem o meu apoio incondicional: no dia em que prevaricar virei dizer que lhe retirei todo esse apoio. Não é uma espectativa benevola, é um offerecimento de todo o serviço que possa prestar, não de favor, mas de dever, na posição em que me encontro.
Faço votos pela vida e existencia do ministerio sem acrescentar mais nada, porque sei o que elle é e o que ha de ser até ao ultimo dia da sua existencia.
sr. Presidente: - Vae ler-se um officio que acaba de chegar á mesa.
Leu-se na mesa e é do teor seguinte:
Officio do sr. ministro da justiça, pedindo a necessaria licença para que o digno par sr. Mendonça Cortez possa prestar declarações n'um processo crime no juizo de direito auxiliar do segundo districto criminal d'esta cidade.
O sr. Presidente: - Os dignos pares que permittem que o digno par o sr. João José de Mendonça Cortez vá prestar declarações ao tribunal, conforme se pede n'este officio, tenham a bondade de se levantar.
(Pausa.)
Está approvado.
Tem a palavra o sr. Antonio de Serpa.
O sr. Antonio de Serpa Pimentel: - É para mandar para a mesa o projecto de resposta ao discurso da corôa.
Leu se na mesa,
O sr. Presidente: - Vae a imprimir.
Tem a palavra o sr. João Chrysostomo.
O sr. João Chrysostomo: - Sr. presidente, n'esta occasião tão solemne, como membro d'esta camara, e em vista da posição politica que ultimamente tenho occupado, eu não podia dispensar-me de emittir a minha opinião sobre o plano governativo que se propõe seguir o actual ministerio. Gabe-me portanto o dever de fazer tambem a minha declaração, a qual é muito simples e em poucas palavras se reduz ao seguinte:
Como imposto pelas circumstancias, estou completamente de accordo com o programma apresentado pelo illustre presidente do conselho, o prestando-lhe a minha plena adhesão, aproveito este momento para prestar a devida homenagem a todos os membros que compõem o actual gabinete pelos seus altos dotes e merecimentos, como individualmente lhes tenho prestado de longa data em differentes occasiões. Faço votos para que sejam coroadas do melhor exito as suas aspirações, que me parece serem as aspirações de todo o paiz.
O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. conde de Valbom.
O sr. Conde de Valbom: - Sr. presidente, é simplesmente para responder a uma allusão que me foi feita pelo digno par sr. Thomás Ribeiro.
Disse s. exa. que nas palavras que eu tinha proferido se patenteava agora que existiam circumstancias graves, quando ainda ha pouco o governo, de que eu fazia parte, guardava silencio sobre ellas, a fim de não alarmar a opinião publica e as praças da Europa, parecendo-lhe por isso que as minhas palavras podiam concorrer para aggravar as difficuldades em que se encontra a actual situação.
Ora, eu devo dizer a s. exa. que as minhas expressões são sinceras, e que sempre opinei porque se deva fallar claro ao paiz, sendo este um dos motivos das divergencias