SESSÃO N.° 6 DE 29 DE JANEIRO DE 1896 51
Póde-se dizer que Pasteur foi um verdadeiro revolucionario da sciencia. As suas descobertas foram de tal ordem, que operaram uma verdadeira revolução em certas industrias, na medicina e na cirurgia humanas e veterinarias, e em muitos outros ramos do saber humano.
Antes de Pasteur, a causa das fermentações, por exemplo, era quasi desconhecida.
Antes dos trabalhos de Pasteur imaginava-se que a fermentação representava a acção do oxygenio sobre as materias azotadas; era a doutrina da força catalyptica.
Eram estas as idéas que preconisava o grande naturalista Pouchet, o grande contendor de Pasteur.
Foi contra estas idéas que Pasteur teve de luctar denodadamente, e, embora fossem de temer o vigor e as arremettidas dos adversarios, estes não tiveram remedio senão ceder á evidencia dos factos.
Portanto, a demonstração que resultou dos trabalhos de Pasteur, attribuindo as fermentações a seres vivos que precisavam de transformar o meio em que se encontravam, estabeleceu a verdadeira doutrina das fermentações, que podem ser uteis, como, por exemplo, a fermentação alcoolica quando transforma o mosto em vinho, ou nocivas, como as que alteram a boa constituição dos vinhos e que os fazem adoecer.
Uma grande transformação resultou ainda para um certo ramo dos conhecimentos humanos com as novas doutrinas de Pasteur. Pelos seus estudos a idéa do miasma, aquelle principio que determinava a infecção e que era de natureza desconhecida, ficou posta de lado e fixou-se a verdadeira causa das infecções que eram fermentos de effeitos nocivos, causadores de muitas alterações morbidas que até então não tinham sido verdadeiramente explicadas.
Seguindo a marcha iniciada por Pasteur, os estudos que ainda virão a fazer-se d'estes fermentos a que se deu o nome de virus, darão em resultado o conhecimento exacto da natureza de muitas doenças cujas causas são actualmente desconhecidas.
Apesar de ser grande a illustração dos membros d'esta camara, não é este o logar proprio para fazer prelecções scientificas, por isso eu não tomarei mais tempo á camara.
Com o que disse quiz apenas pôr em relevo a importancia d'aquelle sabio e benemerito que prestou tão grandes serviços á humanidade dando-lhe um importante coefficiente de conservarão e dilatação da vida; que creou e manteve muita riqueza sem comtudo se aproveitar das suas descobertas em beneficio proprio.
Calcula-se que Pasteur deu á França uma riqueza superior á indemnisação que ella teve de pagar á Allemanha por occasião da guerra de 1870.
As vaccinações dos gados, que os preservam da grande mortalidade que se dava antigamente, antes de serem conhecidas as vaccinações contra certas doenças inficiosas, deve-se aos estudos de Pasteur com respeito ás alterações causadas pelos virus nos tecidos dos seres vivos.
Não quero, como disse, tomar mais tempo á camara, e agradecendo a sua attenção, mando para a mesa a minha proposta, cuja justificação fiz nas palavras que acabo de proferir.
(Leu.)
O sr. Presidente: - V. exa. requer a urgencia da proposta?
O sr. Margiochi: - Eu submetto a minha proposta á consideração da camara, e conformo-me com a resolução que por ella for tomada.
O sr. Ministro da Justiça (Antonio d'Azevedo Castello Branco): - Pediu a palavra para declarar que em nome do governo se associava inteiramente á proposta do digno par sr. Margiochi, e que a applaudia por completo.
Não fazia uma longa apreciação dos trabalhos de Louis Pasteur por não ter competencia especial no assumpto; mas, sendo Louis Pasteur uma das mais puras e radiantes glorias do mundo scientifico moderno, a sua memoria bem merecia a homenagem que o digno par desejava que esta camara lhe prestasse.
Foi lida, considerada urgente e approvada sem discussão a seguinte:
Proposta
Proponho que a camara dos dignos pares lance na acta um voto de sentimento pelo fallecimento de Louis Pasteur, o grande bemfeitor da humanidade, e que este voto seja transmittido á familia Pasteur e ao instituto scientifico que tem o seu nome, e ao qual incumbe a missão de continuar os trabalhos do mestre extincto.
Camara dos pares, em 29 de janeiro de 1896. = O par do reino, Francisco Simões Margiochi.
O sr. Presidente: - Tendo sido approvada a proposta do digno par sr. Margiochi, será consignado na acta o voto de sentimento que s. exa. propoz, dando-se depois disso communicação, como s. exa. deseja.
Tem a palavra o digno par sr. conde de Thomar.
O sr. Conde de Thomar: - Pedi a palavra para mandar para a mesa, não uma nota de interpellação, mas um requerimento solicitando alguns documentos, que me habilitem a poder realisar, mais tarde, uma interpellação ao sr. ministro das obras publicas.
O requerimento é o seguinte:
(Leu.)
Sr. presidente, a associação portugueza dos proprietarios, de que eu faço parte, tem dirigido representações ao governo, reclamando contra os vexames feitos aos particulares e proprietarios pela companhia, a que o meu requerimento se refere.
Comquanto os diversos ministros das obras publicas a quem nos dirigimos achassem que tinhamos rasão, e que havia grande fundamento para sermos attendidos, rasões que não vem para o caso citar agora, impediram que os diversos governos attendessem a essas reclamações.
Eis o motivo por que agora, na qualidade de presidente d'aquella associação, e como par do reino, peço estes esclarecimentos, para que, logo que elles venham, eu possa realisar uma interpellação ao sr. ministro das obras publicas, a fim de liquidarmos, por uma vez, as reclamações que fazemos contra aquella poderosa companhia.
Aproveito o ensejo de estar com a palavra, para perguntar a v. exa., sr. presidente, se já foi eleita a commissão de guerra; e desde já direi o motivo por que faço esta pergunta.
Em uma das primeiras sessões tive a honra de mandar para a mesa um projecto de lei, que pela camara foi declarado urgente, para ser submettido ao parecer da commissão de guerra.
Ora, desde que foi admittida a urgencia, o projecto já não é só meu, mas de toda a camara.
Como faltei a algumas sessões, ignoro se a referida commissão foi eleita, parecendo-me, realmente, que o assumpto deve merecer a attenção da camara e da mesa, para que seja dado o respectivo parecer.
Se a commissão de guerra não está eleita, eu peço a v. exa., sr. presidente, que se proceda quanto antes a essa eleição.
Este pedido é tanto mais lógico quanto já na outra camara o governo apresentou uma proposta que tem alguma relação com o projecto que eu apresentei.
Peço, portanto, a v. exa., sr. presidente, que me diga se effectivamente a commissão de guerra já foi eleita; e se o foi, qual o motivo por que até hoje não tem apresentado parecer sobre aquelle meu projecto que foi declarado urgente.
(O orador não reviu.)
O sr. Presidente.- Tenho a informar o digno par de que se tem procedido á eleição das commissões pela ordem do regimento; e para ordem do dia de hoje está
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