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62 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

assalto a emballa, pondo em debandada mais de 3:000 gentios; tivemos 16 feridos sem gravidade. A região está socegada e tranquilla.

Por dois motivos não queria deixar de transmittir esta noticia á Camara; primeiro pela muita deferencia que lhe deve, em segundo logar porque estava certo de que o mesmo jubilo, o mesmo prazer, que se apoderou d'elle, orador, ao receber esta noticia, havia tambem de apoderar-se dos Dignos Pares, tanto mais que a nossa situação na provincia de Angola não tem sido risonha.

Mais uma vez se evidenciou reluzentemente a valentia do nosso soldado, e a dedicação e patriotismo dos nosso officiaes, e mais uma vez igualmente se revelou a coragem e heroicidade de Paes Brandão, que por varios titulos se torna credor da nossa gratidão, n'aquellas afastadas regiões. (Apoiados geraes).

O Sr. Teixeira de Sousa: - Antes de continuar na ordem de considerações que vinha fazendo na passada sessão, não podia deixar de congratular-se pela noticia que o Sr. Ministro da Marinha acabava de transmittir á Camara.

Pôde, muitas vezes, como Ministro da Marinha conhecer que não ha sacrificio que o soldado portuguez não faça para sustentar bem alto o nome da sua patria e impor o respeito á sua bandeira.

Conhece Paes Brandão e sabe quanto vale este destemido official.

Geria o orador em 1902 a pasta da Marinha quando se deu um importantissimo acontecimento de ordem publica na região do Bihé e no Bailundo.

As armas portuguezas tinham-se coberto de gloria, mas, houve um momento em que o Governo portuguez se encontrou debaixo de uma dolorosa apprehensão.

Centenares de compatriotas nossos, brancos, haviam-se refugiado na fortaleza do Bailundo, mas, cercados pelo gentio em guerra, ali se conservavam debaixo de uma ameaça constante.

Temia por elles o Governo.

Emquanto, porém, se reuniam as escassas forças em toda a parte da provincia em que havia um soldado disponivel, aquelle valente e destemido official sae do Libobo á frente de 70 soldados, percorre o caminho em sete ou oito dias debaixo do fogo do inimigo e faz levantar o cêrco ao gentio.

O acto que Paes Brandão acaba pois de praticar vem apenas trazer mais gloria á que já distinguia aquelle valoroso official.

Repetindo uma affirmação que já naquella Camara formulára, o orador declara que, apesar de homem politico, em questões coloniaes não intercala partidarismos nem sustenta ideas ou opiniões que, persistindo identidade de circumstancias, não estivesse prompto a pôr em pratica.

Nunca pode, pois, ter o intento de ser desagradavel ao Sr. Ministro da Marinha, a cuja intelligencia e qualidades de trabalho presta inteira homenagem, mas do que acaba de ouvir colhe o orador singular ensinamento a respeito do que se poderia conseguir no sentido de restabelecer o prestigio das armas portuguezas no sul de Angola.

Desde setembro de 1904 que vivemos debaixo do peso de um desgosto profundo.

Organizára-se uma expedição ao sul de Angola para conter o gentio rebelde. Essa expedição não foi, infelizmente, coroada de bom exito. Não lhe faltavam soldados, nem outros meios de conseguir a victoria.

Não toma para si o papel de accusador, mas a verdade é que não ha pessoa que, conhecendo as cousas da provincia de Angola, não affirme que profundas responsabilidades cabem ao commando da columna.

Esta questão ha de o orador tratá-la no Parlamento, para o que já pediu documentos ao Sr. Ministro da Marinha, e por isso não insiste agora no assumpto. Entretanto, quer fazer ao commandante da expedição a justiça de que elle é um official honesto, distincto, trabalhador e exemplar administrador.

Mas, quanto ao Governo e ao empenho por sua parte de averiguar os factos e apurar as responsabilidades, ha causas que, apparentemente sem importancia, não pode comtudo o orador deixa no esquecimento.

Refere-se, por exemplo, á circumstancia de estar hospedado o official syndicante na mesma casa do commandante da columna. Refere-se ainda ao facto de ter ido para a Huilla, de cujo districto era governador e ali receber o syndicante.

Isto não parece traduzir um vivo desejo da parte do Governo de apurar responsabilidades. É pelo menos a impretesão que lhe deixa.

O orador conhece bem como os factos tiveram logar e por isso é com toda a firmeza de opinião que assegura que, só por uma grande imprevidencia, á qual está ligada uma grande responsabilidade, as nossas armas soffreram o desastre de 25 de setembro.

Era numerosa a columna, ia bem abastecida, e dispunha de elementos para vencer.

Havendo no planalto de Mossamedes atiradores de primeira ordem, sobrios eminentemente conhecedores dos segredos da guerra em Africa, não sabe
o orador por que se espera para restabelecer o prestigio do nome portuguez no sul da provincia de Angola.

O Sr. Ministro da Marinha, logo que subiu ao poder, pensou em organizar uma grande expedição destinada a operar no sul de Angola. Escolheu-se até o commandante d'essa expedição, estudou-se o plano d'essa campanha e até se confeccionou o respectivo orçamento. De um momento para o outro, sem se saber por que, S. Exa. abandonou o seu proposito, tudo desappareceu e todos voltaram aos seus logares.

Não accusa por isso o Sr. Ministro da Marinha; mas não pode deixar de notar a incoherencia de ideias.

N'este ponto pensa, como aquelles que deram o seu voto, no sentido de não ser necessaria uma grande expedição, a qual seria difficilimo e dispendioso, em dinheiro e em vidas, transportar desde o areal de Mossamedes ao Humbe, através de extensos tractos de terreno desprovidos de agua e sem sombra de arvore, como são os que existem até á base da Chella.

Para reparar o desastre de 25 de setembro de 1904, tão numerosa expedição como a annunciada, era absolutamente dispensavel, pois que seriam mais que sufficientes os elementos existentes no quadro da provincia de Angola.

Entende o orador que, felizmente para nós, não temos que contender com o gentio Cuanhama.

Ai de nós se o gentio Cuanhama se puzesse em circumstancias de termos de o combater.

N'este ponto, as reservas que se impõem a quem uma vez conheceu este assumpto melindroso fazem com que nada mais deva acrescentar. Se tal succedesse, a nossa situação internacional no sul de Angola seria de extrema gravidade.

De resto, esse gentio, em muitas e variadas conjunturas, se tem mostrado affecto aos interesses portuguezes.

E quanto aos Cuamatas, o orador refere o que se passou com as forças militares da capitania-mór de Ambuellas e Ganguellas. Dizia-se que aquelle gentio passara o Cunene e ia ameaçar o planalto. Apesar d'isso, a capitania manifestou o desejo de que parte das forças podiam retirar-se, sendo sufficientes aquellas de que ficava dispondo.

O Sr. Ministro da Marinha apresentou na Camara dos Senhores Deputados uma proposta de lei, que visa á construcção do caminho de ferro de Mossamedes á base da Chella, não só para beneficio da região, mas ainda, e principalmente, para dar facilidades á futura expedição.

Por maiores que sejam os esforços do Sr. Ministro, a construcção d'aquelle caminho de ferro ha de ser morosa, e