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74 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

pria região do Bailundo, onde em 1902 e parte de 1903 tinhamos tido victorias, a desordem era manifesta, as relações com o norte estavam cortadas mais para o sul, o que se passou na região de Cassinga era a prova evidente de que, apesar dos esforços do seu illustre antecessor, os desmandos continuavam.

Actualmente a situação da ordem publica é differente: vê-se isto pelo te-legramma que já leu á Camara, com a data de 13 de abril, o qual indica melhoria de situação, o que não significa comtudo, que nós estejamos socegados e que não seja indispensavel continuar a empregar todos os esforços para manter a tranquillidade em Angola.

Á Camara deu a grata noticia de ter participado o soba dos Cuanhamas ao chefe do Humbe que queria viver na melhor harmonia comnosco, mantendo-se n'elles respeitada a nossa missão e no seu edificio hasteada a nossa bandeira.

Igual communicação fez o soba do Cuamato grande, o qual mandou declarar que fôra solicitado pelo soba do Cuamato pequeno para nos fazer guerra, mas que não accedera, porque comnosco queria viver em completa paz.

Em fevereiro ultimo, o chefe das terras da Huiga foi ao Humbe com alguns dos grandes da terra pedir que construissem uma fortaleza no seu territorio, promptificando-se a fornecer os auxiliares precisos, e offerecendo entregar-nos alguns bois quando fosse assignado o auto e bem assim alguns depois, annualmente.

Isto prova que a situação não é tão grave como a teem querido pintar.

Com effeito, de quando em quando apparecem noticias nos jornaes adrede preparadas para alarmar a opinião publica, e em regra, sem fundamento real ou com significação bem differente da que lhes é dada.

Trouxe á Camara o telegramma de 1 de maio corrente em que é transmittida a victoria de Paes Brandão: parecia que a todos devia causar jubilo.

Pois era preciso attenuar ou fazer desapparecer a impressão causada por aquella noticia feliz e, para tal fim, aproveita-se uma noticia inserta num jornal de Mossamedes, datada de 6 de abril e referente a acontecimentos occorridos em 23 de março, nos Gambos, a qual se não esqueceu de expôr na Camara dos Senhores Deputados.

A sua importancia é bem menor do que a que lhe quiseram dar, e, repete, os acontecimentos são anteriores aos telegrammas de 13 de abril e de 1 de maio, ambos de natureza a deixarem a mais grata impressão.

O telegramma vindo de Angola em 26 de março diz em referencia áquelles acontecimentos o seguinte:

Telegramma de 26 de março, do governador geral de Angola:

"Soba Gambos foi fortaleza onde deixou familia pedir auxilio contra dois irmãos e bandido Orlo que o querem deslocar, roubar, soba voltou Embala que foi atacada rebeldes indo em seu auxilio o capitão Baptista com 70 praças que os repelliu, rebeldes retiraram suas terras, tivemos um morto, sargento Abrantes, que foi sepultado, soba está fortaleza e tem seu gado proximidades, este acontecimento que ha de ser explorado tem o caracter de uma lucta entre o soba e um pretendente ao sobado e não o de hostilidade contra nós"

Na camara dos Senhores Deputado recorda-se bem de ter referido este caso, passado nos Gambos, cêrca de um mez antes de ter recebido as noticias tranquilizadoras que fizera conhecidas da Camara.

Vê-se pois que a questão foi fundamentalmente entre um soba e um pretendente ao sobado; que auxiliámos aquelle, tendo perdido um sargento, o qual não ficou insepulto como a noticia da correspondencia affirmava.

Imaginava elle, orador, que o são patriotismo devia precisamente levar a não escurecer os acontecimentos ultimos, e esses felizes, mas parece que assim não é e que se entende dever proceder-se de forma completamente diversa.

Testemunho ainda de que a nossa situação no sul de Angola não é tão má como se phantasia encontra-se no documento que lhe enviou hontem o seu querido amigo Conselheiro Villaça, e que lhe fôra entregue pelo Exmo. encarregado dos negocios da Allemanha: a missão allemã que está no Cuanhama affirma que este se encontra em amistosas disposições para comnosco.

O Sr. Teixeira de Sousa: - Sempre assim foi.

O Orador: - É que a mortandade no campo inimigo, em 25 de setembro, foi muito maior do que no nosso.

Quando se apresentam estas noticias officiaes, comprehende-se bem que não podia deixar de frisar a surpresa que lhe pausou o que os jornaes publicaram, e que pode ser util para desorientar a opinião publica, nunca para se converter em serviço feito ao paiz.

Se a situação da ordem publica não era desafogada ao entrar para o Governo, não o era tambem a situação financeira, não porque o seu illustre antecessor não empregasse todos os esforços para o conseguir, mas porque as questões de ordem publica e as questões financeiras estão muitas vezes subordinadas a circumstancias superiores á vontade dos homens que governam.

O seu illustre antecessor não podia ser superior a todos os obstaculos.

É preciso não deixar passar sem reparo a asserção do Digno Par de que elle, orador, herdara uma situação financeira desafogada. Para provar a inexactidão de um tal pretendido asserto seria preciso esquecer a situação amargurada que atravessava Angola, seria preciso esquecer, ainda que grave, a situação economica de Lourenço Marques, a qual poderia perturbar fundamente a financeira, tanto aquella pode reflectir-se n'esta.

Não foram apenas as medidas as mais valiosas, as providencias as mais acertadas e immediatas que serviram de thema á discussão do Digno Par. Serviu-lhe para critica injusta, tambem, ter elle, orador, nomeado commissões encarregadas de estudar varios problemas coloniaes.

Deve dizer, porem, que só nomeou uma commissão para o estudo d'esses problemas, commissão que, affirma-o, se desempenhou brilhantemente das funções que lhe foram commettidas.

A nomeação de uma ou mais commissões facilmente se comprehendia para poder tratar ulteriormente, com conhecimento de causa, de varias remodelações que as circumstancias aconselhassem.

O mesmo no tocante ás portarias enviadas aos governadores das provincias ultramarinas, nas quaes a remodelação de varios serviços se impõe, quer no campo judiciario, quer no militar, quer ainda no sanitario ou de fomento material.

A respeito da portaria dirigida aos governadores, disse S. Exa., n'uma das ultimas sessões, "que elle, orador, perguntara aos governadores como é que elles queriam ser governados.

As portarias não teem por fim perguntar aos governadores como devem ser governados. As portarias significam mui simplesmente que não quer fazer um trabalho theorico, um trabalho de gabinete, mas sim munir-se de todas as informações de que necessita para elaborar obra duradoura e efficaz, porquanto os governadores estão, como é natural, melhor informados e são conhecedores das necessidades locaes.

Não deseja fazer uma obra inutil ou ephemera.

As suas portarias significam portanto o acrisolado desejo que tem de deixar um trabalho util, consciencioso. E deseja ao mesmo tempo tomar o pulso ás individualidades que estão á testa da administração das nossas provincias ul-tramarinas, para saber se essas individualidades estão á altura de desempe-