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4 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

devia presidir ao Gabinete, e, se entendesse que não podia acceitar tal missão, deveria ao menos encarregar-se de uma das pastas, o que em nada diminuiria a sua autoridade e importancia; e que, ao contrario, a afirmaria, como elemento preponderante que necessariamente havia de ser nesse Ministerio.

Acrescentei que S. Exa. manifestava assim a sua dedicação e lealdade ás instituições, e demonstraria, mais uma vez, que o partido regenerador, que acabava de o eleger para chefe, não recuava perante nenhum sacrificio, quando se tratasse do bem do país e das instituições.

Não logrei, infelizmente, convencer S. Exa., apesar de termos conferenciado por largo espaço de tempo.

S. Exa. insistiu em que eu entrasse no Ministerio, invocando a minha dedicação partidaria, e affirmando-me que era um serviço que prestava ao partido regenerador e ao país.

Desde, portanto, que o Digno Par, chefe do partido regenerador, appellava para os meus sentimentos e dedicação partidaria, e dizia que a minha entrada no Governo que ia organizar-se era um serviço prestado ao país e ao partido, não hesitei em acceder ás instancias de S. Exa.

Esse meu procedimento foi, então, considerado como uma prova de lealdade ao partido e ás instituições, que procuro e procurarei sempre servir honesta e dignamente.

Disse que o exercicio do poder, na occasião em que falavamos, representava um pesado encargo e um penoso sacriticio.

Quando depois o Digno Par o Sr. Julio de Vilhena me manifestou desejos de que eu saisse do Governo, ponderei-lhe que seria de extrema gravidade abrir uma cri se naquella occasião, recordando lhe até o occorrido em 1890, epoca em que durante tantos dias o país esteve sem Governo, com grande prejuizo dos interesses nacionaes; S. Exa., porem, não se convenceu e replicou-me que eu lhe criava a situação desagradavel de ter de se entender com o illustre chefe do partido progressista.

A isso objectava eu que o entendimento com o chefe do partido progressista era sempre indispensavel, ou antes, ou depois da crise, porquanto, se não houvesse esse entendimento, o Governo de concentração indicado pelo Conselho de Estado não podia continuar ; que um Governo partidario não era viavel pela simples consideração de que não tinha maioria, nas duas casas do Parlamento; que o Governo que, naquella occasião, estava no poder era um resultado do acordo dos chefes dos partidos; que ainda d'esse acordo tinham resultado para as Camaras circunstancias que tornavam impossivel qualquer outro Governo que não fosse de acordo com ellas.

Não logrei convencer o Digno Par, que insistia em que eu saisse da pasta da Justiça.

Disse então a S. Exa. que não queria discutir, nem discutia, o direito com que tal imposição ou exigencia me era feita, mas que, alem da minha deferencia por S. Exa., como chefe do partido a que eu pertencia, não podia pôr de parte obrigações para commigo mesmo, para com o país, para com o Presidente do Conselho e para com El-Rei.

Disse ainda a S. Exa. que, após a viagem regia, eu não pedia a minha demissão ao Augusto Chefe do Estado, sem nenhum motivo plausivel, sem outra razão que não fosse a vontade do Sr. Julio de Vilhena, que, naquella occasião, se não inspirava, a meu juizo, no que era mais util aos interesses do Estado.

Não logrou S. Exa. convencer-me, nem eu logrei convencer S. Exa.

Devo declarar a V. Exa., com toda a franqueza, porque são inteiramente francas as expressões de que me sirvo, que me contrariou profundamente esta divergencia entre mim e S. Exa. a Custava-me, era-me profundamente desagradavel esta desintelligencia que promoveria, o que eu por forma nenhuma podia desejar, o enfraquecimento do partido regenerador, e. porventura, um rompimento ou uma scisão.

Por outro lado, tambem me maguava profundamente a ideia de que os meus correligionarios e amigos, aquelles que sempre me tinham acompanhado na boa e má fortuna, pudessem suspeitar, sequer, que apenas me animava o desejo de conservar a posse do poder, e que fossem a ambição ou a vaidade que me levassem a não acceitar a indicação do Digno Par; mas todos os meus correligionarios, todos os regeneradores, me procuraram, e creio que procuraram o Digno Par Sr. Julio de Vilhena, manifestando a vontade mais decidida, o empenho mais manifesto, o proposito mais deliberado de que houvesse um acordo, de que as cousas se harmoninizassem, que se não desse um enfraquecimento das forças partidarias ou qualquer rompimento.

Em virtude d'esta manifestação e com este intuito, realizou se uma conferencia, da qual, parece-me, dei conhecimento ao Digno Par Sr. Ferreira do Amaral e ao Digno Par Sr. Julio de Vilhena, em casa do nosso amigo o Sr. Conde de Paçô-Vieira, e nessa conferencia ficou assente que eu exporia a situação do partido regenerador ao Digno Par Sr. Ferreira do Amaral, que sempre tinha declarado ene sairia do Governo, logo que algum dos chefes dos partidos lhe retirasse o seu apoio.

Combinou-se que eu diria a S. Exa. que, mantendo-se nesse proposito, seria aquella a occasião propria para o Governo apresentar a El-Rei a sua demissão, e Sua Majestade, ou confirmava a sua confiança no Governo, que assim proseguiria na sua missão, ou conviria em que fosse substituido por" quem melhor pudesse corresponder ás necessidades, e ás exigencias e circunstancias de momento.

Nesse mesmo dia, ou no seguinte, realizava-se uma reunião do Conselho de Ministros onde, por unanimidade de votos, e sem a minima discrepancia, ficou resolvido que o Sr. Ferreira do Amaral apresentasse a El-Rei a demissão collectiva do Ministerio, para que Sua Majestade, ouvido o Conselho de Estado, visto que esta alta corporação havia sido ouvida para a composição do Gabinete, e ouvidas as mais entidades que a Sua Majestade aprouvesse consultar, ou confirmasse a sua confiança ao Governo, ou fosse substituido por quem melhor o pudesse servir.

Sr. Presidente: quando foi conhecida esta deliberação do Conselho de Estado, ou quando apenas houve noticias de que ia reunir-se o Conselho de Estado, uma parte da imprensa, aquella que hoje mais ataca o actual Governo, annunciou que se ensaiava uma comedia, pois que a indicação do Conselho de Estado seria no sentido da continuação do Gabinete da presidencia do Sr. Ferreira do Amaral, conservando eu a pasta que geria.

Eu, que no dia 2 de fevereiro do anno passado prestava um relevante serviço ao meu partido, ao Rei e ao país acceitando aquella pasta, no dia 24 de dezembro era tido na conta de um homem que se deixa levar tão só por ambição e vaidade!

Aconteceu, porem, que o Conselho de Estado opinou em sentido contrario, isto é, indicou a conveniencia de ser o Ministerio exonerado, e substituido por outro tambem de concentração monarchica.

Parece que, consultadas individualmente certas entidades politicas, e entre ellas o Sr. Conselheiro Ferreira do Amaral, segundo a propria declaração de S. Exa., foram i de opinião que fosse chamado a organizar gabinete o Sr. Beirão, illustre estadista progressista.

Parece que o Sr. Conselheiro Beirão teve a generosa ideia de organizar um gabinete de concentração monarchica, mas não pode realizar o que tinha em vista, por se lhe depararem incompatibilidades irreductiveis por parte das diversas aggremiações politicas.

Depois tentou organizar um Governo partidario que, excluindo a poli-